kilômetro 70
Durante aquela celebração fiz uma viagem através do pensamento revivendo o início dessa história, enquanto o rito corria conforme as tradições:
- “Eu, Cláudio Campos de Melo e Salis, te aceito, Manoela Batista da Silva como minha legítima esposa...”
O que o destino me reservou, definitivamente não é o comum. Naquele altar, refletí o quanto a vida me foi benevolente no que se refere ao amor. Nunca fui o tipo cavalheiro para com as mulheres com quem convivi. Morando em cidade interiorana, muito popular na escola, com uma boa aparência, namoradas sempre foram alvos fáceis de conquista. No entanto, nada passava de aventuras passageiras, que invariavelmente era eu que terminava. Ou melhor, não me dava a esse trabalho, deixava que elas percebessem que eu estava em 'outra'. Assim vivi toda a minha juventude.
Após a faculdade, já em atividade profissional, é que a falta de um amor de verdade se fez sentir em minha vida. Uma companhia agradável para dividir os meus sonhos e as minhas realizações começava a ser algo que eu buscava de forma incessante.
Foi, surpreendentemente, em uma viagem de ônibus para um treinamento na minha área de atuação que fiz à capital, que algo ocorreira para preencher definitivamente esse vazio. Sentado na poltrona do lado da janela, eu observava atentamente a paisagem. Ao cruzar uma linha férrea, o ônibus reduz sensivelmente a velocidade e pude ver dentro da roça, em uma casinha de taipa, no kilômetro 70 daquela rodovia, uma moça debruçada em uma pequena janela. Nunca havia visto alguém de um rosto tão perfeito. Lindos cabelos pretos, a face alva e de contornos irretocáveis. Seus olhos eram tão expressivos que mesmo distante eu sentia de que eram de uma pessoa extremamente doce. Fiquei a olhando e ela me olhava também de forma muito compenetrada. Resolvi fazer um aceno o que ele respondeu com um sorriso tímido. Fiquei a observando enquanto o ônibus se distanciava veloz e aqueles cabelos negros esvoaçantes me acompanharam na lembranaça até a chegado ao meu destino. Estranho, foram segundos que pareceram anos de conhecimento.
Durante toda a semana não lembrei mais daquele fato, envolvido pelo treinamento que fazia e também pelas atrações que cidade oferecia nos momentos de descanço.
De volta, coincidentemente sentei-me na poltrona da janela do lado oposto da viagem de vinda, e no mesmo local ao cruzar a linha férrea, no Kilômetro 70, outra vez me deparei com aquele rosto na janela, que mais parecia uma foto emoldurada por aqueles gravetos da casa revestida de barro envelhecido. Pareceu-me ainda mais bonita que antes. Demonstrando se lembrar de mim, ela acenou com a mão e um sorriso discreto. Retribui o aceno e contitnuei a olhar aquele rosto até perdê-lo de vista. Daquela vez não foi apenas o pensamento, o coração também ficou abalado. Senti a incrível vontade de descer ali e ir lhe falar.
Os dias que se seguiram foram torturantes. Eu não conseguia tirar aquela moça da cabeça e um estranho sentimento de arrependimento de não ter tido a atitude de descer ali mesmo e o temor de que, agindo assim, me passasse por ridículo, tomava conta de mim.
Finalmente procurei a empresa e o motorista do horário, meio que envergonhado, mas não poderia deixar de tentar. Perguntei se ele lembrava aquela localidade da linha férrea, no kilômetro 70 e daquele casebre à margem da rodovia. Ele respondeu que sim. Perguntei se ele levaria uma carta minha para aquela moça - eu estava certo de que ela se lembraria de mim. Pedi ainda que na volta me trouxesse reposta ao que eu escrevia.
Ele disse que sim e que não lhe custaria fazer isso. Disse ainda que por ali não havia sinal de telefone móvel ou qualquer outra forma de comunicação que não fosse aquele bilhete ou de outra forma eu mesmo teria de ir lá – o que eu achava ser mais constrangedor.
A ansiedade tomou conta de mim naquelas horas em que fiquei aguardando o retorno. Fui no horário marcado ao Terminal Rodovíário e tão logo o ônibus parou eu fui ao encontro do motorista. Ele contou que deixou a carta na ida e que de fato ela era a única moça que morava naquela humilde casa. O motorista disse ainda que na volta, conforme combinado, ela estava no horário em que o ônibus passava costumeiramente ali e lhe entregou um bilhete em resposta ao meu - que ali mesmo eu li. Dizia:
- “Saudações! Não acreditei quando recebi a sua cartinha. Confesso que também fiquei pensando em você, mas achei que jamais iria te ver outra vez. Nunca havia me sentido assim. Gostaria de que viesse para que possamos nos conhecer melhor e para que conheça também os meus pais [...]"
Auqele motorista ainda levou e trouxe mais alguns bilhetes antes que eu fosse conhecê-la e aos seus pais. Hoje depois de um ano, não tenho dúvidas de que encontrei o amor da minha vida. Alguém que Deus colocou no meu caminho para me fazer feliz...
Meus pensamentos foram suspensos pela voz do Padre que me disse sorridente:
- Pode beijar a sua esposa e que sejam muito felizes!
Me curvei, lhe dei um beijo carinhoso e reparei que ela estava ainda mais linda, radiante e feliz naquela cadeira de rodas.
