Na beira da praia

...ele vinha boiando agarrado numa boia. Subia, descia, seguia o andar das ondas. O vento soprou seu rosto salgado, ressecado. A água o carregou até a borda quente do manto azul. Ao sentir aquecer, escorregou os dedos nos grãos finos da superfície macia. Tentou abrir os olhos, mas não podia. O sal bloqueou sua visão, comprimiu sua língua. O sol escaldava a ardência dos arranhões enrugados. Uma sombra leve convidava para um descanso descente... O vento soprou, trazendo lembranças do que não tinha valor. O brilho torturava sua cegueira. As verdades comungavam da solidão e do perigo. O passado trazia esperança. A lenda sublimou a dor. Os acontecimentos não são apenas passado. Suas dúvidas não eram mais que grãos de areia, assentando um chão macio onde deslizavam seus dedos salgados.

'' As lembranças agora tinham valor! '' - pensou o náufrago.

Suas lembranças vindas com o vento acalmavam os ouvidos, porém fazia arder as feridas. A praia o engoliu. Visto daqui de cima ele não é ninguém, as pessoas são apenas pessoas e a consciência que se tem é de que não somos nada.

Rangel Goulart
Enviado por Rangel Goulart em 23/02/2012
Reeditado em 23/02/2012
Código do texto: T3514428
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