DOMINGO DE MANHÃ

Sempre gostei dos domingos de manhã.

Mesmo tendo dormindo tarde na noite anterior , a manhã de domingo tem um sabor especial, desde a infância.

Quando pequena ,os almoços de domingo eram sempre uma festa.

Meu pai, filho de Árabes ,gostava de mesa farta e minha mãe sempre cozinhou bem e cozinhou pra ele. Tanto que depois que meu pai morreu, ela perdeu o pouco animo que tinha.

Morei em uma rua que terminava no mar e era deserta.

Durante a semana, um vizinho ou outro saindo pro trabalho e pouca criança, quase nenhuma mesmo, brincando na rua.

Tão diferente de quando eu era criança e as ruas eram lotadas de brincadeiras.

Engaçado , quando a hora do banho ou do jantar se aproximava , as mães chamavam os filhos gritando seus nomes pelas janelas das casas e num segundo a rua ficava vazia, só o eco dos nomes soando ainda pelos portões recém batidos por mãozinhas enérgicas e sujas.

O fato é que durante a semana aquela minha rua era deserta.

Mas não aos domingos .

Aos domingos os vizinhos colocavam cadeiras na calçada pra papear e tomar sol e algumas crianças, vindo não sei de onde, corriam de um lado para o outro as gargalhadas ,os carros, quase todos ensaboados molhavam as calçadas e os cachorros.

Esses percebiam a agitação e se comunicavam.

Então,em um domingo,acordei com o barulho de um deles,abri a janela e espiei a rua senti o sol e o vento, especialmente forte naquela manhã ,e resolvi andar pelo calçadão da praia.

A noite anterior tinha sido de vento e chuva então isso se refletiu na maré fazendo o mar ficar bravo com ondas enormes que invadiram a praia batendo no calçadão e espirrando água pros lados.

A orla da praia era muito bonita e naquela manhã de vento forte estava especialmente linda.

O vento fazia as folhas dos coqueiros darem chicotadas no chão espantando as pombas que já não tinham espaço também na areia

Eu caminhava junto com essa confusão de seres querendo dividir o mesmo espaço.

As pombas eram expulsas tanto da praia pela maré, quanto do calçadão pelos coqueiros e voavam pelas cabeças dos humanos arrancando bonés e colidindo com papéis perdidos como que exigindo também seu lugar naquele pedaço do planeta.

Me dei conta do movimento intenso que estava acontecendo agora, ali já na minha frente, e me emocionei.

Procurei um coqueiro menos bravinho e me aconcheguei debaixo das folhas pra apreciar essa disputa de espaço tão intensa e divertida. Assisti por alguns minutos aquela doce confusão ,dei risada sozinha com as caras das pessoas descabeladas ,adorei a alegria dos coqueiros, o voo rasante das pombas e ,olhei com respeito o mar bravio.

E naquele domingo de manhã,voltei pra casa renovada de uma vida que eu senti entrar pelos poros.

É bom sentir que a vida pulsa assim pertinho da gente.

Nadya Saber
Enviado por Nadya Saber em 16/02/2012
Código do texto: T3503247
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.