A águia e o céu

É voando que a águia ama. No mais alto platô ela retorna para onde foi criada. Mesmo que tenha ciscado no chão a águia é forte voando. Quanto mais alto ela voa mais o chão fica nítido, esse é seu fascínio, batendo as asas alça alto. Altiva e ávida voa e voa mais longe, pelo céu, para as coisas dos céus. Vê a planície e as texturas, e tudo que vê de nada precisa para voar, afinal se a águia vê o chão é porque ela longe dele voa. Voa... voa... voa... é o barulho de suas asas. A águia tudo vê, só não vê uma coisa, a ausência. Há uma ausência presente no ar. Nisso contrai toda sua retina multi-focal e no chão não vê. A águia distrai-se e despercebe que procurando a ausência ela se faz presente. A ausência é falta de uma presença, mas antes é a presença de uma ausência. Com essa presença a águia se angustia e é essa mesma angústia que a conduz ao chão. Chão... é o barulho das suas patas no chão. Nele, ela ofegante procura e insiste a procurar, ciscando cada canto de folhas e pedras. Sua natureza dos céus pede que ela voe, é uma corrida, uma corrida contra o tempo, o tempo e o chão. Desengonçada e desesperada a águia tropeça num ciscar torto, agora de peito para o céu, suas asas abertas seus olhos embaçam no brilho do sol – esse mesmo que queima nossas nucas e cucas. Com a visão desorientada tudo fica nítido, suas penas ouriçam e de olhos fechados, de maneira clarividente tudo lhe faz sentido. Sua ausência é presente quando voa. O céu. Um coração se fascina com o voo e não compreende porque voa, mas porque a águia voa os alquimistas não sabem explicar. A águia não sabe porque voa, ela sente vontade de voar. A águia ama voar.

Fernão Bertã
Enviado por Fernão Bertã em 13/12/2011
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