Zona baixa
casa branca continuaca igual, até os descascados de quando criança.
- Entra, menino!
- Já vai, vó...
gostamos muito de ouvir a vozinha dela me mandando entrar, porque era hora de comer
ou dormir, ou simplesmente pra sair da rua. " você parece seu pai, nao sai da rua"..é verdade: eu pareço meu pai. Ele era assim, não saia da rua. Minha mãe queria morrer. passava tanta noite fora.
- Vó, onde meu pai tá?
- Sei lá onde ele anda. Pergunta pra sua mãe...
- Mainha, onde meu pai foi?
- sai daqui, troço!!!
Minha mãe era impaciente, eu ficava sem respostas. Quando fiz uns quatorze anos, comecei a perambular pela rua. Gostava de ir no rabo da Gata. La tinha umas mesas de sinuca, onde começei a frequentar. Estava acompanhado de meus amigos, Quito e Bel. Que invariavelmente se aproveitavam de mim. Eu fiquei tão viciado em jogar que não fazia questão de pagar as partidas, e pagava também bebidas. Foi logo depois que tomei meu primeiro porre de cachaça. Andei tonto até minha casa. Dormi a tarde toda. Minha vó, assim que acordei, disse
- Não vai fazer o caminho de seu pai. sua mãe vai morrer se souber que está jogando e bebendo...
- Eu nao estou
- Não minta. Gente veio me falar....
Minha vó sabia tudo que acontecia comigo, mas mesmo assim continuei a jogar. e foi que um dia roubei um dinheiro da minha mãe pra beber e jogar. Ela descobriu. apanhei tanto na cara, que nunca esqueci. A partir dai comecei a tomar raiva do Bel, que só me procurava quando eu estava endinheirado. Quito tinha uma cara de vagabundo, que apareceu bem nítina pra mim depois da surra que levei. Depois disso passei um bom tempo sem sair de casa. muito envergonhado comigo mesmo, pelas coisas que fiz...
- Não fica assim, não. É só nao fazer de novo
Minha vó queria muito me proteger....Quando a vergonha passou eu já tinha uns vinte anos. Já trabalhava, tinho meu própri dinheiro, mas a vontade de ir na sinuca do rabo da gata não era a mesma. Uma espécie de nojo se apropriou de mim.
- Só seu pai que não muda...
ouvia isso dentro de casa. E era verdade, nada fazia ele mudar de vida. continuava sumindo por dias, e minha mãe definhava de tristeza. a coisa ficou pior quando arrumou uma mulher na rua da areia. Não saia de lá. Mesmo quando minha mãe foi lá e bateu na cara dela, o caso não acabou. ela adorava bater na cara. só nao tinha coragem de bater em meu pai, porque o medo dele ir embora pra sempre lhe impedia de fazer isso. A sua mágoa que era como uma névoa atrás dela, acabava com a gente. Não sei como eles ainda estavam juntos....
um dia estava na frente de casa, ouvindo meu radio de pilha quando meu pai apareceu na minha frente. Perguntou se eu queria dar uma volta com ele. Fiquei surpreso, ele nunca me chamou pra nada. Aceitei, entrei em seu carro, e fomos parar no rabo da gata, pediu cervejas e carne assada. Foi até o balcão e pediu algumas fichas a Seu Ambrosino Perna Curta...
- Sabe ainda jogar?
- Acho que sim
olhei em seus olhos, e vi meu pai de perto. Olhos pretos e grandes, a barba bem feita e a camisa bem passada. Acendeu seu cigarro e me ofereceu. Aceitei um e ele acendeu pra mim. Apesar de me sentir errado em estar com ele, uma felicidade profunda e verdadeira subiu no meu peito.Jogamos e bebemos até de madrugada. contou varias aventuras sexuais que teve na cidade, inclusive com mulher casada. Outra coisa que gostei de ouvir, foi como conseguu derrotar Arthur de Jovino, num jogo que durou tres dias na chacara de Antonino Pinto, ha uns anos atras. a partir dai ninguem lhe despeitou na mesa de sinuca. Eu ouvia suas historias e nao me incomodava.
Pediu pra eu contar alguma coisa pra ele. Não havia nada extraordinário como ele. Disse de algumas paqueras e confessei que tinha transado com nossa vizinha da casa de baixo. sentiu orgulho e ficou surpreso. Reconheceu que eu já não era um menino..
De manha, quando os dois bebados chegamos em casa. Minha vó me olhou sorrindo.
- Que pouca vergonha. Cadê seu pai? Ja estou sabendo que vocês estavam bebendo junto
Minha mãe se aproximou de mim, e me deu um abraço. Senti como um pedido de desculpas. Foi pra cozinha e fez um delicioso café da manha. Estranhamente estava feliz. Não parecia a mulher que andava pesada de tristeza quase todos os dias..Passou alguns momentos meu pai também chegou. Não falou onde tinha passado antes de vim pra casa. Sentou na cabeçeira da mesa e minha mãe serviu seu café com leite, e tocou seu cabelo