Bar do Juca - Parte 1

Uma arapuca no fim da Rua do Fogo, freqüentada por toda sorte de vagabundos e prostitutas. Na frente, as mesas, todas bem cuidadas e alinhadas, coisa fina lá no Juca. Não podíamos culpar as mesas por uma partida mal jogada. Sempre foi assim, toda semana havia medidas e acertos. Tudo pra ficar equilibrada e continua. E todos eram exigente em relação as mesas. Sensíveis a qualquer desnível que atrapalhasse as jogadas.

As vagabundas ficavam desconsoladas, geralmente fumando e pedindo bebida de graças aos frequentadores. Umas aproveitadoras, que dava pingo d’agua pra tirar dinheiro dos coitados que passavam por lá. Havia as velhas putas, que estavam há muitos anos no profissão. Dona Barbara, Dona Serena, Chiquinha Cruz, Marinete, acabadas, tristes, não carregava mais ilusão nenhuma, uma cara de enterro, que só atraia a atenção pelo desgosto que carregava. Ninguém mais olhava. Salvo tarde da noite quando a cachaça tirava a pouca honra que sobrava aos homens, ou se o dinheiro minguado que não desse pra agradar as menininhas novas, suaves e ainda vivas, que vinham de Brumado pra fazer vida longe dos pais. E eram várias, todos os tipos, loirinhas, morenas, negras. Sararás, magrelas, umas gordinhas que chamavam atenção pela preciosidade que davam ao trabalho. No final do salão, havia uma cortina de plástico desfiada, de varias cores que separava a bar em dois ambientes. No fundo ficava os quartos, onde as mulheres atendia e ganhava seu dinhero. Algumas moravam ali mesmo, em condição de abandono e sujeira. O ambiente no fundo era uma depressão só, a luz vermelha deixava tudo azedo e escondido, os rostos rodeados de fumaça e agonia, dava um aspecto de preguiça as mulheres que ficavam daquele lado. O lado de cá, perto das sinucas, era mais alegre. As mocinhas gostava mais de ficar por aqui, bebendo, rindo, se exibindo e mais próximo do dinheiro. Era comum ouvir história antigas, onde as velhas senhoras, ainda na flor da idade se exibia alegre pelo sãlao, cheia de energia e alegria. Agora causa apenas constrangimento a permanência delas por aqui , envergonha saber que ficam a noite toda sentada e a na maior parte das vezes não consegue um único cliente, enquanto as meninas jovens decidem com quem vai ficar, de tão belas que ainda são.

Mocinhas ainda ameninadas cheia de espinhas no rosto. Que de boba não tinha mais nada. Inocência pervertida, estragada, sabiam tudo sem carregar aquele mistérios que as pessoas sábias carregam, numa banalidade sem sentido. Em termos profissionais sabiam tudo que uma puta velha sabia, com a vantagem de ter ainda as carnes firmes e aquele jogo juvenil que faz os velhos parecer garotos descobrindo segredos.

. Eram disputadas, acarinhadas, ganhavam presentes e dinheiro, mais ainda dos mais abastados, homens da praça, que tinha sua fazenda, seu carro e sua esposa séria em casa. Um deles José Madureira, ou Doutor Madureira, era o que mais chamava atenção. Um homem religioso que na praça andava pregando como a vida estava desregrada, as pessoas não vão mais a igreja, não se apegam a Deus e vive a desrespeitando a família. A noite, pela madrugada, quando sua esposa estava na fazenda, ele aparecia. Sentava na mesa, bebia sem fim, e quando estava bêbado se jogava nos braços das negas, duas ou três. Nunca se apegava a nenhuma, mas deixava muito dinheiro. Desse jeito era sempre bem vindo. Um homem religioso, mas com o mesmos defeitos dos pilantras mal caráter que fazia o dia-a-dia do bar do Juca

Muitos filhos eram iniciados ali, na arte do sexo e da jogatina. Os homens sérios acompanhados de seus moleques de 13, 15 anos, sem graça e desamparados, iam para os fundos, onde confiavam sua cria à benevolência sexual da moças. As meninas disputavam a tapa quem iniciaria os meninos novos que aparecia. Era um marco profundo. Isso elas sabiam. Ficaria pra sempre no imaginário deles, em forma de reconhecimento. Era o pão de amanha.

