A Santa
Uma vez eu namorei a Santa que morava no bairro São Benedito, na rua Santa Rita, na cidade de Santa Bárbara, São Paulo. Sempre que o sino da Igreja tocava, ela já estava rezando. Confessava todo fim de semana e assistia a todas as missas e comungava sempre que era possível. Era o que se dizia: uma santa pessoa, até no nome. Criatura de fala mansa, educada, meiga.
Um dia, sem mais nem menos começou a usar um cinto de couro, preto, bem largo, horrível. E começou a rarear as suas idas à Igreja e pediu-me para nos encontrarmos só aos sábados; como eu a amava, aceitei com alguma relutância, e estranhei aquela repentina atitude.
O padre, um senhor forte, alto, bem falante, moreno bem acentuado, ia visitar a Santa sempre que lhe sobrava algum tempinho, para gáudio de toda a família. Então comecei a me preocupar com a minha namorada; perguntava se ela estava doente e ela ria dizendo que nunca estivera tão bem. O namoro modificou-se, passou a ser mais simbólico, mais frio, e eu mostrei o meu descontentamento e falei até em acabar com tudo.
Ela chorou e disse que jamais iria me esquecer e que não deixaria de me namorar... mas deixou... Deixou quando sua mãe veio me dar os parabéns por eu ser o mais novo pai da cidade. Quase desmaiei por ouvir tão estúpida notícia... eu não tinha nada a ver com aquilo, a não ser que, com os olhos a gente pudesse ser pai. Eu, até aquela hora não havia entendido nada até que a mulher, que deveria ser a minha sogra, explicou-me: “O namoro de vocês parecia tão discreto, mas assim mesmo resultou na gravidez da Santa; só não entendo uma coisa: você é bem claro, a Santa é loira, mas o filho de vocês nasceu bem moreninho, lábios carnudos, uma graça de criança”.
De tanta raiva, e já percebendo toda a história eu disse: Então, se a criança é moreninha, vamos pôr nela o nome do padre, como homenagem da Santa ao religioso? “Mas, já foi feito isso e o padre ficou felicíssimo e já abençoou a criança e a mãe”, respondeu-me ela.
Nunca mais vi a mulher do padre, digo: a mulher que deu o nome do padre ao seu filho. Hoje até me sinto embaraçado quando ouço o nome dela... que me perdoem as que têm esse nome. Uma coisa nada tem a ver com a outra. Tchau mesmo. Eu, hein?!