A Bota*

A BOTA

Mosqueiro estava em festa. Chegara a hora da decisão. Dois times apenas restaram dos mais de 30 inscritos para o torneio de voleibol promovido pela Associação de Jovens Esportistas de Mosqueiro. A disputa estava acirrada, ambos os times com o mesmo número de pontos ganhos, um com a melhor defesa do campeonato, o outro, com o melhor ataque.

A expectativa era muito grande. A arena estava montada na praia do Carananduba, uma das preferidas dos amantes do voleibol. A lua cooperava com uma iluminação natural generosa. Mais de 5000 torcedores acotovelavam-se nas arquibancadas montadas. O espetáculo estava marcado para as 20 horas.

O embate começara pontualmente. Os dois times entraram sob os aplausos e vaias das torcidas. A rivalidade era tanta que os organizadores decidiram contratar um juiz de fora do Estado.

Ambas as equipes pareciam nervosas. Os erros apareciam de ambos os lados. Ah! Já ia até me esquecendo de anunciar o nome dos finalistas. Estavam se enfrentando o Profilaxia e o Arrebol. O primeiro representando o Areão; o segundo, o Carananduba.

O Profilaxia venceu o primeiro e o terceiro sets; o Arrebol, o segundo e o quarto. Pausa para tibreak. Os jogadores foram para os respectivos vestiários.

Hora de reiniciar a partida. O alto-falante anuncia a entrada dos dois times. Novos aplausos e vaias se confundem. De repente, um silêncio se fez sentir no local. Faltava um dos jogadores do Profilaxia. O dirigente do time não entendia o que estava acontecendo. Logo o melhor jogador em quadra havia sumido. Foi um zunzunzum só. Logo começaram a surgir várias versões para o ocorrido. Uns diziam que Alex havia sido raptado pelo time adversário; outros: - Ele amarelou, isso sim... mas a que ficou na cabeça dos presentes foi o que relatou uma das torcedoras do Profilaxia.

- Antes do início do jogo, percebi a presença de uma figura que a princípio me pareceu estranha, mas logo depois a esqueci. Era uma linda morena toda vestida de branco, calça comprida e blusa de alças finas. Na cabeça portava um chepéu de palha. Era alta e de cabelos até a cintura. A vi sair da praia, mas como a roupa não parecia molhada, o fato me chamou a atenção. Durante a apresentação da dança, a moça se aproximou de Alex, falou-lhe algumas palavras ao ouvido, em seguida saíram em direção ao rio. Como estava interessada no grupo de dança, não mais os observei.

Depois desse relato, outro espectador comentou: - Lembro-me de ter escutado falar de vários outros aparecimentos de uma moça misteriosa que aparecia nos eventos à beira da praia e que outros rapazes que por ela se enamoraram também haviam desaparecido.

Verdade ou não, o fato é que nunca mais Alex apareceu.

Quanto ao jogo, com a ausência do Profilaxia, o Arrebol tornou-se campeão.

* Publicado no livro CONTANDO HISTÓRIAS. Belém: L & A Editora, 2005.