Aventura na estrada
- Não demora, viu. Que seu pai não gosta de gente na noite..
- Demoro o tanto que eu quiser.
- Depois diz que não avisei!
- Qualé!
Que merda. Odeio quando me controla.
- Jorge! Vamos lá
- Já? Pensei que fosse mais tarde..
- Não quero perder nada!
- Não penso em outra coisa
- E eu, e eu. Vai ser foda!
Jorge era um amigo da antiga, conheço ele desde a segunda série. Ele me apresentou a primeira menina que fiquei. Foi demais. Não faço nenhuma aventura sem lhe convidar. Topa tudo. Já viajamos a pé até a fazenda do Café. Minha mãe estava em Salvador. Dois dias andando, quase morremos
De exaustão e fome.
- Estou com medo de fazer isso!
- Eu também tô, por isso que é bom (rindo)
Subimos a rua dos coqueiros conversando. Atravessamos a praça. Toda gente de costume já por ali.
- Olha lá o Zico!
- Disfarça, não quero que ele nos veja...
- Sabe que pensei em chamar ele?
- Tá maluco, ele não é confiável!
- Você acha?
- Acho. não confio nele desde aquela fez que entrou a gente pra seu carlito..
- Você não esqueceu ainda?
- Não dá, né, maluco.
A idéia era bem simples, a gente ia conhecer o litoral. Ir até porto seguro. Jorge já sabia dirigir. Ajuda o pai com o trator. Meu avô tem um jeep que fica na fazenda. Só temos que ir andando até lá, sei onde guarda as chaves. Tenho alguma economia guardada, pinga pinga que caia na minha mão e eu guardava. Daqui até lá deve dar uns 200 km. Quando estivermos na estrada ligaremos pra mãe, e explicaremos o que está acontecendo...
- acha que seu pai vai ficar com raiva?
- Vai querer morrer. Pode ter uma ataque cardíaco...
- E seu avô. O Jeep...
- Vai ficar preocupado, só isso. meu avô é gente boa.
- Seu pai não é?
- Eu não conheço ele direito
- E..
- Chega dessa conversa Jorge. Não quero falar disso. A gente que fugir deles e você não para de falar...
- Desculpa! como eu vou saber?
Jorge, não conseguia ficar um minuto parado. Eu via sua cabeça matutando procurando um assunto. Esperei ele encontrar...
- Escuta..
- o quê?
- Acha que ainda poderá ser amigo de Zico?
- Não tenho vontade
- É que gosto dele...
- Você pode continuar sendo amigo dele. Uma coisa não tem nada a ver com a outra...
- Mas sem você vai ficar estranho....
- Acha que foi certo o que ele fez?
- Ele pediu desculpas..
- Grande bosta, faz a merda e depois vem querer perdão...pensasse antes
- Ele disse que fez isso, porque ficou medo e sentindo culpado...
- E a coisa ficou pior. A vergonha que ele me fez passar. Meu pai me fazer voltar na casa de Carlito e devolver as correntes que roubamos. E a surra...
- Ainda bem que não teve queixa...
- Já pensou. Ir preso por causa daquele idiota...
- Eu aprendi a lição. Não quero mais roubar..
- Eu não aprendi coisa nenhuma...
No fundo eu tinha saudade de Zico. Também era meu amigo há muito tempo. Conheci quando tocava na fanfarra. Tocava trompete com ninguém. Aquilo me encantava nele. E sabia tudo de musica, tocava violão. Por isso era sempre rodeado de meninas. Resolvi fazer umas aulas com ele. Conheci sua família, que logo me convidou pra passar uns dias na fazenda deles. A partir dali nunca mais me afastei. Ele contando nossas aventuras pra todo mundo não dá. Nem quero pensar mais nisso...
- Por que está tão calado?
- Pensando numas coisas..
- No Zico?
- Ta louco !Nem penso mais nele...
- Eu penso!
- Não quero saber...
A estrada até a fazenda de meu avô estava escura. Já era bem tarde. O céu cobria todo o caminho. A lua não ajudava muito. Abri a bolsa e peguei uma laterna. O barulho de grilo e sapo deixava a noite gostosa de ouvir. Olhava pra cara de Jorge, sabia que estava com medo. Andava como se flutuasse. Mesmo no escuro via as bolotas de seu olho pra fora. aceso como outra laterna. Sinto que teremos uma ótima aventura...
- Acha que o céu tem fim?
- Que conversa de merda, Jorge!
- Puta merda, nada do que falo você gosta...
- Só fala merda. Como vou saber se o céu tem fim.
- Só queria puxar assunto...
- Então fale algo que a gente possa conversar.
Vai ser uma viagem longa.....