"DIÁRIO DE UM MENOR ABANDONADO"

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CRISTO, fazei com que eu nunca seja responsável, nem mesmo esteja incluído entre aqueles que contribuiram para que uma criança chorasse por dor, por medo, por ressentimento ou por mágoa ...

. ADEMIR RÊGO DE OLIVEIRA

OFERECIMENTO:


A meus pais pelo que sou...
A minha esposa por sua dedicação...
A meus amigos pelo estímulo...
Ao Cristo por minha inspiração...

Pela participação de cada um em cada linha, minha eterna gratidão.


RESUMO:
“Não vai neste livro nenhuma crítica a quem quer que seja; suas linhas refletem, apenas, pontos que nós podemos e devemos valorizar antes de qualquer julgamento que implique a pessoa do próximo.
Nossa sociedade considera qualquer criança que vive maltratada, desprovida de assistência, um “menor abandonado”. Só que o abandono, às vezes, não é por culpa exclusiva de seus pais. Quantas vezes eles foram obrigados a estenderem responsabilidades da manutenção do lar aos seus filhos, em qualquer idade! Será que não há um meio de apagarmos essa tristonha etiqueta que rotulam as crianças mais necessitadas? Será que não podemos evitar que uma criança se torne “um menor abandonado”?... será?...”


O autor
(ARO)

Índice:


O DIÁRIO DE UM MENOR ABANDONADO.

-DEPOIMENTO ..........................................................................
-SEM MEUS PAIS.......................................................................
-MEUS AMIGOS DE ORFANDADE ...................................................
-FUTURO INCERTO ....................................................................
-NA ADOLESCÊNCIA ..................................................................
-GRAVES CRISES.......................................................................
-FIO DE LUZ E AMOR .................................................................
-AGRADECIMENTO .....................................................................

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“QUALQUER SEMELHANÇA COM FATOS E PERSONAGENS, AQUI DESCRITOS, SERÁ MERA COINCIDÊNCIA, A NÃO SER QUE QUEIRAS PARTICIPAR DESTE DIÁRIO.”

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DIÁRIO DE UM MENOR ABANDONADO.
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DEPOIMENTO.

Eu sou um menor
Ouvi dizerem: abandonado.
Talvez porque meu pai, pobre coitado,
Ou porque minha mãe com seu suor,
Não tivessem condição de me manter.
E por isso, hoje, eu não sei ler!

A escola eu desconheço,
Nunca estive ali ocupando lugar.
Como eu disse: dinheiro se via faltar,
E papai sempre atrás de qualquer endereço,
Sem sorte, em nenhum conseguia os dados preencher.
E por isso, hoje, eu não sei ler!

Quando eu tentava então ajudar
Como engraxate, na esquina local,
Vinha o guarda, um cara legal,
E pedia-me que saísse do lugar.
Escondendo-me dele, eu tentava viver.
E por isso, hoje, ainda não sei ler!

Eu não culpo Alexandre, o policial,
Nem culpo meus pais, afinal também sofreram,
Principalmente agora que a vida perderam
E se encontram com Deus no reino celestial.

Eu espero um dia que alguém me ensine a ler
Para a meus pais então escrever!

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O DIÁRIO DE UM MENOR ABANDONADO


Eu não sabia e nunca entendi os motivos de eu ter
nascido pobre e o Julinho, o Ricardinho, o Gabrielito,
a Aninha e muitos outros, quase da minha idade,terem
nascidos ricos se nasceram da mesma forma que eu. Só que eles tinham de tudo: bicicletas, carrinhos, bonecas; sempre tinham dinheiro para comprar doces e balas; estavam todos os domingos na matinê do cinema... enquanto eu vivia na minha pobreza, nem roupas novas eu tive, pelo menos que eu me lembrasse.
Eu jamais pensei em culpar meus pais. Eles viviam da mesma forma que eu: roupas velhas, mesma comida, mesmo teto no mesmo barraco... O povo é que andava resmungando:
-Eu tenho pena de você, Robertinho. Um lindo menino e vive tão abandonado! ...
Eu nunca entendi o termo “abandonado”. Só se o termo se aplica a todos que não apresentam condições de viverem do luxo e da comodidade deste mundo. Eu lamento essas observações que o povo faz. Eu não sou tão abandonado quanto eles pensam, eu creio. Aliás, se eles me consideram assim “abandonado”, porque não me ajudaram a arrumar um emprego para meu pai? Se ele tivesse esse emprego fixo, com um salário descente, nós não viveríamos no merecimento da pena de todos.
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Eu acho que, se alguém merce sua piedade, fazer por onde ela cresça é o melhor remédio, é a maior prova de fraternização e de amor ao próximo.
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“A maior ajuda que alguém poderia dar a quem vive de misericórdia é oferecer-lhe um emprego digno e honrado...”
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SEM MEUS PAIS.


