Ainda.

Levanta da cama, calça o chinelo e sai andando pela casa. Procurando por algo, sem saber ao certo o que é. Tão frio, tão escuro, tão só. Para na frente da porta de madeira, e fica lá, olhando, lembrando, pensando. Pensando por alguns minutos, depois disso, segura a maçaneta, a gira e entra no escritório. No escritório dele. Cada pequeno lugar daquele cômodo a entristecia. Uma lágrima escorreu pelo seu rosto e foi em direção ao chão. Uma gota em meio a tanto pó, a tanta bagunça. Há meses que ninguém entrava naquele lugar, ninguém ousava fazer isso. A cada passo que ela dava, o assoalho rangia, um som tão perturbador e irritante que ela quase desistiu de ficar lá, continuou andando, e de repente se viu parada na frente de uma mesa. Mais uma lágrima caiu. Fitou a cadeira cheia de teia de aranha e de bichos que antigamente era o descanso de seu amado. Ah, que saudade que sentia. Que dor era relembrar tudo aqui, relembrar aqueles momentos, aquela época. Ainda não tivera a coragem de acabar com aquele lugar, de jogar tudo fora, e se livrar daquelas malditas memórias. Ela precisava disso, algo dentro dela queria acreditar que ele ainda estava ali, trabalhando, lendo. E que em pouco tempo ele iria se juntar a ela no jantar, e depois na cama, abraçados, esperando o sono os consumir. Mas nada disso iria acontecer. Jantava sozinha todas as noites, e nunca tinha ninguém no travesseiro ao lado dela. Só... Tão só. Pegou um livro empoeirado de cima da mesa, e o abriu. Começou a ler aquelas palavras e no meio do livro, achou uma foto. Uma foto que nem lembrava de ter tirado. Como eles ficavam lindos juntos. Todos os amigos falavam que eles eram o casal mais lindo que já haviam conhecido, ao lembrar disso, ela soltou um sorriso bem fraco em meio ao choro. Queria ele ali, do lado dela. Mas não podia. Prometeu a si mesma que não deixaria que ótimas lembranças fizessem com que ela não vivesse a própria vida. Encostou a foto no peito e sorriu, e dessa vez, com vontade. Olhou pra cima e pensou: “eu ainda te amo, e um dia vou estar ao seu lado, me espere”. Saiu do quarto e começou a viver. Já não estava mais só.

KaahMotta
Enviado por KaahMotta em 17/02/2012
Reeditado em 19/02/2012
Código do texto: T3504958