A Resposta do Zé Alegria

Júlio não ficou nem um pouco surpreso com aquela proposta do “patrão”de dar-lhe a fazenda para administrar. Tudo foi pensado, elaborado e planejado para que aquilo acontecesse daquele jeito e sendo ele um dos melhores naquele trabalho, as chances de que algo desse errado eram mínimas. O Júlio era tão habilidoso que seu apelido na “Organização” era O Ator e seu melhor papel era exatamente o Zé Alegria, homem submisso, tacanho, mas que demonstrava uma auto-estima e uma auto-motivação fora do comum. Características paradoxalmente contrárias às da personalidade do Júlio, por isso era chamado de O Ator, tal o seu talento em representar.

A “Organização” existia a mais de dois mil anos e seu trabalho era infiltrar seus membros em grandes empresas e até em governos para reverter situações de opressão e investigar casos de corrupção de agentes públicos. Em seus quadros figuram nomes como Zumbi dos Palmares, Fidel Castro, Carlos Lamarca, Chico Mendes, Emiliano Zapata, Che Guevara, Luiz Inácio Lula, Joaquim José, o Tiradentes e o mais destacado agente, Jesus Cristo. Além de vários outros nomes não tão famosos como o nosso Júlio, o Zé Alegria ou O Ator. A “Organização” recrutava seus agentes de várias maneiras, desde filhos de membros mais antigos que se destacavam em suas missões, até em sindicatos de trabalhadores, intelectuais, artistas e mais recentemente em universidades. E foi assim, sendo observado no movimento estudantil de sua universidade que O Ator foi convidado a integrar a “Organização”.

Não era pratica da “Organização” intervir em situações de pouca relevância para a sociedade, isto é, pequenas empresas ou fazendas como nesse caso. O principal objetivo era intervir de modo a alterar a conjuntura de uma determinada cidade, região ou de um país inteiro. O episódio da fazenda do Senhor João foi uma exceção por se tratar de um caso especial. Era nessa fazenda que trabalhavam os pais do Júlio quando este nasceu e foi lá também que ele passou toda a sua infância e foi exatamente ele quem propôs a intervenção na fazenda.

A missão do Ator era infiltrar-se na fazenda do Senhor João fingindo-se um trabalhador submisso e ignorante em relação à opressão que sofria e desconhecedor do lucro extraordinário que o Senhor João obtinha a custa da exploração do trabalho, da mais-valia daqueles trabalhadores que reclamavam porque estavam cansados do trabalho pesado, da longa jornada de trabalho, da pressão que recebiam do Patrão pelo cumprimento de metas que só máquinas conseguem alcançar diariamente. Através do personagem Zé Alegria O Ator poderia conquistar a confiança do Senhor João e assim pôr em prática o plano da “Organização” de fazer uma mudança no estado de opressão em que viviam aqueles trabalhadores.

E o plano foi posto em prática com muito êxito e teve início quando o Senhor João ofereceu sua confiança e sua fazenda ao Ator. A partir desse momento algumas transformações foram ocorrendo naquela fazenda inclusive um processo de desapropriação, uma vez que o Senhor João possuía bens que eram muito superiores as suas necessidades. Assim a fazenda foi desapropriada e os trabalhadores passaram a serem seus donos. Então um conselho administrativo foi constituído e ficou responsável pela administração da fazenda. Todo o lucro advindo da produção era repartido entre os trabalhadores que, aliás, passaram a ser chamados de cooperados. A jornada de trabalho foi reduzida pela metade e as metas foram extintas, já que a relação de exploração deixou de existir e foi substituída por uma ralação de cooperação. Assim “todos” trabalhavam felizes e dando bons resultados produtivos que, é importante ressaltar, eram bem maiores que os resultados obtidos pela administração do Senhor João.

A história do Zé Alegria pode ser conferida em:

http://contoselendas.blogspot.com/2004/09/hist-alegria.html

Taciturno Calado
Enviado por Taciturno Calado em 12/02/2012
Reeditado em 14/02/2012
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