amor

O rio estava seco. Fazia tempo que não ficava assim. o chão vermelho e estiorado. o barro se soltava aos torrões das taquaras na parede. De vez enquando passava uma nuvens de passarinho voando pra londe. O sol quente deixava todos nós esmorecido e empreguiçado.

Minha vó olhava pra longe aprumando a mão sobre o rosto...

- Zico, acha que nesse rio ainda tem peixe?

- acho que não, vó...

- É diá, to com uma vontade de comer um peixim!

- Seu Ambrosino, passou o dia todo lá e não pegou nada.

- foi, fi?

- foi sim, Vó.

Ela disse isso e entrou pra dentro. Foi labutar na cozinha. De lá

de dentro deu berro.

- Vai procurar uma lasca de lenha, Zico. O arroz ta durim ainda.

Andei ao redor da casa. Fui encontrar unss graveto lá na entrada da cancela. Amarrei a lenha e coloquei no ombro. Mas o peixe que ela me pediu não saia da minha cabeça. Fiquei com vontade de ir no rio. Nem que não conseguisse. Pelo menos uma tilapinha pra assar na chapa do fogão...

Derramei a lenha na cozinha, peguei umas duas lascas pequenas

e empurrei na cinza. Ela sentada costurando um pano de prato pra colocar no pote... quando não estava coziando, era lavando ou costurado os buracos de nossa roupa...

- Vó, vou no rio ver o que eu acho lá..

- Deixa, fi, ta tarde já...

- Acho que perto da cocheira, tem um pocinho lá. Ano passado tinha muito traíra naquela parte escura

- Leva um pouco de café, enche o quente-frio de seu pai.

- E se ele ficar com raiva?

- ele num simporta não. Seu pai vai ficar com raiva de uma besteira dessas? Pode levar...

- Posso levar o rádio de pinha dele?

- Ai já não sei. Ele é muito besta com esse rádio. E as pilhas ja tá fraca.

Meu pai era muito ciumento com as coisas dele. Mesmo assim enchi de café, mais da metade. coloquei o rádio na minha mãe, mas nao tive coragem de levar. Arrumei direitinho como estava.

Foi duro arrumar as iscas, a terra seca daquele jeito, tudo rachado. As minhoca morre nesse tempo. Foi o jeito levar um pouco do arroz cozido. Se a agua nao tiver parada corre tudo do anzol. No embornal pus a garrafa e o arroz.

Até um pocinho dava uma meia hora de caminhada, que passou bem rapido, so imaginando como ficaria feliz se troxe alguma coisa. antes eu pescava na parte de baixo, era facil pegar acari nas pedras. Com a seca, as pedras ficaram tudo pra fora, de baixo do sol e os bichos desceu tudo embora.

Sentei na beira do rio e coloquei o anzol na água, e danei pensar. Um monte de bobogem. Estava tão rasinho, dava pra ver o fundo, empurrava a linha pra longe, mas não adiantava. Fiquei lá quase que a tarde toda e nada de ninguem beliscar. E foi que o dia estava chegando no fim. Uma dor no peito. Tudo me apertava. Uma vontade de chorar. Foi quando estava desistindo e uma piabinha prateada se grudou no anzol. Parece que foi Deus. Tão pequena que chegava da dó. Tire ela e coloquei na enfieira de capim. Meu coração vinha a boca. No caminho de casa, não parava de olhar pra ela, admirado. Apressava o passo. Queria chegar logo e mostrar que tudo deu certo...

Dentro de casa tudo escuro. O cadeeiro aceso. O cheiro de querozene

na porta. Mostrei pra ela. Ja estava preocupada me esperando. O fogo quase apagado. Ela rio pra mim. Na bacia na beira do forno, cortou o peixinho, jogou os fato fora. Ficou menor ainda. Doi pratos de arroz. Depois de assada na chapa, cortou em dois pedaços. Um deles foi no meu prato, ou outro no prato dela....a luz da noite ja entrava pela janela. Um calorão forte,uns pernilongo zunindo no ouvido.

Sentamos um do lado do outro nos tamboretes...Ela deu uma mordida

e deu uma risadinha colocando a mão na boca. Deu mais uma bocadinha com arroz e acabou... no meio da mesa, a chama do candeeiro deixava deiva a vista como já estava velhinha. Levantou, Foi até o pote e tomou um caneca de água, mas ante de voltar pra mesa, forrou a boca do pote com paninho que havia costurado...