Os olhinhos que nem piscam.
Ali estavam. Sentados e concentrados: olhinhos que nem piscam. Nem pareciam aquelas mesmas crianças que corriam a pouco por toda a casa. Na ingenuidade de criança, bem à vontade, pés no sofá, mão no queixo, os lábios que de vez em quando sorriam ou ficavam entreabertos como se estivessem presenciando algo mais que fantástico.
Fantástico. Como podiam as pessoas que ali estavam nada notar, não interessar-se com aquele momento, não inferir, não poetizar, não encantar-se?
Lembrei-me que quando estavam a correr na sala podiam ter atenção das pessoas, que ora repreendiam, reclamavam, pois ficavam atentas no cuidado de que não quebrassem nenhum objeto e que a bola não batesse nas janelas de vidro.
Ora, mas para que atentar-me para essas crianças agora, se elas estão tão quietas? Aproveitemos o tempo para conversarmos sobre as compras, sobre as viagens, sobre a moda, sobre o planejamento financeiro...
Na televisão, a fala de um personagem inquieta a uma das crianças que assiste no sofá, e que franzi a testa sem entender. “Eu tenho a maior das gostosuras, o conhecimento”, respondia o personagem que abria a porta para as crianças que pediam bala.
A criança levanta-se do sofá e dirige-se até a mãe:
_ Mãe, mãe.
_ Vai assistir minha filha.
A criança ao perceber que estou percebendo-a dirige-se até a mim e pergunta:
_ Tia, porque ele disse que o conhecimento é uma gostosura?