A Terra dos Sem Queijo

Parte I

Na plantação do Sr. Leitão

não tem feijão,

não se colheu trigo

não se planta aipim,

o senhor Cabrito já anda aflito!

E dona Cabra não tem leite

pra alimentar os cabritinhos!

Dona Galinha não põe ovos,

porque não come bem,

e o que tem

guarda para os pintinhos recém-nascidos,

coitadinhos, tão fraquinhos!

Olha lá o seu Zebu,

de tão fraco perdeu a pose,

agora vive cabisbaixo, com cara de urubu!

E o senhor Cachorro, coitado!

Vive triste, acabrunhado, sem força pra latir!

Leitão, cabra, cabrito,

galinha, vaca, periquito,

a bicharada reunida,

sem saber qual a saída

de um pobre povo sofrido,

que não planta, e não produz ...

Por causa de um tal rei Henrique,

que só compra queijo importado,

e pra pagar a conta do queijo

vende a terra da bicharada

que não consegue plantar nada!

Falta dinheiro e semente,

falta saúde pra'quela gente,

que só vê fome e tristeza,

e diante de tal pobreza

esquece até de sorrir.

Ah! Que feio rei Henrique!

Vender as terras do povo,

só porque quer queijo de fora.

Mas, para dar um jeito nisso,

haverá um compromisso

que o rei terá de cumprir...

Eis que o milagre acontece,

e uma luz se acende:

Reunidos na fazenda,

o senhor Leitão, o Seu Cabrito, dona Cabra

o senhor Zebu, dona Galinha, o senhor Cachorro,

até o Pato e dona Patinha,

dona Vaca também foi.

Amigos estamos aqui; dizia o senhor Leitão,

pra resolvermos a questão.

Isso mesmo!- disse o Cabrito,

todos juntos seremos fortes,

quero ver o rei Henrique tremer diante da corte!

Mas como enfrentar o rei Henrique?

Falou dona Galinha,

que só de pensar no assunto,

já foi perdendo peninhas

Calma, Dona Galinha, a senhora é muito frágil,

mas precisa aprender

que quando a gente se une,

fica forte e pode até vencer!

Isso mesmo! Disse o leitão.

Vamos nos organizar; levar nossas enxadas

e amanhã bem cedinho partiremos para o Palácio...

No horário combinado,

partia a bicharada,

unida e decidida a mudar a própria sorte.

Produzir de novo queijo,

plantar milho, trigo, feijão,

e fazer nascer plantação ·

Na Terra dos Sem Queijo.

Foi na praça, em frente ao paço real,

que alguém viu a bagunça e quis saber o que era ...

Percebeu que, de perto,

não era bagunça aquilo,

era uma passeata de trabalhadores do campo.

Que legal! Disse Chicão que não era bicho, era um frade,

mas em seu peito batia um coração de leão!

Bom dia, pessoal !

Posso me unir a vocês?

E o que o senhor faria?

disse o leitão,

num certo tom de ironia.

Posso ser útil, meu amigo.

Além de rezar missa,

uso a minha palavra,

para lutar por Justiça!

Venha comigo, vamos nessa!

respondeu o Leitão;

De justiça nós precisamos.

E se sua palavra é forte,

irá mudar a nossa sorte

e o Rei entrará pelo cano.

Um momento, disse o Frei.

Precisamos ser ousados,

mas pra tudo na vida

tem que haver organização e respeito.

Nossa bandeira será a terra,

nela, plantando, tudo dá,

mas para termos essa benção

é preciso respeitá-la.

Brigar, não pela posse,

e sim, pelo empréstimo que se dá,

pois muitos irmãos com fome

ajudaremos a alimentar!

Seremos organizados,

um Movimento vamos criar:

O MSQ, o Movimento dos Sem Queijo,

Porque o Rei tem que aprender a não usar o artifício

de comprar o queijo estrangeiro e pra conseguir dinheiro,

vender a esperança de um povo da terra sobreviver.

A terra é vida, não é fome!

Na ponta de cada enxada

o Frei colocou uma bandeira

improvisada com a cortina da igreja.

Pronta a passeata, seguiram

em direção ao palácio

rei Henrique, que fora avisado,

furioso, aguardava a turma de “desordeiros”

Soldados, todos a postos,

levaram o maior susto!

Porque, em vez de bagunça,

a turma do Frei Chicão

emocionada cantava

um lindo e forte refrão:

..Aqui um novo mundo é possível, se a gente quiser...

Parte ll

Bandeiras tremulando, que beleza de se ver !

A união de um povo que só queria de novo,

plantar, colher e comer ...

O rei Henrique não estava

pra muita conversa,

pensava em viajar

pra a terra do queijo importado,

de avião particular,

Pois não abria mão

de viajar de avião.

Enquanto seu povo , coitado,

não conseguia, sequer,

comer um pedaço de pão !

O Rei falou com desdém:

Vamos, digam a que vieram,

Pois não tenho muito tempo!

Negócios me esperam.

Devo comprar queijo pra Corte!

É sobre o queijo, Alteza

disse o Cabrito, ligeiro:

Precisamos que o Senhor

devolva-nos o direito de plantar pra viver!

Também queremos recursos

e a certeza de ter onde vender todo o queijo

que pretendemos fazer.

Fundaremos uma cooperativa

para lucros dividir.

Desta forma nossa família terá o que comer!

Com o que sobrar compraremos

máquinas para colher

Vejo que estão bem espertos,

já falam em lucros!

E de quem é essa idéia da tal cooperativa?

Vocês estão malucos?

Nasceu entre nós a idéia, disse o Frei.

E não estamos malucos.

O senhor sim, Alteza, parece perder o juízo

comprando queijo de fora.

Com isso mata de fome um povo

que luta pra viver com dignidade!

Como se isso não bastasse,

da Terra o Senhor faz comércio, como se ela fosse sua.

A terra não é de ninguém,

A terra é Mãe, é farta...

Depois de muita conversa,

bem que o Rei Henrique tentava,

mas a turma toda pressionava,

e o Rei então se cansou.

Decidiu firmar um contrato

com o tal MSQ.

Por certo, contrariado,

pagou o queijo adiantado,

dava gosto de se ver!

A bicharada em festa,

em passeata de novo,

comemorava a vencida batalha,

graças à luta de todos, com o apoio do Frei,

que, com palavra e coragem ,

ao Rei enfrentou, sem maldade,

apenas co' a serenidade

e força para vencer.

Frei Chicão alegre estava,

pois a esperança brotava

nos olhos daquele povo,

que descobrira a coragem

pra lutar por Justiça, Trabalho, Dignidade!

E, de volta pra roça, cantavam

o lindo refrão da vitória:

Aqui um outro mundo é possível, se a gente quiser...

Fim

Escrito em junho de 2002.

luapreciosa
Enviado por luapreciosa em 15/01/2007
Reeditado em 19/01/2007
Código do texto: T347981