O HOMEM DO PARQUE

O Homem do Parque

A tarde está quente e abafadiça. As árvores do parque, silenciosas pela falta do vento, são as únicas testemunhas da tristeza daquele homem.

Executivo rico, cuja fortuna está na casa dos bilhões de reais, Alfredo Moraes não consegue tirar do coração o sentimento de pesar e de melancolia.

Todos os dias, Alfredo após o almoço senta-se naquele banco de madeira embaixo de uma frondosa árvore e medita: O que será esse mal que me aflige? Afinal tenho muito mais do que muitas outras pessoas. Nada me falta. Funcionários competentes e bem pagos estão sempre a minha disposição o dia todo. À tarde, volto para casa. Carro do ano, mansão, belas mulheres. Companhia não me falta. O que será que está acontecendo comigo?

Ao mesmo tempo que Alfredo encontra-se ensimesmado com seus pensamentos depressivos, Stephanie, uma menina de longos e castanhos cachos, sorri feliz e gulosa para um grande sorvete.

Não é a primeira vez que ela se senta naquele banco e observa o seu companheiro de tarde, ali sentado triste e pensativo. Pela sua cabecinha alegre e despreocupada passa os seguintes pensamentos: Que será que ele tanto pensa? Será que está sentindo alguma dor? Por que será que a sua cara é tão feia?

Para a menina a vida resume-se em rir, ser alegre, estudar e tomar sorvete. O que faz todas as tardes, enquanto espera sua mãe sair do trabalho, bem em frente à praça e o sorveteiro. Nos seus doces e ingênuos sete aninhos, ela pensa que todos os problemas resolvem-se com sorvete.

O que Stephanie não sabe é que sua mãe trabalha justamente nos escritórios da empresa de Alfredo e que o Universo está prestes a modificar as suas vidas.

O sol vai derramando-se por sobre o horizonte, e a tarde prossegue, trazendo um leve e refrescante vento, que vai deitando sobre o parque numerosas e coloridas folhas que caem das árvores. Resultantes do outono, as folhas adquirem tonalidades variadas, que vão do pálido verde até um ligeiro encarnado.

Stephanie acaba de tomar o seu sorvete e corre serena para o chafariz da praça para lavar as mãos. Ao debruçar-se na água, escorrega e cai. O susto tira-lhe o fôlego momentaneamente. De repente, põem-se a gritar, desesperadamente, pois começa a afogar-se. O vigilante da praça que costuma ser seu companheiro hoje não se encontra. Os momentos são muito preciosos para Stephanie.

De repente, Alfredo acorda do seu estado letárgico e ouve os gritos da menina. Socorro! Socorro! Levanta-se desorientado, tentando entender o que está acontecendo. Percebe o movimento no chafariz e dirige-se apressado para lá e resgata a menina da sua desventura.

Stephanie soluça apavorada, agarrada aos braços do seu salvador, que tenta, sem sucesso acalmá-la. Ao chegar ao banco de madeira, senta a menina, cujas roupas estão ensopadas e os cabelos escorridos. Tirando um lenço do bolso, Alfredo tenta secar o rostinho triste da melhor maneira possível.

Perguntando-lhe o que faz sozinha naquela praça, a menina respondeu que esperava pela mãe que estava trabalhando no escritório. Alfredo enfurecido pensa: Como pode uma mãe ser tão irresponsável com a própria filha? O que o homem ignora é que ele mesmo é o responsável pela situação em que Stephanie e sua mãe Lúcia vivem. Porque na sua empresa os funcionários não podem entrar com seus filhos. A creche da empresa foi fechada para reformas e não mais reabriu. E assim, Lúcia é obrigada a deixar a menina na praça em frente ao prédio,após a saída da na companhia do guarda da praça e do sorveteiro, que são seus amigos. Diante das despesas de uma apertada vida, Lúcia não pode ter uma empregada, pois teria que escolher entre a mesma e o aluguel de sua casa.

Quando o sorveteiro deu-se conta do estava acontecendo, a menina já estava mais calma. Quando ele aproximou-se do banco, a menina disse a Alfredo que o sorveteiro é amigo e sabe onde sua mãe trabalha.

Alfredo indagou-lhe sobre Lúcia e Manoel(o sorveteiro) disse-lhe que ela já estava chegando, pois era a hora da saída.

Quando Lúcia aproximou-se apavorada quando viu o estado da menina, Alfredo disse-lhe, rispidamente, que graças à ele a menina estava salva e contou-se tudo com riqueza de detalhes.

Lúcia observou aquele semblante atormentado do homem, reconhecendo-o como seu patrão, apesar do mesmo não reconhecê-la. A mulher agradeceu-lhe sinceramente e tomando a menina pela mão, foi andando, cabisbaixa para o ponto do ônibus.

No caminho para casa a menina indagou para a mãe sobre o homem triste do parque. Lúcia contou-lhe resumidamente sobre o patrão, satisfazendo a sua curiosidade.

Na tarde seguinte, lá estava Stephanie novamente no parque com seu inseparável sorvete. Dessa vez, o homem triste chegou depois, sentou-se e ficou olhando para ela. Longos minutos se passaram, até que a menina não contendo a sua curiosidade, sentou-se mais próxima do homem e iniciou uma inocente conversa.

Bonita tarde, não é mesmo? O homem continuou calado. A menina aproximando-se mais, continuou. Eu quero lhe agradecer por ter me salvado ontem. Sabe, tenho muito medo de água. O homem resmungou algo incompreensível, tentando evitar maiores contatos. E a menina, calou-se e ficou só olhando-o firme nos olhos. O homem sentiu-se tão incomodado que saiu dali, com pressa.

Quando sua mãe chegou a menina comentou o acontecido e Lúcia alertou-lhe que não mais incomodasse Alfredo com suas perguntas insistentes.

E assim foram repetindo-se muitas tardes, até que finalmente o gelo foi quebrado. Ao chegar novamente com um grande sorvete, Stephanie já encontrou lá o seu “amigo” do parque. Sempre sisudo e zangado, Alfredo lia um jornal. A menina chegou mais perto para ver uma figura e ploft! o sorvete caiu bem na página do jornal, escorrendo diretamente para os lustrosos sapatos italianos de Alfredo.

O rostinho da menina ficou de todas as cores. O seu coraçãozinho já previa o desastre que aconteceria quando o homem abrisse a boca. Qual não foi a surpresa de Alfredo quando olhou para a menina trêmula de medo, sentiu uma enorme vontade de rir. E assim gargalhou ruidosamente como há muito não fazia. A menina entendeu o que estava acontecendo e começou a rir também e assim dos dois trocaram um longo abraço.

Nesse instante Lúcia chegou na praça e nada entendeu da situação, olhando espantada para os dois às gargalhadas.

Quando conseguiram parar de rir Alfredo e a menina contaram o que aconteceu e Lúcia, muito vermelha e envergonhada, não sabia o que responder. Ao ver o seu estado, Alfredo disse que ela não se preocupasse, porque Stephanie havia salvado a sua vida. E após uma longa conversa com Lúcia tomou conhecimento das coisas que ocorriam na sua empresa e ele ignorava.

A partir daquela tarde, Alfredo compreendeu que o faltava na sua vida era uma verdadeira vida. Alegre, divertida e regada com muito sorvete na praça.

Estrela Radiante

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Regina Madeira
Enviado por Regina Madeira em 21/12/2011
Reeditado em 27/08/2015
Código do texto: T3399882
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