UMA POÇA...MEU PASSADO
Sandra Mamede
Saltou do ônibus que a levaria para uma reunião importante no escritório.
Estava muito apressada, pisava com tanta força que seus passos soavam no chão como de um soldado marchando. Não podia atrasar-se. Aquela seria a reunião mais importante de toda a sua vida. A rua estava cheia, parecia até que todos tinham resolvido sair naquele horário! Contornava um, desvia-se de outro, batia-se com outro, isso já a estava deixando nervosa. Tinha pouco tempo! Os que a aguardavam não aceitariam seus motivos pelo atraso. Primeiro em casa, teve que resolver uma série de problemas antes de sair, depois o ônibus que se atrasou, e agora essa grande quantidade de pessoas das quais tinha que se desvencilhar qual jogo de videogame.
Pelo menos o dia estava lindo, uma tarde de abril, maravilhosa, o sol brilhava com todo o seu esplendor, quase não se via nuvens, o céu estava de um azul celeste maravilhoso, sem nenhuma mancha de nuvens. Isso a encorajava um pouco, lhe dava mais ânimo mais convicção, precisava ser forte, não poderia fraquejar...
Olhou para o relógio...faltavam apenas 20 minutos até alcançar o escritório, precisava apressar-se. Diante disso, resolveu desviar-se da rua principal e entrar por uma rua lateral que a levaria diretamente à frente do edifício, e assim o fez. Era uma rua bastante estreita, quase um beco, que se estendia por uns 200m, estava deserta, acelerou os passos, tinha medo de lugares assim, os jornais mostravam sempre assaltos em lugares como esse, eram os preferidos pelos marginais, mas ela precisava fazer aquilo, tinha fé que nada lhe aconteceria, agora, estava quase correndo, precisava sair logo dali...
Depois de ter andado ( na verdade, quase corrido), uns 100m, qual a sua surpresa!!! À sua frente, no meio do beco, em plena calçada, tinha uma poça d’ água, que estendia-se de um lado a outro, ela ( a poça ),encostava nas paredes laterais dos prédios, e era muito larga, não conseguiria ultrapassá-la, não da maneira que pensara e que seria o mais natural...pulá-la!!!
Parou ali na frente daquela poça que a impedia de alcançar o seu objetivo...porque isso?
Porque tantos empecilhos na sua vida?! até uma poça d’água estava servindo de tropeço para ela?
Ali, diante daquela poça, ficou sem reação...voltar demoraria muito, perderia o horário da reunião , acalmou-se, analisou a poça...seria profunda que não daria para que ela passasse mesmo molhando os seus sapatos? Não parecia uma poça comum, parecia muito profunda, a água que a formava não era límpida...estava escura, não conseguia enxergar o fundo, não exalava nenhum odor, mas a amedrontava...aproximou-se mais...olhou-a fixamente...e daquelas águas escuras viu refletido o seu rosto...lívido, nervoso...olhos assustados, assim a poça a refletia...
No mesmo instante ela entendeu tudo e decidiu-se, nada...nada a impediria de chegar até onde precisava, aquela poça não mais era que a demonstração concreta de como estava seu ego, como poderia enfrentar uma reunião tão importante insegura como estava, o que conseguiria daquela forma? Mostrar falta de convicção nos seus propósitos?!
Respirou fundo, ergueu a cabeça, e corajosamente passou por cima daquela poça, seus sapatos molharam, é claro, mas naquele momento ela entendeu que àquela poça, era o último obstáculo que tinha que enfrentar, e teria que ser feito com coragem para alcançar o seu objetivo, deixando-a para trás, estava deixando também uma parte da sua vida que precisava esquecer. Tinha que recomeçar tudo, partir do nada e esquecer o passado, um passado de muito sofrimento.
Chegou em frente ao edifício, sentia que seus sapatos estavam úmidos, mas nada disso importava, pelo contrário, aquele umidade lembrava-a do quanto tinha que ser corajosa e decidida no momento que estava por vir. Tomou o elevador, quinto andar, saltou e dirigiu-se a sala.
Parou a porta,era uma sala de audiências, a sala constava de uma mesa retangular grande, uma senhora frente a uma máquina de datilografia, sua advogada de um lado da mesa.Na cabeceira da mesa uma senhora de rosto sério, mas bondoso, do lado oposto à mesa seu ex-marido, também acompanhado do seu advogado. Todos a esperavam, estava exatamente dentro do horário.
Olhou dentro dos olhos daquele homem que tanto amou, não teve medo como antigamente, enfrentou o olhar com segurança, sentia a umidade dos seus sapatos que lhe transmitiam coragem, ele, seu ex-marido também representava para ela uma poça, uma poça que precisa ultrapassar com toda segurança para recuperar o seu querido filho que estava do outro lado.E, seus sapatos, mais uma vez suportariam essa passagem sem que estragassem. E tinha certeza de que sairia dali vitoriosa!
