O MIJÃO - ERICLEPTON DA SILVA JÚNIOR. LIA LÚCIA DE SÁ LEITÃO - 18/02/20112.

Meus queridos leitores faz tempo que não escrevo uma linha das mil e dez idéias que perseguem meu juízo. Pois bem, tenho o vício de assistir alguns jornais sensacionalistas, quem quiser que fale mal, não vejo nada mais assustador que os filminhos americanos no cine da tarde das televisões abertas, ou que sejam menos interessantes que o contexto das novelas globais. Podem rir! Adoro as pasmaceiras mexicanas, sinto-me à vontade pela inverossimilhança do real.

Os amigos intelectuais imploram para que eu negue essa minha euforia em saber tudo o que aconteceu nos plantões policiais, saber os calibres das máquinas de fazer defunto dos bandidos apresentadas pelos militares, depoimentos dos cidadãos, reclamações com a falta d´água, energia, calçamento (pavimentação) quedas de barreiras, estradas mal sinalizadas, cemitérios sem conservação, políticos corruptos, bandidos que roubam milhões e bandidos que vendem craque na porta das escolas, bem ou mal, sei de tudo o que aconteceu na cidade e tenho alguns jornalistas em tal apreço que desejo um dia parabenizá-los pelos destemores, pela arte de mostrar o desconexo, o vazio que todos atacam como a banalização da violência mas ninguém retruca as vistas de peixeiros feitas pela sociedade, ninguém cobra às cobras políticas ação e determinação de minimizar as problemáticas das drogas, prostituição infantil de meninos e meninas e outras coisas a mais.

Faz um tempo que assumi os meus personagens como releitura dos verdadeiros protagonistas da vida, seres comuns, pouca textura de beleza apolínea vista pelos olhos do espanto!

(Ao referir-me a Apolo ressalto que esqueçam a questão da beleza, perfeição e harmonia, mas podem dar um certo crédito quanto a divindade da morte súbita e ligado a iniciação dos jovens na vida adulta sem contar com os cuidados com as ervas.)

E assim tudo inicia.

O galo canta anunciando a aurora cruzando de um lado ao outro as casa das beatas fofoqueiras da rua principal, aquela rua que em algum momento da história do bairro da periferia recifense recebeu asfalto, aquela rua aonde passam os ônibus de carreira, os bandidos também fazem correrias de motocicletas e a polícia faz parada obrigatória na pracinha da ladeira revistando as pessoas do bem que trafegam descontraídas e sem medo.

O dia amanheceu ensolarado, o galo Eufrásio estava morto e esbagaçado no buraco do asfalto foi atropelado pelo SAMU que nas poucas horas do dia já se mostrava em plena atividade socorrendo Dona Amparo que não perdia o fogo mas agora respirava com dificuldades as noites de dançarina, bebedeiras e muito fumo, o coração reclamava da velhinha o deboche da morte aos 99 anos, dona da primeira casa de recurso (puteiro) daquele bairro.

Dois rapazes passaram em uma motocicleta e não respeitaram o bloqueio policial seguindo em alta velocidade, o garupa, tira um revolver prateado que alumia ao sol e atira contra os militares.

Um batedor militar foi derrubado de sua máquina! Um tiro! O projétil entra do lado vara o capacete e sai sem queimar um fio de cabelo do homem.

Sorte! Nasceu novamente gritava as mulheres da Igreja Protestante, Milagre! Berravam as beatas do terço da Capelinha de Santo Onofre. O policiais empalideceram com a proximidade da mulher de preto, bela e cruel, a Morte.

Velozmente puseram-se em perseguição dos dois meliantes.

Viaturas, motocicletas, helicóptero, uma companhia caçando dois rapazes.

Corre corre daqui, pula um muro ali, escorrega na barranca acolá, enfim alguém aponta que um dos moleques adentrou num barraco.

O policial invade a casa, um homem disfarça com uma criança no braço, o policial não se intimida com o estatuto do menor e do adolescente, e num arremesso certeiro joga a criança nos braços de uma policial que segura no ar e o devolve para uma mulher que chora com os braços para o alto berrando meu filho, meu filho!

O primeiro homem é detido, algemado xinga a mãe do delegado e uma mão de punho masculino, com um relógio do Paraguai aparece no foco do celular de um amador acertando um tabefe no rapaz.

A casa era muito pequena cabia aquela mulher, o filho e o marido que tremia com medo do procurado pelos policiais.

Homens enormes! Pés grandes, pernas grandes, mãos grandes, todos também com grande nervoso.

Dois desses homens grandes puxaram um colchonete e levantaram uma frágil caminha de tábua.

Deitado no molhado da urina, encolhido em posição fetal, Ericlepton da Silva Júnior, dezenove anos, cinco assassinatos, dois disparos contra policiais, batedor de mulher iniciando a carreira com a própria avó, mãe e irmãs.

Chorava perdão e pedia proteção dos órgão competentes.

Lia Lúcia de Sá Leitão
Enviado por Lia Lúcia de Sá Leitão em 18/02/2012
Reeditado em 18/02/2012
Código do texto: T3506491
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