Meu pai não me viu com três anos:
Faleceu quando ia a busca de emprego...
Minha mãe sustentou-me no sossego
De um tanque a lavar panos...
Quantas saudades ela me deixou,
Pois, só até sete anos, ela me amou...

Há dois longos anos eu vivo sozinho.
O tempo passado só tem me trazido saudades...
É claro que eu tenho encontrado bondades
Naqueles que viveram com meus pais, como vizinhos.
Quantas saudades eles me deixaram.
Queridos pais, que tão pouco tempo me apoiaram...

Infelizmente, hoje, eu vivo de tristezas.
Os vizinhos já não podem mais me sustentar:
-“Agora já é hora de você se arrumar...”
E com quase dez anos eu já me via na dureza,
Na procura de conseguir “o pão de cada dia”,
Tudo porque meus pais partiram. Como eu sofria!...


Minha vida começou a desmoronar quando, ainda com três anos de idade, eu perdi meu querido e dedicado paizinho. E no justo momento em que ele descobrira um local que poderia aceitá-lo como empregado, ele foi atropelado. Se nossa vida já era difícil, agora, tudo ficou pior...

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Mamãe passou a fazer de tudo: as tarefas dela e as do papai...
Ela passou até a lavar e passar roupas para a vizinhança, e acho que isso antecipou a morte de mamãe que veio a falecer quatro anos depois que nós havíamos perdido papai.

Agora, sozinho, quem iria me amparar? Parentes, eu desconhecia... Agora sim, sem meus pais, sem parentes, o povo poderia me chamar de “o abandonado”.Abandonado, não pela irresponsabilidade
de ninguém , mas sim, porque da triste morte ninguém escapou até hoje, e jamais escapará.

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Dona Zezinha, minha vizinha, resolveu aceitar-me como se eu fosse um dos seus filhos, que já eram cinco. Esta senhora também era viúva e vivia da pensão que seu marido deixara. E por isto, eu me vi na obrigação de ajudar D. Zezinha fazendo alguns biscates.
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MEUS AMINIMIGOS DA ORFANDADE.

Sem meus pais e com pouca idade,
Sem conhecimentos nem malícia,
Quantas vezes eu estive envolvido com a polícia.
-“Vagabundos que sujam a cidade...”
Era o que sempre eu ouvia falar.
Mas, emprego era tão difícil de arrumar!...

O pior é que eu fui me unindo à malandragem.
Muitos como eu, moravam no morro.
Às vezes, eu sentia vontade de pedir socorro,
Mas, como eu era fraco e me faltava coragem!...
Logo fui me acomodando neste defeito;
Até fiz do banco da rua o meu confortável leito.
Comecei pelo vício de fumar,
E sem dinheiro, os cigarros eram cedidos.
Tinha que aceitar qualquer um, não tinha sentido
Exigir quando eu não podia pagar.
Desta forma, muitas vezes eu me peguei
Com cigarros tão fortes que por vezes me engasguei.

Eu me tornava um viciado.
Eu sentia e quase nada eu podia fazer,
Afinal, nem ao menos eu sabia ler
Para me tornar um homem assalariado
E fugir do ambiente, que eu sabia ser incerto,
Para outro que não me deixasse ali tão perto.

