O NATAL DO BURRO JEREMIAS

O NATAL DO BURRO JEREMIAS

Essa história aconteceu a muitos e muitos anos atrás. Um primo, num grau que perdi a conta, estava lá e nossas gerações nunca mais a esqueceram.

Vou contá-la da forma que ele narrou…

“Eu era um robusto burro, animal da família Eguus Africanus, chamado Jeremias. Levava uma vida simples e socegada no estábulo do jovem carpinteiro José. Naquele tempo durante o reinado de Herodes, governador da Judéia, houve um grande recenseamento. José e sua esposa Maria, da casa de Davi, que estava nos dias de dar a luz a um filho, sairam da cidade de Nazaré na Galiléia, para cumprirem o registro do recenseamento ,na pequena cidade de Belém. Para fazerem a viagem , José foi até o estábulo. Lá estava eu , parado , orelhas baixas, coxilando. Quando o vi aproximar-se fiquei logo de prontidão. Sabia que o trabalho seria árduo, pois ele estava trazendo a cangalha. Nas primeiras horas do dia, após acomodar Maria em meu dorso , partimos para a cidade de Belém.

Eu já havia feito esse caminho outras vezes, mas agora tinha algo diferente. O dia estava mais claro, as árvores e os arbustos mais verdes. O terreno árido e pedregoso da região não doía nos meus cascos e mesmo a jovem Maria estando pesada, eu não sentia cançaso. Pelo contrário, era como se flutuasse. Sem entender o que se passava, segui aproveitando aquela experiência. Ao entardecer, quando o céu se enrubescia em matizes vermelhos alaranjados, atravessamos os portões da cidade. Pessoas iam e viam num frenesi sem fim. José bateu à porta de várias hospedarias em vão. Tudo estava lotado. Maria, apesar de nada falar, ofegava. Quando já não tínhamos mais aonde ir, um senhor de alma generosa veio ter com José e lhe levou até um lugar muito conhecido meu, o estábulo. Lá, em meio a vacas, ovelhas e muito feno, nos acomodamos. Confesso que me senti aliviado sem a cangalha. No céu uma estrela de intensa luz, me chamava atenção. Não sei por que, mas ela apontava para a nossa direção e foi diante de sua presença, que se completaram os dias de Maria e ela deu a luz a seu filho primogênito. Envolveu a criança em panos e José com sua habilidade, improvisou uma mangedora onde Maria acomodou seu pequeno, a quem chamou de Jesus. Nesse instante a intesa luz pousou sobre Ele e três elegantes homens entraram no estábulo, ajoelharam-se e o adoraram. Depois deram- lhe presentes: Ouro, incenso e mirra. Eu, curvado sobre minhas patas, assistia tudo, sem esboçar um simples relincho. Dentro de minha “burrice” só conseguia olhar para aquela criança e sentir muito amor e paz. Estão achando estranho? Acham que só os homens são capazes de ter sentimentos? Pois saibam que não. Toda criação de Deus Pai pode amar e ser amada. Foi para isso que fomos criados.

Assim, diante daquela glória amanhaceu o dia. Os elegantes homens partiram. Os pastores voltaram para seus rebanhos, anunciando a boa nova. José, pois-se a procura de água e pão para alimentar Maria, que segurava o pequeno Jesus ao colo. E eu permanecia inerte, sem tirar os olhos Dele. Não sabia por que, mas tinha certeza de ter presenciado um grande acontecimento. Só não podia imaginar que acompanharia de perto a tragetória daquele Menino que transformaria para sempre a vida na terra. Numa noite próxima, um anjo veio ter em sonho com José e disse que ele tomasse a criança e sua mãe e fugisse para o Egito, pois Herodes procurava o menino para matar. Lá deveria permanecer até ser avisado de que poderia voltar. Mais uma vez, eu estava apostos. Cangalha ao lombo, pronto para levar essa Sagrada Família rumo à terra distante do Egito. Por esse tempo, vi Jesus crescendo. Tornando – se uma criança alegre, cheia de amigos. Ele corria pelas ruelas e muitas vezes fui seu companheiro de peraltisses. Até que um dia José avisou que voltaríamos para Galiléia. Jesus agora era um belo menino. A viagem de volta foi longa. Ora levei Maria, ora Jesus que me fazia carinho no pescoço como que agradecendo minha dedicação. Após muitos dias chegamos à pequena Nazaré.

Era bom voltar para casa. O cheiro do meu estábulo invadia minhas narinas. José abriu as portas da casa. Maria foi levando as coisas para dentro e Jesus corria a conhecer tudo. Os anos foram passando. Jesus tornou-se um rapazinho muito especial. Sempre acompanhando seu pai na carpintaria, ajudando a mãe nos afazeres domésticos e cuidando de mim, seu companheiro de passeios. Meu amor por aquela família era incondicional. Mas meu “amorxodó” era Jesus. Às vezes Ele ia até o estábulo, me fazia um afago e sentava sozinho calado com os olhos fixos no céu. Passava muito tempo assim. É como se conversasse com alguém distante. E todo estábulo se enchia de luz e paz. Só um dia vi Jesus com lágrimas nos olhos. Até eu que não sei chorar, soltei um relincho de dor. Foi quando José terminou seus dias na terra. Jesus “ajoelhou-se, ergueu suas mãos aos céus e disse: “Meu Pai recebe Meu Pai em teus braços.” Os dias passaram, a vida continuou e Jesus tornou-se um homem. Um homem que saiu por toda Galiléia a falar de um reino distante que seu pai queria presentear a todos na terra. Nesse tempo fiquei com Maria, sempre fiel. Nunca a vi reclamar de nada. Quando vinham perguntar de seu filho, limitava-se a dizer: “Ele está cumprindo a vontade de seu Pai”.

Algumas vezes Jesus veio vê-la e sempre ia ao estábulo me fazer um carinho. Em uma dessas vizitas, ele me afagou e disse: “No reino de Meu Pai, os homens as plantas e vocês, os animais, foram criados com a missão de amar e servir uns aos outros. E é para ensinar isso, principalmente para os homens que vim. O amor não é ganacioso, não aprisiona. Não nega, apenas doa.

Eu, um simples burro, não entendia porque para os homens era difícil compreender esse amor.

Um dia Maria veio ao estábulo e me levou para fazer uma viagem até Betânia. Lá chegando, o dicípulo João veio ao seu encontro e disse que Jesus estava próximo e que iria até Jurusalem. Maria me pegou e fomos ao encontro de seu amado Filho. Assim chegamos a tempo de presenciar todo esplendor de um Rei, que em sua simplicidade, se vestia de honra e glória, montado em um

jovem burrinho e toda multidão com ramos de árvores clamavam “Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor!” Mas uma vez, eu um “Velho Burro”, estava lá diante do Maior Amor feito homem . Um amor que deu a vida para salvar até quem o renegou. Que vi carregando, em seus ombros, o peso de todos os erros dos homens, sem reclamar. Quando crucificaram esse amor, eu estava lá, e presenciei céu e terra tremerem. Soltei um relincho de dor. Já estou muito velho. Por isso, quero deixar registrada a história desse homem chamado Jesus, que vi nascer e morrer por amor e tenho certeza que meu Amigo jamais será esquecido por toda a eternidade, nem mesmo por todos os “burros”.

Iakissodara Capibaribe.

IAKISSODARA CAPIBARIBE
Enviado por IAKISSODARA CAPIBARIBE em 12/12/2011
Código do texto: T3384717