Eram dois simples garotos
Eram dois simples garotos, felizes e brincalhões. Como de costume eles estavam jogando bola aquela tarde. Um era sempre o “craque” e o outro o “reserva”.
O craque tinha uma casa e uma família, já o reserva era órfão e sem-teto, mas ambos eram de alegria invejável.
Ao voltar para sua “casa”, o reserva viu um mendigo e resolveu ajuda-lo, dando-lhes as únicas moedas que tinha no bolso. O craque, em seu caminho, deparou-se com a mesma situação, mas como sua casa ainda estava distante, ele preferiu lamentar a necessidade do homem e então, após, degustou de um saboroso lanche.
A noite estava muito fria, mas o inverno era a época preferida do craque, já o reserva, lamentava por seu cobertor ser tão fino.
Mais noites se passou e os dias se foram. Craque lamentava e reclamava, pois sua vida estava se transformando em um “inferno”. Pedia a Deus todas as noites para que ele mudasse aquilo, pois ele não sabia como suportar aquela situação, era “o fim” dizia ele.
Reserva sentia fome, frio, vivia só, mas soube conquistar muitos amigos, recebia doações e agradecia a Deus todas as noites por ter mais um dia de vida, por poder ver o sol brilhar e a lua surgir mais uma vez. Sua vida era perfeita, dizia ele, pois sempre se orgulhara de ser como era.
Os dias foram passando, meses se foram então, o craque sumiu. Lê havia fugido de casa, pois estava sem alegria, sem esperança e sem coragem. Percebeu que seu tudo, transformou-se em um nada, sua alegria e vida acabou-se na primeira dificuldade. Sua morte por tristeza parecia inevitável, lembrou-se então do reserva, quis saber como ele estava e como suportava tanto tempo a solidão das noites só.
Voltou para a cidade onde morava, procurou-o e encontrou-o. Sem mais esperar fez-lhe então a pergunta que tanto formigava em tua mete, e a resposta veio rápida e direta. Disse o reserva:
“- Sou vivo, e enquanto assim permanecer, tenho total controle sobre tudo a minha volta. Não preciso lamentar aquilo que não tenho ou o que não sou, basto-me apenas em agradecer o que conquistei e orgulhar-me pelo o que sou!”
Craque parecia não entender, não aceitava aquelas “palavras absurdas”, para ele o colega estava maluco, ou sempre fora, mas ele não percebeu antes. O garoto então continuou com sua condição de “fugitivo”.
Em uma noite muito fria, reserva passava em frente a uma casa, quando começou a ouvir gritos e barulho de choro desesperados, mas continuou seu percurso. Na manhã seguinte o rapaz passava pela banca de jornal quando leu a manchete: “Encontrado o corpo de garoto desaparecido”. Seu colega havia se suicidado. Reserva não entendia seus motivos, ele sempre teve tudo aquilo que quis ter (pensava ele), mas preferia não enxergar isto. Os médicos acreditavam em surto psicológico, mas ele não acreditava inteiramente nisto, não sabia o que pensar, queria poder entender a mente humana, não conseguia aceitar: como uma pessoa pode abrir mão de sua vida, seus sonhos, dos raios de sol e das noites frias; como podia entregar-se à tristeza se a alegria estava bem ali diante de seus olhos, por uma simples fraqueza e fim lamentável?
Se ele buscava o reconhecimento, teve em troca o descontentamento. Mas para que tudo isso? Realmente era muita tolice, era muita coisa a se entender que não estava naquelas simples páginas de jornal.
Anos depois o rapaz formou-se em psicologia. Passou a estudar a vida do mundo, tentar entender os tantos motivos do suicídio.
Mais tarde foi assassinado por garotos de rua que tentavam levar a sua bicicleta!