Contos de lugar nenhum 6

De repente uma torrencial chuva desabou. Abriguei me em companhia a todas as outras pessoas com o mesmo intuito de fugir da chuva. Estava forte e parecia não acabar nunca aquela água toda. Sentia frio, tanto frio que os dentes lutavam entre si com pequenas pancadas gerando tremedeiras e espamos aconteciam na minha barriga. Eu estava meio adoentada, e uma febre me renderia alguns dias na cama, eu não pudia adoecer.

Tomei o ônibus, ensopada, com os cabelos desgrenhados, maquiagem borrada, sapatos encharcados. É claro que notei os olhares perseguidores, ainda que efêmeros, era sempre

algo costumeiro, na situação do feio ou do belo. Olhei fuçando um bom lugar para sentar, longe de qualquer homem- porque até sentar-me perto de outro homem me parecia traidor- longe de qualquer pessoa, mas em todos os cantos haviam pessoas sentadas em asentos dispersos e aleatórios de formas individuais. Chequei por trás e nada, havia apenas na frente perto da janela,e o que me irritou muito, perto de uma moça com aparência estranha, no qual estava lendo um livro sobre negócios de empresa. Sentei-me, tirei da bolsa e li mais outras páginas de graham greene. Aquela desvairagem toda e todas as truculencias naquele romance entre Sarah e Bredrix, que nunca davam certo e quando havia oportunidades de uma concreta união, o orgulho, ou ordem divina, intereferiam, causaram-me nauseas. Lembrei me "dele", pelas horas perdidas na noite anterior, o quanto queria ter trocado algumas palavras ao telefone se ocorresse. Parecia-me distante a tentativa de encontrá-lo, tudo parecia não dar certo, tudo parecia devagar demais. Inalcançavel!Eu já não sabia se era minha mente, mas a distancia propositada ou não, era atormentante. Talvez fosse isso que Deus quisesse pra mim- ainda que eu não acreditasse nele- porque talvez eu estivesse sendo pecadora demais, e este era o meu castigo.

Aquelas páginas, lidas cuidadosamente, arrancaram-me algumas lágrimas, e eu sempre havia acreditado que livro nenhum pudesse me causar tal situação.As passagens eram tão verossimilhas, que causavam reboliços em mim. As nauseas não passavam, e eu havia sentido desd'o almoço solitário, aqueles enjôos. Fechei o livro em sincronia com os olhos. Respirei fundo e tive a sensação de rotação, parecia que meu corpo flutuava num furação. Imaginei em seguida o rosto do " meu Bendrix" , e seus olhos pareciam serenos, cheios de amor e afeto. Talvez era isso que eu almejava a todo tempo: Uma paz entre nós.

Paz como amantes, amando tranquilamente, sem medo do deserto.Eu via e buscava nele a proteção que eu não havia encontrado em ninguém. Não era um homem apenas, aquele que eu deixava me tocar intimamente, que eu deixava me pedir um beijo, que eu me propunha tantas vezes esperar, era aquela pessoa, a minha pessoa, a principal de preferencia. Eu sabia que nosso caso estava andando em cima de pequenos cacos de vidro, e talvez o que mais tornava nosso amor incostante era a crença de uma desconfiança, que inexistia pra mim. E eu sabia, que ia além da minha função intelectual prever que ele iria crer em meu amor, fielmente, plenamente, como já esteve sendo. Talvez nunca mais, talvez ele nunca mais me olhasse da mesma forma- e esse sim seria o meu castigo, uma dor aguniante. Eu só sabia que o queria, queria ao meu lado, logo se possível, porque sentia que não podia mais esperar, porque eu jamais poderia amar outro homem como amava a ele. E o deserto.. o deserto teimava em ficar.

Nakano
Enviado por Nakano em 31/12/2011
Código do texto: T3415227
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