NOS TRILHOS DO DESTINO II
FIU-FIU-FIIIU , era com esse assobio que meu pai anunciava sua chegada em casa. Era um homem alto, magro, moreno com um forte cheiro de cigarros. Chegava sempre de mansinho, com um sorriso nos lábios finos e trazendo um agrado para os filhos.
Como eu gostava de passar os pés em sua orelha gelada quando ele se deitava na cama para ler o jornal e eu me deitava ao lado dele para tomar a mamadeira. Pouco ele falava comigo, mas muito ele era para mim. Sempre me senti sua preferida. Nana ele me chamava e Nana sou até hoje.
O tempo na casinha da vila foi curto e quando soube que iríamos mudar para uma casa maior, só conseguia pensar no Pé de Caqui e no quintal do seu Marcos. Para quê uma casa maior? E aqueles sabores e cores? Será que nunca mais os teria?
A mudança foi rápida. Mudamos para perto, na rua ao lado. Uma rua de terra que terminava na linha do trem, a Rua Rinópolis.
Nossa casa ficava bem próxima da ferrovia e agora eu podia sentir quando o trem se aproximava. Quando ouvia o apito anunciando a chegada da máquina poderosa, já corria para o barranco do fim da rua para ver de perto aquela fúria de ferro passar por mim, barulhenta e assustadora, soltando rolos de fumaça escura e fagulhas que ficavam girando no ar. Ficava fascinada tentando contar os rápidos vagões escuros. Nem sempre conseguia e então me deixava ficar ali, esquecida de tudo, como que hipnotizada, olhando aquela serpente de ferro perder-se longe nos trilhos.