A estrada

De repente eles se encontraram no entroncamento entre duas estradas e a felicidade foi instantânea. Muitos e muitos quilômetros atrás eles haviam se separado e jamais imaginavam que pudessem voltar a se encontrar, nem mesmo que as estradas que eles haviam trilhado se cruzariam novamente. A surpresa tirou seus fôlegos e deu novo ânimo para que continuassem a jornada, que eles sabiam bela, mas longa e difícil. Desta vez, iriam juntos.

Mas como caminhariam? Pensaram em várias formas e discutiram as possibilidades. Sendo ele mais forte e rápido, no início pensaram que ele poderia ir atrás, empurrando-a para apressar o passo. Parecia ser uma ótima solução, pois ele poderia imprimir aos dois um ritmo mais rápido para que chegassem antes ao seu destino.

Porém ela, sozinha, não conseguia prestar atenção simultânea ao ritmo, às paisagens e aos obstáculos que havia na estrada – e de fato havia muitas pedrinhas traiçoeiras, nas quais ela frequentemente tropeçava e caía. O passo mais lento dela às vezes não conseguia acompanhar a cadência imposta; e ele, por estar atrás dela, não conseguia ver o caminho e por vezes a empurrava na direção errada.

Decidiram então que ele, por ser mais corajoso e ágil, iria na frente, puxando-a e eliminando imediatamente as barreiras que surgissem. Mas também não foi muito bom, porque em determinados momentos a ansiedade dele, junto com a poeira, criava miragens que o faziam ver obstáculos que não existiam; e ela, sem poder ver o caminho à frente, ficava cansada, apreensiva e temerosa.

Tudo isso os deixou exaustos e assim pensaram em, na próxima bifurcação, cada um seguir sozinho por uma estrada, aguardando passivamente um novo entroncamento que os unisse pela terceira vez. Até que tiveram uma idéia salvadora...

Eles iriam juntos, de mãos dadas. Lado a lado, cabeça erguida. Seriam quatro olhos para observar a direção correta e superar os obstáculos reais; o calor das mãos deles, uma aquecendo a outra, traria a cada um a paz e a confiança de que necessitavam para continuar. E a ligação das mãos os manteria num ritmo cadenciado, no qual um seria capaz de acompanhar o outro, diminuindo ou aumentando o ritmo de acordo com as necessidades ou vontades de cada um, mas sempre em conexão com a possibilidade de ambos.

Quem vê os dois assim unidos jamais pode imaginar a linda história de encontro que eles vivenciaram – e nem imagina nenhuma possibilidade de desencontro. Em que medida a estrada é longa, estreita, difícil? Para eles, esses dados não mais importam, porque a beleza das paisagens que seus olhos observam juntos é o que os motiva a seguir.