Os pais ficavam esperando. Ansiosos. Quando o moleque aparecia, com olhar perplexo, davam risadas e ofereciam cerveja. O rapazinho, tremendo ainda, era já homem respeitado. Já podia beber, fumar, e conversar junto aos adultos

Sem causar estranheza, já que tinha finalmente benção de seu pai. Passou pelo teste fundamental, gostava da vida masculina.

O antro era famoso não só na cidade como nas aldeias da redondeza. Dava dó dos trabalhadores do campo, gente pobre miserável que nos finais de semana torrava todo seu dinheiro, perdendo no carteado ou na sinuca, para os ratos que praticamente moravam aqui, uns sangue-suga que vivia do jogo e da exploração de otários que achavam que podiam ser malandro . Ambrosino era um desses. Era muito raro vim aqui sem ele estar sentado em sua mesa, fumava um cigarro atrás do outro, fedia a cachaça, não dava atençaõ pra qualquer um. Um ou outro mais chegado que ele conversava. Desconfiado, astuto, puteiro e manhoso. Não falava uma palavra sem que uma avaliação passasse antes pela sua cabeça. Ficava na mesa do canto, perto das cortinas, um olhar na mesa outro nas piranhas. Ele tinha a putinha dele preferida, Gorete, a mais bonita de todas, assim eu achava. Ninguém tocava. Ele mantinha suas roupas e sua feira. E quando viajava pra casa do pai, recebia um garagau que entregava á mãe, que morava nos confins do Mangerona, e nem sonhava que sua filhinha tão linda era uma vagabundinha relenta na rua do fogo, mantida por um vagabundo que nunca trabalhou.

Muitas vezes eu vi, ela tocando seus culhões por baixo da mesa enquanto ajeitava as cartas. Ele tremia e ela com cara de safada mordia os lábios. Aquilo me excitava, ver em estado bruto uma mulher desinibida. Ele tinha uma imagens repugnante, o que me deixava encabulado como aquela coisinha se apegou a ele. Não sei como.

Foi com Marilinha , uma moça de Itororó, que me iniciei no sexo. Ela ficou pouco tempo, uns meses apenas. Dizia não ter jeito pra isso, que só estava nessa vida, porque não sabia fazer outra coisa, e o pai doente não levava mais dinheiro pra casa. Dizia culpada, mas o pouco que ficou morando aqui, num quarto escuro e úmido nos fundos da casa, deu pra quase toda cidade. Ela atendia cinco seis toda a noite. muitos aqui queria apadrianhar , ser seu homem exclusivo, seu dono. Mas ninguém conseguiu, era tão desnorteada que só sentia gente, trepando com muitos homens. No dia que fiquei com ela, passei quase a noite toda tomando coragem. Meu pai jogando me olhava pedindo ação. Com dinheiro na mão que ele havia me dado mais cedo, entrei no seu quarto. Estava deitada, com jeito de exausta, vestida apenas com a parte de cima. Bêbada e não falando coisa com coisa. Entreguei o dinheiro e ela simplesmente abriu as pernas. Estava tão excitado, gozei em poucos minutos, mandou me limpar e perguntou do meu pai. Queria saber se ele não ia se encontrar com ela naquela noite. Começou a chorar enquanto eu me enxugava. Foi terrivelmente deprimente. Logo ela foi embora e não me deixou nenhuma saudade, apesar de ser grato, pelas pernas que ela abriu.

Juca, um tipo gordo, que falava muito, tinha palavras diferentes na boca, dava conselhos e amava falar mal da ex-mulher que foi embora com um amigo. dizia que era uma cadela, mal agradecida, uma sem-vergonha. Era bonito a certeza que ele dava a esses termos. Sua vida era o bar e a mãe entrevada que ficava atras da parede do balcão. Um velha magrela, muito feia e acabada, que tossia o tempo todo, escarrando e chiava o peito, num barulho que embrulhava meu estômago. Uma asma crônica que não sarava nunca. A cada rodada que servia, voltava pra mãe e pegava em sua mãos. A velha falava com esforço. Teve um dia que passou o dia injuriado com a vida, se desligou da velha. A coitada morreu amingua, sem ele perceber. Quando a noite, foi degradante ver Juca chorando, com a difunta no colo dizendo que cuidaria dela a vida toda. Desde então o homem parece um bicho, mais peludo que um macaco, não se cuida e bebe mais que os fregueses. Nem parece o Juca que a gente gostava de ouvir ...