A pior das piores das fases do meu início devida foi quando D. Zezinha deu-me acolhida. Seusfilhos eram viciados, mas eu não sabia.
Eu comecei fumando cigarros comuns. Estes me foram oferecidos pelos meninos que fumavam até mesmo diante de sua mãe. Depois, sem que eu percebesse a diferença, eles me davam cigarros “preparados”. Eu só cheguei a uma conclusão quando fui tomado por uma indiferença e pela falta de sinceridade para com tods que me cercavam. Eu cheguei até a dormir, várias vezes, ao relento – naquele estado eu me sentia romântico dormir acobertado pela lua e pelas estrelas. Mas, na realidade, era uma afronta aos cuidados que recebia daquela senhora.

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Eu tanto fiz que D.Zezinha não mais me suportou. Pediu-me que eu procurasse um outro lugar para eu me acomodar, pois eu estva dando maus exemplos aos seus filhos – o que ela não sabia é que a minha caída moral era culpa única e exclusiva dos seus queridos “anjinhos”.
Eu não discuti, nem mesmo delatei seus filhos, afinal, seria muito mais duro para ela, que durante três anos e meio ficou no lugar de minha mãe, e eu já a estava considerando como se realmente ela fosse... Por isto é que eu assumi toda a culpa daquela sua revolta para comigo.
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FUTURO INCERTO

No meu otimismo, eu só queria mudar.
Precisava alterar o meu destino
Embora ainda fosse à época um menino,
E cabia aos adultos me absolverem sem me julgar.
A minha situação drástica e embaraçosa
Era digna de pena das pessoas mais piedosas.

Porém, meu pessimismo era mais forte
E se empenhava em fazer-me duvidoso,
Mostrava-me um futuro completamente desastroso,
Tão mesquinho quanto minha sorte
Que me acompanhou na infância frustrada,
Que me deixou órfão nesta escalada.
Triste é que sonhava em ser um doutor:
Médico ou Advogado, ou mesmo um Engenheiro,
E ao mesmo tempo eu me sentia prisioneiro
De uma vida vazia, até mesmo de amor.
Somente um sonho e muita saudade
Eram as minhas armas, além de grande vontade.

Do quartel eu me livrei e emprego fui procurar.
Não podia mais viver como até agora me arrastei...
Mas, sempre um “mas” – eu nuca estudei!
Tudo se me tornava difícil de ajeitar.
Roupas rotas me tornavam mal arrumado,
Sem instrução... Nunca passei de um “pobre coitado”...


Depois que eu deixei a casa de D.Zezinha, eu voltei para o barraco de meus pais que nunca abandonei. Quase sempre eu voltava lá para deixar arrumado o que ainda havia, justamente como minha mãe sempre o fizera.
Agora, sozinho novamente, eu vivia de saudades e lamentações pela falta de meus pais. O que me tornou mais triste ainda foi o abandono do povo local. Eu jamais pensei que isto me fosse acontecer... mas, aconteceu.
Na minha solidão, pensamentos mil se formavam em minha mente. Sonhos se me surgiam na tela da minha imaginação. Mas, ao mesmo tempo, como fumaça, eles desapareciam no ar. Creio que sonhava sonhos impossíveis.
-Eu queria ser Médico... salvar vidas... curar feridas...
-Eu queria ser Advogado... condenar marginais... absolver os inocentes presos por engano da lei...
-Eu queria ser Engenheiro... construir casas para tirar
o pessoal dos barracos... construir prédios...

Eu queria e ninguém poderia me impedir de querer, mas eu sabia que era tudo uma falsa pretensão, uma miragem, um desabafo para continuar vivendo...

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Chegou então a época de eu me alistar nas forças armadas e me apresentar no quartel. Não foi difícil me livrar daquela responsabilidade cívica, coisa que hoje eu lamento. Eu deveria ter assumido e, além de ter servido minha Pátria, poderia lá dentro mesmo, ter um futuro promissor.
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-Mas eu não tinha quem me orientasse...
-Mas eu tinha muito medo de não ser aceito por ser analfabeto...
-Mas eu também tinha medo de encontrar outras pessoas como aquelas que eu me envolvera um dia...
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Enfim, o medo tomou conta de mim e deixou-me um futuro duvidoso pela frente.

NA ADOLESCÊNCIA.

