OS PRESENTES DE HORÁCIO...

LIVRO: NO ESCURO, EU SONHAVA...

Capítulo 12:

Os presentes de Horácio...

Na manhã do dia seguinte, Horácio foi até a cidade buscar os presente que ele tinha prometido e também remédios para o resfriado de Penélope.

- Oiii... – recebeu Penélope seu pai, transbordando de expectativa.

- Bom dia, minha princesa, aqui está o seu presente. – disse Horácio apontando para um caixa bem que estava atrás dele.

- Oh!!! – gritou de felicidade, Penélope quando viu o que estava na caixa, um lindo cachorrinho.

- Você gostou?

- Claro, pai, adorei, vou chamá-lo de Ted!!! – disse Penélope exultante.

- Que bom que você gostou, agora tenho que entregar uma surpresinha para sua irmã, aposto que ela irá adorar!!! – disse Horácio cinicamente, consigo mesmo.

Penélope e Ted amaram-se desde o primeiro instante em que seus olhos se cruzaram, ele era um cachorrinho perfeito, que ela sempre sonhou que um dia iria ter.

Ted tinha uma pelugem bem densa, mas muito fofinha e branquinha. Era o cachorro ideal para uma criança.

Penélope o levou para brincar perto da lagoa, eles brincaram durante horas, brincaram de correr umatrás do outro, a brincadeira de buscar a bolinha longe, pularam, fizeram bagunça, enfim se divertiram por um bom tempo. Que foi o suficiente para que ela esquecesse um pouco, aquilo que tinha acontecido com sua mãe, até agora, seu pai ainda não tinha falado o paradeiro dela, Penélope já estava começando a se preocupar, será que nunca mais as duas se veriam, pensava ela.

Já havia se passado muito tempo, desde que Horácio trancou sua filha, Rebeca, no quarto escuro, a isolando do mundo exterior. Mas nesse dia, Rebeca que estava deitada em seu colchão ouviu uns ruídos vindos da porta, teve um sobressalto e pulou em direção a ela, esperando que fosse alguém que viria socorrê-la daquele inferno.

- Olá, querida, como passou a noite, bem? Trouxe uma surpresinha para você... – disse Horácio zombando do estado em que estava Rebeca, jogando uma sacola em cima da cadeira de balanço, como um dono joga um osso para um cachorro se alimentar.

Quando Rebeca ousou finalmente abrir a boca para responder a provocação de seu pai, ele saiu rapidamente, trancando a porta novamente.

Rebeca foi direto até a sacola, engatinhando, pois já não tinha forças para andar, pois a carência de nutrientes que estava passando era forte demais. Com muita esperança, porém lentamente, ela desembrulhou a sacola para ver o que tinha dentro. Encontrou dois pães embrulhados muitas vezes em plásticos para conservar e uma garrafa com água mineral.

Agora, com um pouco mais de rapidez, ela ajeitou-se na cadeira e começou a saborear os pães, sem ter a consciência de economizar para o dia seguinte, caso o louco não viesse com mais.

A água já estava bem morna, quando ela esguichou sobre a cabeça e o pescoço, é claro, depois de ter saciado sua sede.

Rebeca não sabia se era devaneio seu ou se estava realmente ouvindo um ruído dentro da sacola de plástico que seu pai havia trazido, ficou tensa, não era possível que seu pai tinha aprontado mais uma. Coma ponta de um livro que estava na prateleira empoeirada ela cutucou a sacola, com um susto, ela caiu de costas juntamente com a cadeira no chão, o impacto fez suas costas ficarem doloridas e também quebrou um dos braços da cadeira, que já não estava muito boa.

Um rato.

Seu pai tinha colocado um rato junto com sua comida, propositalmente. Era um rato pequeno e cinza, mas era nojento, como todos os tipos de rato. Dando alguns gritinhos abafados pela quantidade de pão que ainda estava em sua boca, ela subiu depressa na cadeira, para não manter nem um contato direto com o rato.

Ele rodopiava de um lado pro outro, fazendo peripécias por onde passava, seu rosto era magro, o corpo muito esguio, o rabo balançava de um jeito nojento e desagradável. Enquanto Rebeca se recuperava do choque que tinha acabado de levar, o rato já tinha tomado conta do pedaço, se sentindo como um rei, subiu direto no colchão e se instalou em um dos muito buracos existentes nele.

