A CASA

A CASA

Já sentira medo na vida, mas esse era diferente. Sentia-se indefeso, não sabia como reagir. E esperou. Ouviu o rangir da porta e passos atravessando a sala.

Era uma casa velha e de madeira, que há muito necessitava de uma reforma.

A casa possuía uma varanda que a atravessava de fora a fora, dando uma aparência rústica, casa de fazenda mesmo. Uma sala com uma mesa grande de centro e oito cadeiras. Retratos desbotados pendiam na parede. Era dos antigos donos.

Sentiu que a pessoa parou para, certamente, observar se não havia alguém para surpreendê-lo. Silêncio. Até o silêncio era ensurdecedor.

Uma escada interior levava aos quartos. Podia se notar que, pela poeira que havia, a casa não era limpa há um bom tempo.

Sentiu que alguém começava a subir pelo ranger da madeira, pois fazia um barulho irritante. Começou a suar frio e os olhos arregalados. Pavor. O coração começou a bater acelerado.

Diziam que a casa era muito antiga e coisas diferentes aconteciam. Portas que abriam e fechavam sozinhas, janelas que batiam sem parar, o relógio que há muito tempo não funcionava os ponteiros começavam a girar. E vozes que se ouviam.

Olhou para a porta e notou a maçaneta girar. Já estava apavorado quando a luz se acendeu. Alívio. Era o seu Chico, o antigo guarda noturno que tomava conta do quarteirão. Devia ter os seus oitenta anos e continuava bem disposto.

- Seu Chico! –

- Claro que sou eu, Fernando. Quem pensou que fosse. Um fantasma?

- Não brinque com isso.

- Entrei porque vi a porta aberta e quis dar uma olhada para ver se tudo estava bem. Quer alguma coisa?

- Não, obrigado. Eu acho que esqueci de trancá-la. Estou apenas cismado com as histórias que contam dessa casa.

- Não se preocupe. São apenas casos fantasiosos.

-Quem eram os moradores daqui?

-Eram pessoas estranhas. Tinham poucas amizades e nunca participaram de qualquer movimento na comunidade. Já faleceram há algum tempo. Nem sabemos se tinham parentes. Você que teve a coragem de ficar com ela.

- Foi em um leilão. Às vezes quase me arrependo.

E continuaram a conversa que até esqueceram de observar as horas.

De repente a luz começou a piscar, as portas e janelas a baterem ao mesmo tempo. Fez-se o silêncio. Passos começaram a ser ouvidos e o barulho do ranger da escada se tornava mais próximo.

Olharam para a porta. A maçaneta começou a girar.

lmorete
Enviado por lmorete em 15/01/2012
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