CABRA MACHO

Arnoldo era o protótipo da valentia personificada.

Valente, não de fazer arruaças, nem brigas nas quebradas ou nos

frequentes arrasta-pés nos terreiros dos sítios, não , mas no tra -

balho rural, empunhando o machado nas derrubadas, arroteando o

solo com o arado para o plantio , penetrando sementes com a planta-

deira manual ,capinando trilhas entre as plantas , combatendo o

" curu-querê" , lagarta voraz de algodoal , carregando máquina pul-

verizadora ás costas, ou ainda guerreando com as saúvas , carrega-

deiras , que devastavam, numa só noite, carreiras e carreiras de pés

de algodâo ,aparando folhas e cortando até as "maçãs" , como eram

chamados os botões da planta em questão, ainda verdes .

Assim o nosso heroi subia e descia colinas em meio áplantação.

Era campeão de colheitas, em todas as safras.

"Cow-boy" perfeito, laçando , domando e montando

corceis e muares, comandando mulas puxadoras de arado, ou de

gaiotão , ou de galhadas e tocos, após derrubadas e queimadas.

Era um exímio dançador nos bailes do sertão, á luz

dos candieiros e lampiões, sob enormes barracas armadas nos te -

reiros dos festivos sítios, em comemorações nos dias de santos de

devoção , ou de casórios. Era amado pelas donzelas , invejado pelos

peões, consagrado na preferência das velhas rezadeiras e benquisto

pelos velhos pinguços, no boteco do patrimônio, que se reuniam nas

tardes de domingo, para trucar, prosear e bebericar cachaça em co-

pos que iam de mão em mão, como um ritual.

No meio da moçarada e dos rapazes, era um jo-

vem que contava estórias e histórias da cidade grande, piadas, e

também cantava ao violão , músicas da "Velha Guarda" . Com as -

crianças era um brincalhão, amigo de todos.

Bonito, inteligente, tinha algum estudo , em cida-

de grande , e , por ler bem , era convidado como rezador na cape -

linha da vila, para puxar as novenas nos festejos da padroeira, ou

mesmo para rezas em muitos sítios, nos festejos juninos, que não

eram poucos , começando com Santo Antonio , São João Batista ,

São Pedro e São Paulo. Rezava novena, também, na capela, no dia

13 de dezembro , em louvor á Santa Luzia, padroeira dos olhos , por-

que lá havia sempre epidemia de dor de olhos, terçóis , que diziam

ser provenientes da florada dos milharais. A fé na santa era grande.

Aos 18 anos era um cabra-mcho paranaense ente ca-

bras-machos nordestinos, vivendo em boa camaradagem com a po -

pulação rural, lá dos sertões da Alta-Sorocabana.

Sua mãe costuma dizer dele : " É um tigre ! Vê se não´

é parecido, tem olhos azuis, pele morena, ainda mais bronzeado pelo

sol escaldante nos roçados do sertão ?! "

Mas, certa vez, nosso herói perdeu a valentia destemi-

da , quando foi deslocar uma abóbora numa montanha de outras tan-

tas, lá do galpão de víveres e saltaram entre suas pernas e seus pés

calçados com botinões, três vivazes sapos , terrivelmente coloridos

de amarelo,marom, nuances verde e manchas claras , verdadeiros

espantalhos , dando-lhe o maior susto da paróquia .E foi aí que dei-

xou de ser "macho" e qual "cabra" saltou sobre um velho fogão a

lenha, sem uso, gritando :

- " Manhêêêêê...! Acuda ! Sapos !!!! E foi neste instante que

a pequena Aninha, filha do empregado do sítio, com seus três ani -

nhos de idade, acudiu entrando naquele cenário , atraída pelos gri-

tos, e, se chegando, foi dizendo :

- " Eu pego..."

E o Arnoldo, trepado no fogão, incentivava :

- " Pegue, pegue "

E a menina, descalça e só vestida de calcinha , foi

pegando um por um pelas perninhas e jogando porta afora.

Sua mãe chegou, no momento do último ter sido posto

fora do " perigo " e reprovou o nosso herói :

- Cadê o meu tigre ? Parece mais uma gatinho acuado em cima

desse fogão. Desça daí ! Que vergonha,perder para uma menina in-

cente e mais corajosa !!! Traga já a abóbora que eu lhe pedí ! "

Conclusão : Ainda bem que a testemunha fora a

Aninha , porque, Graças a Deus, o assunto morreu por alí mesmo.

-o-

ARNOLDO WIECHETECK
Enviado por ARNOLDO WIECHETECK em 06/01/2012
Código do texto: T3425631