- Consegui quatro depoimentos que serão extremamente convincentes na hora do tribunal, meu irmão. – disse Hugo para Horácio, que havia acabado de chegar na cozinha de sua fazenda.

- Que bom, você como sempre muito competente, não sei o que seria de mim sem você... – respondeu Horácio oferecendo uma xícara de café para seu irmão que havia acabado de sentar na cadeira de sua mesa.

- Pode colocar mais... – rogou Hugo fazendo um movimento com as mãos.

- E quais são esses depoimentos?

- Até agora, já consegui o do médico que atendeu Penélope, por ela ter pegado um resfriado, pela irresponsabilidade de sua mãe, o do veterinário como você me pediu, o de um senhor, que teve sua casa saqueada por Jorge e por final o do antigo patrão de Jorge que ficou horrorizado quando eu contei o que tinha acontecido com você.

- Hum, muito bem, e você acha que com isso, vamos conseguir colocá-los na cadeia por um longo tempo?

- Segundo meu advogado, sim, ele tem quase certeza disso, mas ele sugeriu que acrescentássemos um depoimento formal de uma das meninas.

- Mas elas nunca concordarão com uma coisa dessas.

- Eu sei... É por isso que teremos a ajuda de um psicólogo...

Rebeca acabou dormindo no chão, estava tão nervosa, com a presença do rato enfurnado em sua cama, que não teve coragem de ir até tentar espantá-lo.

Já era o terceiro dia que Rebeca passava enterrada naquele quarto, não imaginava quanto tempo seu pai ia continuar com aquela loucura, estava com medo, beirando as fronteiras da insanidade, da loucura, ela não queria se tornar igual ao pai, mas nesse momento, quando acordou com uma tremenda torcicolo, ela não resistiu, desejou que tudo de ruim, que estava acontecendo com ela agora, voltasse em dobro para o seu pai.

Depois de algumas horas tentando em vão cutucar o rato com o pedaço de madeira que havia soltado da cadeira, Rebeca tentou se aventurar e sentou na ponta do colchão, olhando fixamente para o ratinho e pensando, consigo mesma:

- Eu não posso matá-lo, primeiro, porque me faltaria coragem, segundo, se eu o matar, o cadáver dele iria se decompor, o cheiro ficaria ainda mais insuportável, neste quarto do que antes. Mas como posso deixá-lo livre, posso pegar alguma doença se ele não se afastar do lugar onde durmo, até por que, eu não conseguiria ficar dormindo por muito tempo no chão e muito menos naquela cadeira de balanço quebrada, poderia cair no chão em algum momento da noite.

Sentada, um pouco mais a vontade, Rebeca começou a notar o rostinho do rato, achou que ele não fosse tão feio como ela tinha pensado anteriormente, seu rabo nem era tão comprido e até que seus olhinhos eram bem cativantes, mesmo sendo apenas duas bolinhas pretas separadas por um focinho cor de rosa com pelos espetados.

Ela o nomeou de Senhor Roustafius, senhor, por achar que ela já fosse idoso, por causa de sua pelugem acinzentada. Com um misto de medo e curiosidade, Rebeca resolveu estender sua mão em direção ao Senhor Roustafius, mesmo estando trêmula, o pequeno ratinho foi ao encontro dela titubeando.

- Chamei você aqui na cozinha, para lhe comunicar, que a partir de hoje, na ausência permanente de sua mãe, você terá que cozinhar para mim e para meus amigos, quando estes vierem nos visitar. – avisou Horácio a Penélope, que estava descendo da escada com Ted em suas mãos.

- Ahhh!!! Mas mamãe nunca deixava eu mexer no fogão sozinha, ela sempre me dizia que eu poderia me machucar.

- Esqueça o que a sua mãe te disse, pois, quem vai te educar a partir de agora sou eu.

- Sim papai, prometo que vou me esforçar o máximo, eu sei fazer algumas coisas na cozinha, poucas, mas sei.

Gabriel de Paiva Fonseca
Enviado por Gabriel de Paiva Fonseca em 01/03/2012
Código do texto: T3529013
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