Minha fase de adolescência é vazia, negativa.
Nada me ocorreu nesta fase de minha história,
Eu nem me senti passar da infância simplória.
Tudo tão negro, negro com uma tarde tempestiva:
Sem garotas que me aceitassem namorar,
Sem sadios amigos que me pudessem aceitar...

Pra falar a verdade
Eu nem me lembro de quando faço aniversário!
Tudo pra mim foi tão confuso e arbitrário
Que nem sei o que sou, com sinceridade!
Será que sou mesmo gente?...
Será que eu vivo realmente?...
Sabe, eu conheço um cinema pelo lado de fora.
Como eu sinto a falta de vocês, meus pais!
Será que seria pedir demais
Querer estar com vocês agora?!...
Às vezes, eu sinto que devo morrer
Para aos seus braços correr!

Até para morrer me falta coragem...
Sinto medo da vida, do mundo, da sorte...
Quem me dera algo me desse um corte
E me tirasse desta aventura sem vantagem.
E, a partir daí, eu poderia novamente crescer
Junto daqueles que me fizerem viver...

Já com onze anos eu me virava para comer. Engraxava, fazia mandados e levava as compras das madames, da feira até suas casas. O serviço não era duro, mas o tempo que precisava para me educar não havia. Ou eu trabalhava para comer, ou ia à escola e me alimentava com os livros e cadernos dos outros, já que nem mesmo poderia comprá-los.
Era uma vida difícil até mesmo de tomar uma atitude. Confesso até que, quando eu contava com aproximadamente quinze anos – acho que era isso porque todo ano, no dia de finados, eu ia ao cemitério, e eu já tinha ido umas oito vezes – eu pensei em me matar, tamanha era cada dificuldade que eu enfrentava.

Como era duro, gente!
Como eu sentia a falta dos meus pais!...
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Todos os dias, no horário da saída dos alunos do Grupo Escolar, lá estava eu. Era uma algazarra contagiante. Parecia que eles estavam enlouquecendo: corriam, gritavam, pulavam, derrubavam as pastas uns dos outros, “pastelão-quente” – como eles diziam, à medida que se jogava uma pasta no chão – e eu... eu apenas observava. Nada mais podia fazer a não ser observar suas brincadeiras, alegrar com suas alegrias, gritar com seus gritos, gargalhar nos seus tombos, anunciar a senha “pastelão-quente” em cada pasta que não derrubei...

Eu não podia me aproximar. Uma vez até que tentei – “foi durante um recreio”. Eu estava por perto trabalhando com minha caixa de engraxate. Os meninos discutiam porque em um dos lados havia um jogador a mais do que no outro, para iniciar a “pelada”. Eu me aproximei. Fiquei observando por algum tempo aquela cena sem que eles me notassem, nem que chegassem a uma solução para o problema. Sentindo que eles realmente não chegariam a um acordo, resolvi interferir:
-Olhem aqui... deixem eu entrar no jogo e ficará tudo certo...
Não terminei nem de falar, pois um dos meninos, o filho do açougueiro, me cortou:
-Não pode não, cara. Aqui só joga gente da escola e você... todo sujo e rasgado, não tem nem onde morar...Vê se te manca! Dá o fora!... Além do mais, você pode sujar a gente com toda essa graxa...
Eu era bem mais forte do que ele, mas, no momento, a humilhação foi tão grande e tornou-me tão fraco que até a suave brisa que soprava no instante poderia ter-me derrubado como faz com as folhas secas das árvores no outono. Abaixei a cabeça, coloquei-me no meu lugar de engraxate e fui engraxar sapatos...
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-“ Por que será que a vida apresenta tanta desigualdade entre as pessoas ?...”

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E assim eu seguia s minha vida solitária e indesejada...
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GRAVES CRISES.

Como tudo comigo dava em nada... quanta loucura!
Eu me perdi do controle de minhas ações.
Quando acordei, estava no meio de ladrões,
E a polícia estava em minha captura.
Foi coisa de um momento impensado...
Foi coisa de um momento desesperado...

