Eu me considero uma pessao de muita sorte, por vário motivos. Um dos maiores, com certeza, foi por ter encontrado meu irmão, 7 anos atrás. Jamais, com certeza, vou poder dizer o quanto amo e o quanto respito meu irmão Otto M.
E o melhor, é que além de ser uma pessoa incrível, é de uma inteligência absurda e uma cultura acima do normal. Já perdi a conta de quantos poemas e crônicas minhas já nasceram de nossas intermináveis conversas. E para se ter idéia do poder inspirador desse escritor, ilustrei esse texto com uma imagem da coleção que desenhei para o inverno 2012, que nasceu de dois textos de Otto M: "O magricela da Rua Arbat" e "Crônicas de uma necrópole". Certamente, jamais poderei agradecer como se deve por tudo o que ele fez por mim, não só no que diz respeito à escrita, como também por todo o apoio que ele tem me dado na vida.
Abaixo, apresento um texto publicado por ele, que nasceu também de algumas conversas nossas, e que me fizeram ficar em um estado extremo de felicidade. Espero realmente, que esse grande escritor e irmão, seja reconhecido como se deve.
Obrigado, meu irmão. Um forte abraço.
E o melhor, é que além de ser uma pessoa incrível, é de uma inteligência absurda e uma cultura acima do normal. Já perdi a conta de quantos poemas e crônicas minhas já nasceram de nossas intermináveis conversas. E para se ter idéia do poder inspirador desse escritor, ilustrei esse texto com uma imagem da coleção que desenhei para o inverno 2012, que nasceu de dois textos de Otto M: "O magricela da Rua Arbat" e "Crônicas de uma necrópole". Certamente, jamais poderei agradecer como se deve por tudo o que ele fez por mim, não só no que diz respeito à escrita, como também por todo o apoio que ele tem me dado na vida.
Abaixo, apresento um texto publicado por ele, que nasceu também de algumas conversas nossas, e que me fizeram ficar em um estado extremo de felicidade. Espero realmente, que esse grande escritor e irmão, seja reconhecido como se deve.
Obrigado, meu irmão. Um forte abraço.
DOMINICAL
(Otto M)
E então o quarto estava todo como que cheio dum incenso que denunciava tudo que ali havia acontecido, ambiente propício para fazer um pernilongo lançar-se insistentemente contra o ventilador barulhento que rodopiava no teto, mas que, apesar de tão ruidoso, não fazia mover o monte de lençóis ao lado dela: a montanha rochosa, a geografia do desastre que se erguia, ao mesmo tempo em que lhe vinha à boca o retrogosto da noite: ferro, como se tivesse mastigado uma chave de roda. Havia a janela e havia também sobre o criado a taça de vinho vazia que em sua face interna estampava uma catedral etílica, secada pelo tempo, como se fora condensada pelo vibrar tortuoso das cordas do violão do velho, dono do motel, e sua mourisca “Recuerdos de La Alhambra”. “Pronto: uma catedral de Miró seria esta, com suas agulhas espetando o céu por onde sobem e descem anjos, levando preces e trazendo mensagens divinas”, pensou. E as gentes saiam e entravam nela num domingo de missa e o padre as bendizia com largo sorriso, iluminado pelo sol roxo próprio das taças de vinho em manhãs de domingo. E todos estavam cobertos por aquele manto de luz, quando alguém se virou e disse: “é o sangue de Cristo que os acompanha”. – Mas ninguém ouviu, pois, como bem profetizou a velha que mora no beco sem saída: “nadie escucha a nadie hoy en dia, hija mia.” Paf - Lá se foi o pernilongo que zuniu a noite toda e o credor saiu sorrindo pela marquise crendo que aquele que jamais o pagaria seria exterminado pela justiça Divina, pois foi sobre isso que o Padre pregara. E as pombas voavam e cagavam alegremente no céu como é normal se ver em taças gastas e riscadas de motéis de beira de estrada, cujos donos são espanhóis que se casam com mulheres chamadas Luzia pelo simples prazer de falar o “sia” com a língua entre os dentes. Já o caloteiro, esquerdo que é, saiu também sorrindo, só que pelas laterais, pois o sermão do Padre lhe disse que, se ele tivesse fé, sua dívida seria paga por anjos, seres tais que, agora, sem saber ao certo o que faziam naquele local, se arrastavam amalgamados nas asas furta-cor do pernilongo morto que atravessavam a rua e iam parar do outro lado da taça. A mulher, por sua vez, percebia no reflexo do vidro da copa a única coisa com vida naquela sua face desmaiada: o corte nos lábios, pois “o merda que chamo de ‘meu namorado’ gosta de morder” e suas palavras se misturaram aos sinos que badalavam as onze e ao violão do velho que desafinava gradativamente, como se fosse possível ver as cordas se afrouxarem, ao ritmo em que o tempo e o espaço dilatavam-se, retendo em suas reentrâncias as asas do ventilador e fazendo a catedral se desfazer, como, aliás, é bem comum se ver em taças de vinho ao serem lavadas em pias brancas de banheiros de motel.
“O ventilador quebrou.” – Balbuciou o homem.
“É o que se tem pra hoje.” – completou, com a boca cheia d’água.
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Inspirado no universo e nas expressões de meu irmão, Eduardo Paixão.