EU QUERO JUSTIÇA
Valdir e Vander, dois jovens de 26 e 20 anos fazem seus pedidos à atendente de uma panificadora do bairro onde moram, distante a duas quadras de onde moram. Vander, o mais novo estuda em uma cidade vizinha e não via o irmão a dois meses. Enquanto esperam aproveitam pra pôr o papo em dia. Vander está animado com os estudos; está cursando o segundo ano de direito e faz planos pro futuro. Valdir ouve atentamente e, animado, incentiva o irmão a concluir seus estudos e assim poder galgar um futuro melhor. Desde que perderam o pai, Valdir se sente responsável pelo irmão e por seus estudos. Estão tão animados na conversa que não ouvem a pergunta da atendente:
- Mais alguma coisa, Senhor?
- Ah, não... só isso. Muito obrigado – responde Valdir.
Passam pelo caixa e saem, sempre distraídos em sua conversa. Após andarem cerca de vinte metros tudo que Valdir se lembra é de ter ouvido o barulho de um carro se aproximando em alta velocidade e Vander o empurrando para o lado. O carro não atinge Valdir, mas com o empurrão sofrido ele bate com a cabeça no muro. Meio zonzo ele vê o carro parado com a frente toda amassada em um poste. Ainda mais pra frente, o que ele não gostaria de nunca ter visto: Vander está caído com o corpo todo ensanguentado. Valdir não se lembra de como conseguiu chegar tão rápido até o irmão. Apenas se lembra de estar sobre ele gritando por seu nome. Olha desesperado para os lados e vê o motorista sair do veículo, mostrando-se nitidamente embriagado. Valdir nem pensa em detê-lo. Pega o celular e liga pedindo ajuda. Seu irmão ainda respira, mas sabia que seu estado era grave.
Uma viatura da PM chega ao mesmo tempo que uma unidade de resgate do Corpo de Bombeiros. Enquanto Vander é atendido, um policial tenta pedir informações a Valdir. Percebem juntos que o motorista havia fugido do local. Naquele momento, a preocupação maior de Valdir era com o estado de seu irmão.
A rotina na vida de Valdir havia mudado nos últimos trinta dias e sabia que por muito tempo seria assim. Os médicos não deram previsão de quanto tempo Vander permaneceria em coma. Valdir não se conformava com a interrupção na vida de seu irmão, com uma carreira promissora que certamente teria. Apesar de todas as informações que ele havia fornecido à polícia, o motorista não havia sido localizado. O carro em que ele dirigia era roubado e segundo lhe informara o delegado aquilo era coisa de traficante. Seria difícil localizar o culpado. Mas segundo se lembrava, maneira de se vestir, Valdir não acreditava que fosse um bandido perigoso. Em sua opinião isso era coisa de algum playboizinho mimado e irresponsável acostumado a aprontar sem o medo das consequências de seus atos.
Valdir passa a procurar pelo motorista por conta própria, sem sucesso. Às vezes passa noites de bar em bar buscando em cada rosto traços parecidos com aquele que vira naquele dia. Vez em quando faz perguntas a um ou outro na esperança de alguma pista. Vingar-se virou uma obsessão. Soube por uma garota que alguém com aquela descrição costumava passar por aquele bar. Aflora uma ponta de esperança. Valdir passa a circular entre os bares daquele bairro.
Uma semana se passa sem novidades. Valdir está em seu carro, já há quinze minutos em frente àquele bar de esquina, aguardando e observando o movimento. Na área externa nenhum rosto conhecido. Resolve entrar e dar uma olhada nos frequentadores que estão na parte interna. Nenhuma novidade. Ao sair, vê dois carros parados no semáforo, acelerando, aguardando o farol verde, para iniciarem um racha. Ao olhar para o carro da esquerda Valdir reconhece o jovem ao volante. “É ele!” – O farol fica verde e os dois carros saem disparados. Valdir tenta chegar ao seu carro e acompanhá-los mas os perde de vista. Valdir sente que se não fizer algo, tudo se repetirá; outros sofrerão o mesmo que ele e aquela sequência de irresponsabilidade não terá fim.
Dois dias depois, Valdir está por ali, dentro de seu carro e vê saindo de um bar, trançando as pernas, o motorista que atropelara seu irmão. Está a pé. Pensa em descer e agredi-lo. Ou poderia pegar a arma que trazia sempre consigo desde que resolvera se vingar da sorte de seu irmão. Enfim chegara o momento! Ou quem sabe dar a ele o mesmo destino que foi dado a seu irmão. O motorista segue em zig-zag pelo seu caminho, visivelmente embriagado, entra em uma rua estreita e pouco movimentada. Valdir olha para os lados. Ninguém à vista. O motorista cambaleia e cai sobre o meio fio. Era a chance que Valdir esperava. Poderia atropelá-lo ali, agora. Ninguém saberia. Seria mais um acidente sem solução, exatamente como acontecera com seu irmão. E o que era melhor: aquele não iria causar mais nenhuma dor a quem quer que fosse. “Mas será que isso me fará uma pessoa melhor que ele?” – Valdir pega o telefone e liga para o polícial que investigava o acidente com seu irmão. Não poderia fazer aquilo sem se tornar um igual.
