Aprendiz
- Estrada ruim, da porra!
Meu irmão dirigia assim, xingando a estrada. Cada buraco que passava soltava um palavrão. E depois das chuvas toda a estrada está estragada. De Potiraguá até Itarantim, ouvi mil palavrões. Meu irmão era diferente do meu pai, que raramente dizia algo que fosse agressivo.
- Essa desgraça não chega nunca.! Tanto roubo e eles não arrumam a estrada!
Ele era meu irmão mais velho. Bem diferente. Foi morar muito cedo com meu avô. Por isso é diferente. Fala igual homem desde muito moço. Já ganha seu próprio dinheiro. Não gosta muito de meu pai , que quer todo mundo pensando como ele.
-E ai, já comeu alguém
- Não, ainda não não!
- Vou te apresentar uma mulher. Ela é mais velha!
- Não sei não...
- Quando tinha sua idade já tinha ficado com mulher!
Numa curva passamos num buraco e pneu estou, andamos mais uma centena de metro até conseguir parar no acostamento. Parou o carro batendo do volante, a buzina disparada.
- Desgraça!, Ainda mais essa agora!
O Jeito dele me assustava. Era muito brabo, e cada palavrão me fazia encolher. Nem meu pai, nem minha mãe falava desse jeito. Sempre estavam preocupados com as palavras que saiam de sua boca.
- O que foi?
- Nada!
- Pega no porta-malas a chave de rodas – disse enquanto mijava na beira do asfalto. Acendeu um cigarro e entre fumaça e outra soltava frase soltas, falando da vastidão do mundo, e logo disse que tem vontade de ir embora daqui. Balançou e guardou seu pênis.
- Não quer mijar? Mija ai!, vamos demorar pra parar!
- Não quero não!
- Tem café na boléia, se quiser...
-
Enquanto ele trocava o pneu eu encostei o barranco e fiquei observando ele trabalhar, sua destreza e a forma natural como encarava os problemas....
- Você é muito calado. Ninguém gosta de gente assim.
- Não tenho nada pra falar.
- Como não! Que merda de mundo você vive.
Fazia força pra apertar o parafuso, soltava um grunhido. Tinha o braço muito forte. Sua cara amassava conforme torcia a chave.
- e ai, vai querer ver a mulher que te falei. Te deixo lá e te pego mais tarde. Ela é gente boa. Que idade você está agora?
- Catorze!
- Ta na hora!
Entramos no carro e rumamos em direção a cidade. Na praça dos correios, paramos numa casa grande e antiga, estilo barroco, a melhor casa da rua. No banco estava uma moça, que deveria ter uns 30 anos, bem cuidada e vestida.
Cumprimentou meu irmão e olhanto pra mim disse:
- é ele?