A LENDA DAS PORTAS

As coisas funcionavam e ligavam certo a uma rotina de horas diárias. Às tantas, paravam para um descanso e voltavam logo à seus afazeres. Era um lugar agradável, pouca ventilação e ruídos. Assemelha-se a uma loja. Objetos velhos, vários às prateleiras. Uma bodega de poucos metros quadrados aconchegante. Poltronas das quais jamais tiveram seus acentos afagados com a bunda de outrem. Espelhos nas paredes a faziam tornar maior. Ora davam as horas de ligar ora de desligar. Onde estão as delinquentes portas que ousam daqui fugir? Estão, oh Objetos velhos, presos! – Há uma lenda de um lugar que diz que quando os objetos jazem em um quarto sem portas, criam vida, pensamento e falam. Mas se os objetos por conhecimento desta lenda, arquitetarem um plano para retirarem as portas, sabe-se no exato momento, que não se passa de uma lenda.

Os objetos ficaram silentes, imóveis. Apenas ligavam e ora desligavam. Oh, pensamento infeliz, pois que se ligam e desligam, logo se diz que há vida. O importante era saber quando as portas foram retiradas. Relatos de autores anteriores sobre este mesmo conto, dizem que as portas jamais estiveram ali!

Ana Júlia Marcato
Enviado por Ana Júlia Marcato em 26/12/2011
Reeditado em 14/09/2012
Código do texto: T3407262
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