Um Conto De Beira De Estrada
Sentado numa calçada qualquer a beira da estrada com cara de poucos amigos, o fone no ouvido tocando Nenhum de nós, aquela do astronauta que só conhece quem teve um pé dentro dos anos 80, e mesmo assim um cara tenta puxar assunto. Será que ele ainda não sacou que eu não estou querendo conversa? Não hoje, não agora, volte amanha, quem sabe eu serei cínico o bastante para conversar com um estranho numa beira de estrada. Hoje não. Vá pro raio que o parta, hoje minha cota foi atingida. Deve ter sido o calor. Foi calor! Se não foi o calor deve ter sido o CD de canções natalinas da Simone que a tanto anos me atormenta.
Deve ser a minha velha sina para loucos, bêbados e sinal vermelho, toda vez que passo num semáforo o sinal está vermelho. Isso significa que meu dia vai ser tranquilo, tudo vai ficar na santa paz. Sinal verde não é bom pra mim, é um alerta, lascou tudo. Já no que se refere aos loucos e bêbados, só Deus é quem pode explicar, todos querem me abraçar, todos me tratam como um ente querido, principalmente os bêbados, e quanto mais fedido ele for maior e mais caloroso é o abraço. É o diabo mesmo.
E esse camarada que tenta puxar conversa comigo não foge a regra, tudo indica que é louco, e pelo bafo de cachaça vai me dar um abraço em pouco tempo.
Finalmente o ônibus chega minha salvação, me livrei dessa criatura metade louca, metade pinguça. A porta do ônibus se abre o cobrador com a maior cara de tabaco diz que a prioridade é para os passageiros que vão até o fim da linha. Mas eu só vou até a metade do caminho.
Emputecido até a alma volto de cabeça baixa para aquela velha calçada onde estava o Louco/pinguço, sua boca com poucos dentes, roupas sujas e chinelos havaianos de cores diferentes com os braços abertos grita sorridente pra mim.
- Dê cá um abraço rapá!