Je parle France

No velório da tia Mundica, Damasceno reunido com meia dúzia de parentes começaram a conversar. E entre um caso e outro, lembrou - se do amigo Alberto, que o fez passar a seguinte história:

Num domingo apático de eleição, onde nem se falava em Remo ou Paissandú, depois de votar, Alberto apareceu lá na casa de Damasceno e o convidou para tomar umas cachaças.

Damasceno que já tinha votando, nem sabia direito em quem, pois como dizia ele, tanto faz como tanto fez, todos são marginais, pra não anular votou.

Mais do que depressa, sem nada para fazer se arrumou, passou o desodorante, o perfume, penteou os cabelos e montou na velha Caíca do Alberto. Juntos, entre um bar e outro, sem muito rumo, disposto a encontrar um bar, passaram em frente ao Bolevard, uma boate, que dizem, que as pequenas, “mordem e assopram” e onde o dono era compadre do Alberto.

Sem titubear, nem era onze horas da manhã, Alberto bateu na porta do Bolevard e o senhor Inglês veio atender. A sua cara não era de bons amigos, mas quando viu seu compadre, mudou como a chuva na tarde em Belém do Pará.

Se abancaram, o bar foi aberto e um som de fundo começou a rolar. Falando, falando, bebendo, bebendo e chegou o fim da tarde.

As meninas, como mariposas lentamente começaram das portas das paredes escuras a se aproximar, deixando Alberto entusiasmado, que da água para o vinho começou a falar em língua estrangeira.

Conversa vai, conversa vem como Damasceno entendia o Francês embarcou também no transformes e como se traduzisse falava ao senhor Inglês, que sorrindo logo pediu desculpas para se ausentar, para atender os ilustres fregueses que chegava a casa noturna.

Lá pelas vinte e duas horas Alberto sentiu fome e externou em Francês ao seu amigo Damasceno, que chamou uma das moças e perguntou sobre o cardápio do local.

Devidamente avisado de que só tinha tira gosto e bebida, de uma só vez pediu tudo o que tinha direito.

Meninas vão, meninas vem e quando tudo parecia encaminhado para o clímax, antes de sair com uma das gatinhas Alberto pediu a conta em Francês. Devidamente traduzido pelo fiel companheiro a moça trouxe a conta que foi paga pelo Damasceno.

As mil maravilhas, os dois se despediram do compadre Inglês e foram para o motel. Lá pelas oito da manhã pagaram a conta do motel e faltava pagar as meninas.

Damasceno já não tinha mais dinheiro olhou para o lado e disse em Francês que Alberto deveria pagar as meninas. Como Alberto só vivia pelos lados do Oiapoque puxou a carteira e deu cem Euros e disse em Francês para o Damasceno, que aguardava o troco.

As meninas sem entenderem se olharam e perguntaram o que que ele tinha dito?!... Damasceno brincando falou: é para vocês ficarem com o troco.

Quando elas iam saindo felizes, Alberto avançou na mão da moça, retirou os cem Euros e retrucou: Porra nenhuma!...Sou Francês na hora da comida e da bebida, mas hora de pagar sou bem brasileiro.