Eu havia ajudado um grupo a assaltar,
E o dono da mercearia havia me reconhecido,
Por isso eu me tornei um foragido
E tive que sair para sempre daquele lugar
Onde eu nasci e fui criado.
Parti para longe, para um bairro afastado.
Ainda não tive paz nem tranquilidade.
Mesmo fazendo uma mudança radical,
Mesmo deixando de ser o animal,
Mesmo mudando de identidade...
As oportunidades não me favoreciam
Da sociedade, não me reconheciam...

Novas crises se fizeram surgir.
À minha vida não competia a honestidade,
Parecia obra da casualidade;
Parecia que meu destino era corrigir
Tudo quanto meus antepassados fizeram,
Tudo quanto prometeram e não cumpriram...


Até então tudo comigo era apenas tristeza.
O que eu não sabia ainda, e que estava por acontecer, é que depois de adulto ser, eu envergonharia e sujaria os nomes dos meus pais.
Com aqueles rapazolas da minha infância, todos atualmente na mesma situação que eu, joguei-me na trilha do banditismo e da desordem. Nós assaltamos a “Mercearia Alados” do Sr. Manuel que tantas vezes nos deu pão para amenizar nossa fome. É verdade que foi pão velho, endurecido, de dias anteriores, mas, que obrigação ele tinha de nos matar a fome?
Fato é que, quando nos retirávamos do estabelecimento do português, a minha máscara caiu e eu vi que ele estava olhando, e com certeza me reconhecera.
Tomado de vergonha e medo, eu resolvi sair de Mata Virgem para bem longe.
E eu parti...
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Chequei a Areal.
“Agora, tudo vai ser bem diferente...” – eu pensava com os meus botões. Ali eu não conhecia ninguém, e certamente ninguém me conhece, nem sabe de minhas origens, de meus erros, do meu assalto... de nada.
Comprei roupas novas, pois ainda havia sobrado algum dinheiro do assalto. Comecei então a procurar um emprego.
- O senhor tem o curso primário?
- Não, moço. Aliás, eu não sei ler e...
- Então cai fora! Isto aqui não é lugar para burro velho e ignorante.
Em todos os lugares que eu comparecia, o curso primário vinha à frente de tudo. Eu me desesperava a cada resposta negativa que ouvia.
Fui me irritando...
A irritação se transformava em ódio...
Quando eu percebi, já odiava a todos daquela cidade.
Voltei aos assaltos.

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Como tudo estava dando certo, agora, eu ia roubando... roubando... até que um dia...
- Mãos para cima, moço. É um assalto...
- Pois não, cara.
Espantou-me a frieza daquele homem. Estava tão escuro naquele momento que não pude vê-lo direito, e eu me assegurava o direito de não ser reconhecido por ninguém.
- Toma. Eu só tenho isto.
Quando eu estendi a mão... só senti o soco no ouvido que me lançou no chão. Tentei me levantar, mas um pontapé atirou-me novamente ao solo... e ali fiquei.
Ao tentar me levantar, pela segunda vez, senti-me agarrado e arrastado para um lugar mais claro, sob a luz de um poste, onde eu percebi que aquele homem era um policial, que me levou consigo.

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FIO DE LUZ E AMOR.

Eu já estava sem esperança.
Tudo para mim era com um revólver à mão:
Chegada repentina; saída rápida – a minha solução.
Eu roubava tudo, até doce de criança!
Eu agia conforme meus instintos comandaram...
Eu sobrevivia conforme me obrigaram...

Estive preso vários meses seguidos.
Revoltou-me mais ainda as surras que levei,
Pois tive que confessar até o que não roubei,
Tive que devolver até o que não havia possuído.
Quando eu sai, estava com mais ódio no coração,
E achava que meu caso não tinha mais salvação...
Novamente eu fui preso, novas surras eu levei.
Mas, desta vez, foi um pouco diferente:
O delegado parecia-me ser de fato outra gente.
Escutou-me o que de minha vida lhe relatei...
Ele ouviu-me e nada falou,
Apesar de eu sentir que o meu drama o abalou.

Uma semana encarcerado,
Fui chamado por um dos policiais.
Ao gabinete, com gestos bastante cordiais,
Eu fui levado e recebido pelo senhor delegado.
Getilmente, mostrou-me várias saídas
E que só dependiam de eu tomar certas medidas.