Valdir e Vander, dois jovens de 26 e 20 anos fazem seus pedidos à atendente de uma panificadora do bairro onde moram, distante a duas quadras de onde moram. Vander, o mais novo estuda em uma cidade vizinha e não via o irmão a dois meses. Enquanto esperam aproveitam pra pôr o papo em dia. Vander está animado com os estudos; está cursando o segundo ano de direito e faz planos pro futuro. Valdir ouve atentamente e, animado, incentiva o irmão a concluir seus estudos e assim poder galgar um futuro melhor. Desde que perderam o pai, Valdir se sente responsável pelo irmão e por seus estudos. Estão tão animados na conversa que não ouvem a pergunta da atendente:
- Mais alguma coisa, Senhor?
- Ah, não... só isso. Muito obrigado – responde Valdir.
Passam pelo caixa e saem, sempre distraídos em sua conversa. Após andarem cerca de vinte metros tudo que Valdir se lembra é de ter ouvido o barulho de um carro se aproximando em alta velocidade e Vander o empurrando para o lado. O carro não atinge Valdir, mas com o empurrão sofrido ele bate com a cabeça no muro. Meio zonzo ele vê o carro parado com a frente toda amassada em um poste. Ainda mais pra frente, o que ele não gostaria de nunca ter visto: Vander está caído com o corpo todo ensanguentado. Valdir não se lembra de como conseguiu chegar tão rápido até o irmão. Apenas se lembra de estar sobre ele gritando por seu nome. Olha desesperado para os lados e vê o motorista sair do veículo, mostrando-se nitidamente embriagado. Valdir nem pensa em detê-lo. Pega o celular e liga pedindo ajuda. Seu irmão ainda respira, mas sabia que seu estado era grave.
Uma viatura da PM chega ao mesmo tempo que uma unidade de resgate do Corpo de Bombeiros. Enquanto Vander é atendido, um policial tenta pedir informações a Valdir. Percebem juntos que o motorista havia fugido do local. Naquele momento, a preocupação maior de Valdir era com o estado de seu irmão.
A rotina na vida de Valdir havia mudado nos últimos trinta dias e sabia que por muito tempo seria assim. Os médicos não deram previsão de quanto tempo Vander permaneceria em coma. Valdir não se conformava com a interrupção na vida de seu irmão, com uma carreira promissora que certamente teria. Apesar de todas as informações que ele havia fornecido à polícia, o motorista não havia sido localizado. O carro em que ele dirigia era roubado e segundo lhe informara o delegado aquilo era coisa de traficante. Seria difícil localizar o culpado. Mas segundo se lembrava, maneira de se vestir, Valdir não acreditava que fosse um bandido perigoso. Em sua opinião isso era coisa de algum playboizinho mimado e irresponsável acostumado a aprontar sem o medo das consequências de seus atos.
Valdir passa a procurar pelo motorista por conta própria, sem sucesso. Às vezes passa noites de bar em bar buscando em cada rosto traços parecidos com aquele que vira naquele dia. Vez em quando faz perguntas a um ou outro na esperança de alguma pista. Vingar-se virou uma obsessão. Soube por uma garota que alguém com aquela descrição costumava passar por aquele bar. Aflora uma ponta de esperança. Valdir passa a circular entre os bares daquele bairro.
Uma semana se passa sem novidades. Valdir está em seu carro, já há quinze minutos em frente àquele bar de esquina, aguardando e observando o movimento. Na área externa nenhum rosto conhecido. Resolve entrar e dar uma olhada nos frequentadores que estão na parte interna. Nenhuma novidade. Ao sair, vê dois carros parados no semáforo, acelerando, aguardando o farol verde, para iniciarem um racha. Ao olhar para o carro da esquerda Valdir reconhece o jovem ao volante. “É ele!” – O farol fica verde e os dois carros saem disparados. Valdir tenta chegar ao seu carro e acompanhá-los mas os perde de vista. Valdir sente que se não fizer algo, tudo se repetirá; outros sofrerão o mesmo que ele e aquela sequência de irresponsabilidade não terá fim.
Dois dias depois, Valdir está por ali, dentro de seu carro e vê saindo de um bar, trançando as pernas, o motorista que atropelara seu irmão. Está a pé. Pensa em descer e agredi-lo. Ou poderia pegar a arma que trazia sempre consigo desde que resolvera se vingar da sorte de seu irmão. Enfim chegara o momento! Ou quem sabe dar a ele o mesmo destino que foi dado a seu irmão. O motorista segue em zig-zag pelo seu caminho, visivelmente embriagado, entra em uma rua estreita e pouco movimentada. Valdir olha para os lados. Ninguém à vista. O motorista cambaleia e cai sobre o meio fio. Era a chance que Valdir esperava. Poderia atropelá-lo ali, agora. Ninguém saberia. Seria mais um acidente sem solução, exatamente como acontecera com seu irmão. E o que era melhor: aquele não iria causar mais nenhuma dor a quem quer que fosse. “Mas será que isso me fará uma pessoa melhor que ele?” – Valdir pega o telefone e liga para o polícial que investigava o acidente com seu irmão. Não poderia fazer aquilo sem se tornar um igual.