Na beira da praia
...ele vinha boiando agarrado numa boia. Subia, descia, seguia o andar das ondas. O vento soprou seu rosto salgado, ressecado. A água o carregou até a borda quente do manto azul. Ao sentir aquecer, escorregou os dedos nos grãos finos da superfície macia. Tentou abrir os olhos, mas não podia. O sal bloqueou sua visão, comprimiu sua língua. O sol escaldava a ardência dos arranhões enrugados. Uma sombra leve convidava para um descanso descente... O vento soprou, trazendo lembranças do que não tinha valor. O brilho torturava sua cegueira. As verdades comungavam da solidão e do perigo. O passado trazia esperança. A lenda sublimou a dor. Os acontecimentos não são apenas passado. Suas dúvidas não eram mais que grãos de areia, assentando um chão macio onde deslizavam seus dedos salgados.
'' As lembranças agora tinham valor! '' - pensou o náufrago.
Suas lembranças vindas com o vento acalmavam os ouvidos, porém fazia arder as feridas. A praia o engoliu. Visto daqui de cima ele não é ninguém, as pessoas são apenas pessoas e a consciência que se tem é de que não somos nada.