O Encontro

Ele simplesmente corria. Não sabia para aonde exatamente, mas tinha a certeza de que iria chegar onde deveria estar. A escuridão, o suor, as árvores pelas quais passava, tudo dava a sensação de estar preso em um pesadelo que já havia vivido. A lua, escondida atrás das nuvens, iluminava debilmente seu caminho, mas seus passos continuavam se desviando de folhas e pedras espalhadas pelo chão úmido daquele lugar que parecia um bosque há muito tempo inabitado.

Antes que soubesse o porquê, Noah estava gritando o nome “Sophie”. Mas quem era Sophie? E por que ele corria e não se cansava? De alguma forma ele sabia que precisava encontrar essa tal Sophie e a estátua que vinha aparecendo em seus sonhos, só assim poderia se livrar daquele pesadelo terrivelmente familiar.

Noah corria como se fosse a sua vida que dependesse da velocidade de seus passos, passava por áreas desconhecidas, mas com a segurança de quem havia decorado um mapa inteiro do local e, antes mesmo de passar pelo último salgueiro, ele já sabia o que encontraria no centro daquele bosque.

Lá estava ela. No lugar onde deveria haver uma fonte, na verdade havia uma estátua de pedra na forma de um temível anjo sombrio e gélido, como o corpo da garotinha de aparentemente seis anos que repousava nos braços da estátua. Noah olhou com atenção para a garotinha pálida que parecia apenas dormir e num segundo ele lembrou! Naquele momento ele reconheceu sua única irmã que estava em coma. Lembrou-se do hospital, as desesperanças estampada na expressão e nas palavras do médico, lembrou do desespero da família, a falta de explicações. Então, num momento de profunda angústia, ele saíra em busca de uma solução e encontrara um anjo da própria morte, rondando o bairro, preparada para o momento de levar a pequena Sophie. A surpresa se saber sua verdadeira origem não foi maior do que a de saber que sua irmã iria morrer em breve. Num ato de extrema coragem e talvez mesmo de estupidez, Noah desafiou a própria morte e ganhou uma passagem de ida para o inferno para tentar fazer a única coisa que poderia dar a ele uma chance de vencer: Destruir a foice da morte.

_ Sophie _ Ele tentou gritar, mas sua voz saiu apenas num sussurro amedrontado.

_ Você chegou tarde, Noah Carlson.

Num piscar de olhos o anjo de pedra ganhara vida, suas asas negras batiam e sua capa voava às ordens do vento frio, agora ele deitava gentilmente a garotinha no chão coberto de relva.

_ Mas eu não vim até aqui para desistir agora! Noah falou, com a voz um pouco mais firme.

Seria impressão ou a morte sorria? Não importava, não mais. Noah reuniu toda a coragem que possuía e caminhou em direção à própria morte, desviou da irmã e prosseguiu com a maior determinação que já sentira. No momento em que ele erguia o braço, a lua caprichosa saiu de trás de uma nuvem e sua luz incidiu sobre a brilhosa e fria lâmina da foice da morte.

Maggie Paiva
Enviado por Maggie Paiva em 01/03/2012
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