Crônica Divina.

- Então, senhor, deixai-me cair a terra para vos dar a certeza de que bons ainda andam entre os mortais! - Profanava contra vontade de seu criador, angustiando que sua vontade fosse feita. No entanto, Deus era sábio, e sabendo-se das artimanhas dos seus, não caíra em truque mais barato.

- Filho - O disse - Perdoai-me por cometer tal ato cruel, porém, não vejo outra saída a não ser punir-te por tamanha insolência! Como podes cometer blasfêmia maior para com vosso criador?!

E, elevando-se o próprio braço para baixá-lo em seguida, Deus fez cair das costas de sua cria, as asas que pareciam lhe ser cortadas com uma faca cega. Depois, não contentando-se, fez-se também perder a imortalidade. Os cabelos outrora da cor da neve, escureceram-se à cor das trevas; o brilho jazido e que radiava ao redor de seu corpo, não mais surgia por entre seu resplendor divino. O anjo, agora, era um mortal como qualquer outro e, como qualquer mortal, estava sujeito a ser julgado pelas leis de seu criador.

- Oh, meu filho! Abdicara de meu amor ao desespero de tão aclamada ilusão! Não poderei, eu, meu filho, lhe perdoar uma vez que se opunha contra mim a dizer-me que minhas crias humanas ainda possam ser salvas!

- Oh, meu pai, - Retrucava o anjo - Estou-me sujeitando a perder vosso amor a troco daqueles que ainda acredito. Pois sei que os bons ainda jazem entre eles, mas aqui, no paraíso, até mesmo tua tirania já não pode mais ser revertida.

Submergido em cóleras incontroláveis, eis que o criador jogava um de seus filhos a terra, como se César jogasse romanos à mercê de animais selvagens. Uma vez que doía em seu peito, doía ainda mais no peito daquele que fora arrematado pela ira de seu pai-mor, de maneira que cresceu-se em si tamanha e indescritível emoção que não podia sequer controlar. Mal Deus sabia, mas talvez aquele fosse o seu segundo erro ao criar o mundo. O primeiro, fora fazê-lo (o anjo).

A H
Enviado por A H em 12/01/2012
Reeditado em 03/06/2015
Código do texto: T3436146
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