Durante aquela celebração fiz uma viagem através do pensamento revivendo o início dessa história, enquanto o rito corria conforme as tradições:
- “Eu, Cláudio Campos de Melo e Salis, te aceito, Manoela Batista da Silva como minha legítima esposa...”
O que o destino me reservou, definitivamente não é o comum. Naquele altar, refletí o quanto a vida me foi benevolente no que se refere ao amor. Nunca fui o tipo cavalheiro para com as mulheres com quem convivi. Morando em cidade interiorana, muito popular na escola, com uma boa aparência, namoradas sempre foram alvos fáceis de conquista. No entanto, nada passava de aventuras passageiras, que invariavelmente era eu que terminava. Ou melhor, não me dava a esse trabalho, deixava que elas percebessem que eu estava em 'outra'. Assim vivi toda a minha juventude.
Após a faculdade, já em atividade profissional, é que a falta de um amor de verdade se fez sentir em minha vida. Uma companhia agradável para dividir os meus sonhos e as minhas realizações começava a ser algo que eu buscava de forma incessante.
Foi, surpreendentemente, em uma viagem de ônibus para um treinamento na minha área de atuação que fiz à capital, que algo ocorreira para preencher definitivamente esse vazio. Sentado na poltrona do lado da janela, eu observava atentamente a paisagem. Ao cruzar uma linha férrea, o ônibus reduz sensivelmente a velocidade e pude ver dentro da roça, em uma casinha de taipa, no kilômetro 70 daquela rodovia, uma moça debruçada em uma pequena janela. Nunca havia visto alguém de um rosto tão perfeito. Lindos cabelos pretos, a face alva e de contornos irretocáveis. Seus olhos eram tão expressivos que mesmo distante eu sentia de que eram de uma pessoa extremamente doce. Fiquei a olhando e ela me olhava também de forma muito compenetrada. Resolvi fazer um aceno o que ele respondeu com um sorriso tímido. Fiquei a observando enquanto o ônibus se distanciava veloz e aqueles cabelos negros esvoaçantes me acompanharam na lembranaça até a chegado ao meu destino. Estranho, foram segundos que pareceram anos de conhecimento.
Durante toda a semana não lembrei mais daquele fato, envolvido pelo treinamento que fazia e também pelas atrações que cidade oferecia nos momentos de descanço.
De volta, coincidentemente sentei-me na poltrona da janela do lado oposto da viagem de vinda, e no mesmo local ao cruzar a linha férrea, no Kilômetro 70, outra vez me deparei com aquele rosto na janela, que mais parecia uma foto emoldurada por aqueles gravetos da casa revestida de barro envelhecido. Pareceu-me ainda mais bonita que antes. Demonstrando se lembrar de mim, ela acenou com a mão e um sorriso discreto. Retribui o aceno e contitnuei a olhar aquele rosto até perdê-lo de vista. Daquela vez não foi apenas o pensamento, o coração também ficou abalado. Senti a incrível vontade de descer ali e ir lhe falar.
Os dias que se seguiram foram torturantes. Eu não conseguia tirar aquela moça da cabeça e um estranho sentimento de arrependimento de não ter tido a atitude de descer ali mesmo e o temor de que, agindo assim, me passasse por ridículo, tomava conta de mim.
Finalmente procurei a empresa e o motorista do horário, meio que envergonhado, mas não poderia deixar de tentar. Perguntei se ele lembrava aquela localidade da linha férrea, no kilômetro 70 e daquele casebre à margem da rodovia. Ele respondeu que sim. Perguntei se ele levaria uma carta minha para aquela moça - eu estava certo de que ela se lembraria de mim. Pedi ainda que na volta me trouxesse reposta ao que eu escrevia.
Ele disse que sim e que não lhe custaria fazer isso. Disse ainda que por ali não havia sinal de telefone móvel ou qualquer outra forma de comunicação que não fosse aquele bilhete ou de outra forma eu mesmo teria de ir lá – o que eu achava ser mais constrangedor.
A ansiedade tomou conta de mim naquelas horas em que fiquei aguardando o retorno. Fui no horário marcado ao Terminal Rodovíário e tão logo o ônibus parou eu fui ao encontro do motorista. Ele contou que deixou a carta na ida e que de fato ela era a única moça que morava naquela humilde casa. O motorista disse ainda que na volta, conforme combinado, ela estava no horário em que o ônibus passava costumeiramente ali e lhe entregou um bilhete em resposta ao meu - que ali mesmo eu li. Dizia:
- “Saudações! Não acreditei quando recebi a sua cartinha. Confesso que também fiquei pensando em você, mas achei que jamais iria te ver outra vez. Nunca havia me sentido assim. Gostaria de que viesse para que possamos nos conhecer melhor e para que conheça também os meus pais [...]"
Auqele motorista ainda levou e trouxe mais alguns bilhetes antes que eu fosse conhecê-la e aos seus pais. Hoje depois de um ano, não tenho dúvidas de que encontrei o amor da minha vida. Alguém que Deus colocou no meu caminho para me fazer feliz...
Meus pensamentos foram suspensos pela voz do Padre que me disse sorridente:
- Pode beijar a sua esposa e que sejam muito felizes!
Me curvei, lhe dei um beijo carinhoso e reparei que ela estava ainda mais linda, radiante e feliz naquela cadeira de rodas.