Quando o céu cair na sua cabeça

- cuidado com essa chuva, menino!

- Vó, posso ficar só mais um pouco?

- Logo você entra,

Fiquei pulando na chuva. De lá de fora, via minha vó na beira do fogão, tomando café e mexendo na panela. O céu está todo preto, as nuvens carregdas está assim toda a manha. Gosto de tomar chuva, me sinto feliz quando a água toca no meu rosto. Minha não sai da cozinha, cuidando de tudo, da comida, descascando batatas, ou cantado feijão. Nossa casa fica perto do rio. É toda de adobão, sem reboco, o chão é de terra batido. Quando chove, o chão escorrega. Mora somente eu e minha vó. Ela vive pra mim e eu pra ela. cuidamos um do outro. Moro aqui desde que minha mãe foi embora com um homem da firma. |Por mim, eu nem ligo mais pra ela. foi embora mais nem faz falta. Minha vó nem fala no assunto, mesmo quando eu pergunto ela fica quieta. Diz apenas que logo ela volta, “Quando o céu cair na sua cabeça” Não penso muito nisso não. Só quando não tenho nada pra fazer que dar um pouco de saudade. Minha mãe era diferente da minha vó, sabe um monte de coisas diferentes. Viajou pra muitas cidades e aprendeu muitas palavras. Minha vó não tem essas preocupações. Não sabe ler e escrever, e tudo que fala é errado. Na escola algumas pessoas riem quando eu abro boca, porque aprendi assim e é difícil esquecer das coisas que agente aprende em casa. Ela é muito simples, eu gosto dela desse jeito, é facil de saber o que ela está falando. A professora que tenho não, demora muito pra eu entender. Acho que é por isso que não gosto de sair de casa, nem ir escola, nem ter amigos, porque todo mundo fala de um jeito diferente. Me sinto estranho no meio dessa gente. Gosto mesmo é de ficar com minha vó, ouvindo sua histórias e comendo as coisas gostosas que ela faz no fogão.

- entra, logo diabo, o que você fazendo nessa chuva?

- Já vai, vó, mais um pouquinho

- A noite fica tossindo me dando trabalho, peste!

Muitas vezes fico doente. É asma. O médico disse que é saudade, por isso fico assim. Um aperto no peito. Uma vontade de não estar em lugar nenhum. Quando fico no molhado pode acontecer. Por isso ela está me gritando. Tem medo de eu morrer, eu acho. Ela ficar sozinham, sem ter ninguém. Quando fico doente, ela passa a noite toda comigo no colo, dando todo tipo de remédio e me cuidando, dá até vontade de chorar de tao triste que ela fica. Só quero abraçar ela nesse momento. E ficar pra sempre em seu colo. Ela me faz sentir seguro.

- vem, fi, tá bom já. A vovó ta preocupada

- já vou, estou indo!

Na cozinha ela me deu uma toalha pra enxugar, colocou mais lenha no fogo. Perguntou se eu queria café, eu disse que sim, um copo grande, saindo fumaça. o fogo ficou grande com os gravetos que ela colocou. Meu pés estão gelado. Sentei no baquinho e fiquei olhando minha vó preparando o jantar.

- vó, amanha se chover você deixa eu brincar de novo?

- Só se for chuva de raposa!

- Como assim?

- Dessas que vem o sol junto...

Abracei sua cintura e ela me deu uma tapinha na cabeça.