Sandra Mamede
Saltou do ônibus que a levaria para uma reunião importante no escritório.
Estava muito apressada, pisava com tanta força que seus passos soavam no chão como de um soldado marchando. Não podia atrasar-se. Aquela seria a reunião mais importante de toda a sua vida. A rua estava cheia, parecia até que todos tinham resolvido sair naquele horário! Contornava um, desvia-se de outro, batia-se com outro, isso já a estava deixando nervosa. Tinha pouco tempo! Os que a aguardavam não aceitariam seus motivos pelo atraso. Primeiro em casa, teve que resolver uma série de problemas antes de sair, depois o ônibus que se atrasou, e agora essa grande quantidade de pessoas das quais tinha que se desvencilhar qual jogo de videogame.
Pelo menos o dia estava lindo, uma tarde de abril, maravilhosa, o sol brilhava com todo o seu esplendor, quase não se via nuvens, o céu estava de um azul celeste maravilhoso, sem nenhuma mancha de nuvens. Isso a encorajava um pouco, lhe dava mais ânimo mais convicção, precisava ser forte, não poderia fraquejar...
Olhou para o relógio...faltavam apenas 20 minutos até alcançar o escritório, precisava apressar-se. Diante disso, resolveu desviar-se da rua principal e entrar por uma rua lateral que a levaria diretamente à frente do edifício, e assim o fez. Era uma rua bastante estreita, quase um beco, que se estendia por uns 200m, estava deserta, acelerou os passos, tinha medo de lugares assim, os jornais mostravam sempre assaltos em lugares como esse, eram os preferidos pelos marginais, mas ela precisava fazer aquilo, tinha fé que nada lhe aconteceria, agora, estava quase correndo, precisava sair logo dali...
Depois de ter andado ( na verdade, quase corrido), uns 100m, qual a sua surpresa!!! À sua frente, no meio do beco, em plena calçada, tinha uma poça d’ água, que estendia-se de um lado a outro, ela ( a poça ),encostava nas paredes laterais dos prédios, e era muito larga, não conseguiria ultrapassá-la, não da maneira que pensara e que seria o mais natural...pulá-la!!!
Parou ali na frente daquela poça que a impedia de alcançar o seu objetivo...porque isso?
Porque tantos empecilhos na sua vida?! até uma poça d’água estava servindo de tropeço para ela?
Ali, diante daquela poça, ficou sem reação...voltar demoraria muito, perderia o horário da reunião , acalmou-se, analisou a poça...seria profunda que não daria para que ela passasse mesmo molhando os seus sapatos? Não parecia uma poça comum, parecia muito profunda, a água que a formava não era límpida...estava escura, não conseguia enxergar o fundo, não exalava nenhum odor, mas a amedrontava...aproximou-se mais...olhou-a fixamente...e daquelas águas escuras viu refletido o seu rosto...lívido, nervoso...olhos assustados, assim a poça a refletia...
No mesmo instante ela entendeu tudo e decidiu-se, nada...nada a impediria de chegar até onde precisava, aquela poça não mais era que a demonstração concreta de como estava seu ego, como poderia enfrentar uma reunião tão importante insegura como estava, o que conseguiria daquela forma? Mostrar falta de convicção nos seus propósitos?!
Respirou fundo, ergueu a cabeça, e corajosamente passou por cima daquela poça, seus sapatos molharam, é claro, mas naquele momento ela entendeu que àquela poça, era o último obstáculo que tinha que enfrentar, e teria que ser feito com coragem para alcançar o seu objetivo, deixando-a para trás, estava deixando também uma parte da sua vida que precisava esquecer. Tinha que recomeçar tudo, partir do nada e esquecer o passado, um passado de muito sofrimento.
Chegou em frente ao edifício, sentia que seus sapatos estavam úmidos, mas nada disso importava, pelo contrário, aquele umidade lembrava-a do quanto tinha que ser corajosa e decidida no momento que estava por vir. Tomou o elevador, quinto andar, saltou e dirigiu-se a sala.
Parou a porta,era uma sala de audiências, a sala constava de uma mesa retangular grande, uma senhora frente a uma máquina de datilografia, sua advogada de um lado da mesa.Na cabeceira da mesa uma senhora de rosto sério, mas bondoso, do lado oposto à mesa seu ex-marido, também acompanhado do seu advogado. Todos a esperavam, estava exatamente dentro do horário.
Olhou dentro dos olhos daquele homem que tanto amou, não teve medo como antigamente, enfrentou o olhar com segurança, sentia a umidade dos seus sapatos que lhe transmitiam coragem, ele, seu ex-marido também representava para ela uma poça, uma poça que precisa ultrapassar com toda segurança para recuperar o seu querido filho que estava do outro lado.E, seus sapatos, mais uma vez suportariam essa passagem sem que estragassem. E tinha certeza de que sairia dali vitoriosa!