Eu jamais esquecerei aquele homem pela orientação dada, além do mais por ter me libertado naquele mesmo dia.
Quando eu ia saindo, ele me chamou e disse:
- Alexandre, vai em paz e leva isto contigo.
Era um envelope com algumas coisas em seu interior. Eu tremia tanto que nem pude abri-lo. Depois de ter conseguido me acalmar, abri o envelope. Dentro havia papéis e um pequeno “livro negro”. Eu nada entendia. Procurei alguém que pudesse me orientar:
- Este papel é uma “carta de recomendação”assinada por um tal de Dr. Herval Bello...
- Desculpe, amigo, – cortei-lhe – esse Dr. Bello é o Sr. Delegado...
O homem descupou-se comigo e continuou a explicar-me os objetos daquele envelope...
- Estas folhas são fichas para você procurar um estabelecimento de ensino e se matricular para iniciar seus estudos... e este livro é o “Novo Testamento”...
Deu-me vontade de perguntar o que era o “Novo Testamento”, mas eu não queria parecer tão ignorante...
Enquanto eu me dirigia à escola, mostrada por aquele senhor, deu-me uma louca vontade de rezar. Agradecer a alguém por tudo aquilo. Lembrei-me de um Deus e um Cristo que mamãe sempre me falou. Então, eu pedi ao Deus e ao Cristo que olhassem por aquele homem. Ele era digno de toda minha gratidão, mesmo que não conseguisse nada.
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Eu iniciei meus estudos.

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Quando eu aprendi a escrever, a minha primeira carta foi endereçada ao Dr. Bello e foi entregue em mãos para eu poder mostrar-lhe o quanto ele foi gente para mim.
Depois que ele a leu, eu o vi chorar o que provocou em mim, também, o choro. Os dois choramos feito duas crianças... cada um por seu motivo... e como eu estava feliz.
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Continuei estudando e me formei, não no médico, nem no advogado, nem mesmo no engenheiro. A minha formatura não foi no setor profissionalizante. Dediquei-me aos jovens abandonados de pais vivos ou mortos que procuram um conselho, ou uma carta de recomendação para poderem viver a vida que lhes foram impostas quando foram lançados no mundo.Eu tento dar-lhes o que na infância eu procurei, mas só encontrei quando adulto.
Eu não invejo a medicina – ela cura a dor física; nem tão puco a advocacia que autoriza o homem a julgar outro homem; nem mesmo a engenharia que abriga concretamente o ser vivo. Eu, hoje, vivo da cura do espírito, do julgamento da alma, da acolhida abstrata ao próximo com todo o amor, paz e tranquilidade.
-“Eu sou um Pastor e vivo a recolher rebanhos para o reino de Deus...”


AGRADECIMENTO.

Deus, Pai, Filho e Espírito Santo...
Não me deixe acomodar no pouco que sou,
Faze-me sempre lembrar daquele que me amou,
Acoberta-me com Teu eterno Manto...
Eu sei que sou humano e falho,
Mas, eu busco ser Teu Caminho e não um atalho...

Vinde em mim, Senhor do Universo Celestial,
Faze de mim Teu Instrumento de Amor e Bondade,
Atribui-me a força da grande responsabilidade
De juntar mais vidas esquecidas do bem material,
Revigora-me a cada instante em Teu Amor...
Usa-me para a Tua Glória, Senhor!
Eu Te sou grato, Meu Deus, mesmo na orfandade,
Tua Vontade estava no meu caminho.
Sei, agora, que era preciso eu viver sozinho
Para entender o valor da pura bondade...
Perdoa-me os momentos que me envergonhei
De fazer-Te uma prece. Eu sei que pequei...

E assim, Pai, eu me curvo aos Teus pés.
Reconheço-me nada ser...
Receio até ser um pouco tarde para reconhecer,
Mas, o que importa agora é ter consciência da fé:
A fé em Teu Amor que jamais me abandonou...
A fé em Tua Presença, estando sempre onde estou.


A D E M I R
Ê
G
OLIVEIRA


Profaro
Enviado por Profaro em 17/01/2012
Reeditado em 25/05/2012
Código do texto: T3445592
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