Pra pindense num coloca defeito

Pindamonhangaba 1928 nasceu Marcos Pestana, descendente da família Marcondes. Viveu para os amigos e parentes esqueceu-se de viver a sua própria vida ou não? Sempre trabalhou sendo justo e correto em tudo e a todos.

Sabemos que o tempo não espera como não podia deixar de ser passou também para meu pai. E pior, passou dezoito anos dos quais fazendo hemodiálise, porém em seus últimos dias de vida ficou internado numa terapia intensiva ao lado de um rapaz que se recuperava de uma delicada cirurgia na cabeça e ficando com a mesma enfaixada de forma que não podia ver nada.

Em determinado momento, ele começou a conversar com meu pai, sem saber de seus problemas, sua idade, seus anseios. O único passatempo para o rapaz nessas vinte quatro horas em que papai estava consciente, era com ele prosear varias horas sobre família, emprego, passatempos, gostos.

Esgotou os assuntos e o rapaz em determinado momento perguntou a papai se ele estava perto da janela, que prontamente respondeu sim e começou a descrever ao seu rapaz todas as coisas que ele conseguia ver do lado de fora da janela.

O rapaz então viveu aquele momento pela visão de papai... Entristecia-se de um minuto para o outro, saudades, cores, sonhos e desejos. Logo o rapaz estaria recuperado e pronto para viver esta visão do lado de fora da janela.

Da janela se avistava um parque crianças brincando próximas à uma fonte que refletida criava um arco íris, olhando um pouco mais longe se via uma estradinha que cortava um sítio, retornava o olhar para o lago do parque e enxergava marrecos e garças nas margens. Um casal de namorados jogava migalhas de pão para alimentar os peixes. Parque cheio de árvores gigantes que escondiam o horizonte.

Enquanto papai descrevia todos os detalhes, o rapaz imaginava com carinho aquelas paisagens divertidas. Houve um momento que ele narrou minuciosamente como estavam vestidos e como eram os instrumentos de uma bandinha que tocava no parque.

Embora o rapaz não conseguisse ouvir a música que a banda tocava, ele conseguia imaginá-la, enquanto papai reproduzia em palavras o que se passava. E vinte quatro horas passaram, mais demorada que uma vida, mais passaram.

E na manhã seguinte a enfermeira chegou para tirar a bandagem do rapaz que vibrava de felicidade, ela tirou a última volta do curativo e os algodões que protegiam os olhos azuis do jovem, que mesmo com a visão turva e dolorida teve como desejo seu ver aquele com quem conviveu tão intensa conversa, e para sua surpresa o leito ao lado estava vazio, e indagou a enfermeira...

“Onde esta aquele homem que estava naquela cama perto da janela”.

Ela espantou-se e respondeu...

“Ele faleceu serenamente esta madrugada... Mas aqui não tem janela”.

Que surpresa para o rapaz...

“Como ele fez para descrever coisas tão lindas que via através da janela”.

“Talvez ele só quis animá-lo” Respondeu a enfermeira.

Papai sempre teve prazer em fazer os outros felizes, apesar de seus problemas, e vivia um lema...

“O dia de hoje é uma dádiva, por isso é que o chamam de presente”.

Marcos Pestana Filho

Marcos Pestana
Enviado por Marcos Pestana em 05/03/2012
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