Um Jogo de Gato e Rato
– Vai pular?
Eles se encontravam na beirada da ponte; abaixo, o rio corria rápido, tão escuro e profundo quanto a noite que os cercava.
Ela deu dois passos para trás. Não entendia o por quê do namorado levá-la até ali, no meio da madrugada. Trêmula, respondeu:
– Está louco? Se eu pular, morro. A água é funda demais e com certeza gelada.
Ele sorriu.
– Com medo?
A garota o fitou. Não conseguia reconhecê-lo. Os olhos dele tinham um brilho estranho, frio.
– Não é medo. Só quero me preservar. – fez uma pausa, antes de continuar. – Acho melhor voltarmos. Eu...
Não pôde concluir. Ele a empurrou para a grade da ponte, agarrando seus braços com violência.
– O que está fazendo? Me largue!
Os lábios dele se ergueram num sorriso maldoso.
– Agora você irá se encontrar com as outras, amor.
O brilho nos seus olhos desvanecera, tinham apenas uma frieza crua. Aterrorizada, ela tentou se soltar, mas o aperto parecia de mármore.
– Outras, que outras? – perguntou, rouca.
– Não se preocupe. Elas vieram antes de você. Amor, isso é como um jogo de gato de rato. Os gatos gostam de se divertirem com o alimento antes de matá-lo.
Ela procurou chutá-lo, sem obter resultado nenhum. Olhou para os lados. Aquele local era deserto, mas mesmo assim, começou a gritar:
– Socorro! Alguém me ajude! Socor...
Ele tapou a boca dela com a mão, encostando-a na grade com as pernas.
– Não gaste seu fôlego, querida. Vai precisar dele lá embaixo. – depois, acrescentou. – Sabe de uma coisa? Você é a número 10. É especial para mim. Por isso sua morte será fantástica: uma garota melancólica, cansada da vida, se suicida. Trágico e sem suspeitas.
Ela ficou horrorizada. Como nunca havia percebido que esse cara era um psicopata? Presa na grade pelo corpo dele, não podia se mexer.
– Você foi a que chegou mais perto do meu coração. Se eu ainda tivesse um, talvez não fosse necessário matá-la. – ele disse, antes de jogá-la rio abaixo.
Quando escutou o som do corpo dela imergindo na água, uma angústia o atravessou. Uma vontade de pular também. Mas seu autocontrole foi logo restabelecido e ele voltou a pensar como um gato.
– Um rato a menos. – murmurou, dando uma última olhada no rio.
Com passos calmos, se distanciou da ponte.