Mauricio
Mauricio
Mauricio era o menino perfeito, um bom filho, neto e sobrinho, mas um péssimo pianista. Era perfeito em todos os aspectos, na escola era o queridinho das professoras, seus amigos sempre queriam estar perto dele, menos na hora do futebol, pois Mauricio nasceu com uma deficiência em ambas as pernas, e claro, quando Mauricio estava no piano.
Era o sobrinho preferido, o primo preferido e como era engraçado. Mesmo não podendo enxergar com um dos olhos Mauricio participava de quase tudo que o permitiam fazer, menos o piano é claro, suas tias preferiam que ele nem se aproximasse do instrumento.
Mauricio não ligava, todos comentavam como ele era ruim no piano, mas ele era feliz em todas as outras coisas, ele adorava o piano, mas parecia que o instrumento não partilhava de todo esse carinho.
Seus avós o amavam como se amam um neto, davam presentes e carinho o tempo todo, mas era só Mauricio chegar perto do piano que todos pediam para ele esquecer e contar uma de suas piadas e como Mauricio queria, ele deixava de lado o instrumento.
Mauricio tinha a vida perfeita, mesmo com todas as suas dificuldades ele era muito feliz, não tinha medo de se arriscar, de ir com tudo, mesmo que isso significasse perder algumas coisas. Mas Mauricio tinha um segredo, algo que ele guardava para si como um tesouro em um castelo. Ele não era um bom pianista, mas sim um excelente pianista, quando sozinho, compunha musicas lindas de agradável melodia.
Era um grande talento escondido em um corpo perfeito. Perfeito? Sim perfeito ao menos a quem realmente importa. Sozinho sua musica o dominava, o conquistava, passaria horas tocando se pudesse. Seus olhos cerrados sem olhar qualquer partitura faziam daquela sala o paraíso secreto de Mauricio. A união entre homem e musica em uma sintonia perfeita.
Mauricio não podia ser o grande pianista que era, pois assim como em todos os casos, a sociedade o marcaria “Mauricio o pianista deficiente”, “Como toca bem aquele menino cego”, “Mesmo na cadeira de rodas ele toca bem”. Sairia em jornais como se fosse uma vitória do homem sobre um grande problema, ate seria, se não fosse abordado como o deficiente pianista e sim o pianista que, assim como todos, tem seus problemas. Unir um talento a uma deficiência não é e nunca será um elogio. Mas vale o Grande Mauricio, divertido, alegre e de bem com a vida, do que “O Pianista Cego”.