Barquinho de Papel

- Uhuu!

- Vou fazer um barquinho de papel.

Gritou o pequeno Bimbo

No momento em que os primeiros relâmpagos

cruzaram o céu da comunidade onde ele morava.

- Vem chuva forte aí!

Completou o pirralho,

Naquela típica tarde de novembro.

Bimbo chegou a se assustar

Com os estrondos provocados pelos trovões.

As folhas do caderno

Utilizado durante aquele ano letivo

Viraram barquinhos

Que carregavam em seu casco

As palavras tremidas

do recém-alfabetizado menino.

Mas os minutos gastos na confecção dos barcos

Foram o suficiente para o temporal cair

E mostrar toda a sua fúria.

E quando o menino correu até o portão

Para colocar seus brinquedinhos para flutuar

nas valetas formadas pela água da chuva

Deparou-se com a rua já completamente inundada.

Seu beco havia virado um córrego.

- Iuhuu!

Gritou novamente o garoto.

- Agora eu tenho um rio só para mim!

Completou sorridente,

Colocando o primeiro barquinho na correnteza.

Mas o frágil brinquedo de papel não resistiu

aos grossos pingos que caiam do céu

E naufragou em poucos metros.

E, já completamente molhado,

Bimbo viu que teria que esperar a chuva diminuir

Se quisesse soltar seus barquinhos.

Nesse momento ele viu um porquinho

Descendo a corredeira:

- Tuimmmm, tuimmmm!

Gritava o filhote desesperadamente.

E aquilo soou como um pedido de socorro,

Mas o pequeno Bimbo viu que seria perigoso

Entrar naquela correnteza

E assistiu ao bichinho

Sumir na curva no final da ruela.

A água já estava chegando no último degrau do portão.

Então, o menino entrou em casa, trancou a porta

e foi para a fresta da janela observar a chuva.

Nisso, uma correria já se formava entre seus vizinhos

Gente com tijolos na mão,

outros carregando roupas,

documentos, móveis.

Um deles levava uma geladeira nas costas.

Com medo do que poderia estar acontecendo

O menino desceu da cadeira com a qual ele alcançava a janela e:

- Ploft!

Pisou na água.

E foi então que ele percebeu

que a sua casa também já havia sido inundada

O garoto ficava sozinho em casa

Da hora que chegava do colégio

Até o final da tarde,

Quando sua mãe, a Madalena,

Chegava do trabalho.

E, sem saber o que fazer,

Entrou em desespero,

E escalou o guarda-roupas,

Cobrindo a cabeça com as mãos.

A água continuou subindo, subindo, subindo

E os becos viraram rios.

Cercas de tábuas eram arrancadas,

barracos desabavam,

Roupas, brinquedos, móveis

desciam para o mar

no qual o bairro se transformou.

A casa do Bimbo ficou totalmente coberta pela água.

A parede da cozinha não resistiu

e tombou sobre o viveiro

Onde ele criava alguns pintinhos amarelos.

Os bichinhos,

Que ele conseguiu através da troca por garrafas,

Sumiram todos na correnteza.

A enchente atingiu toda a cidade

E os trens ficaram parados por mais de uma hora.

Com isso, a mãe do menino chegou em casa

Muito mais tarde do que o de costume,

Já era noite quando ela se deparou

Com sua casa semi destruída.

E ao ver o seu barraco naquele estado

Gritou o nome do Bimbo e desmaiou.

Nisso,

O menino vinha chegando em casa

Carregando o isopor

Com o qual sua mãe e ele,

Aos domingos,

Vendiam cerveja na praia.

Aquele foi o barco

Que levou o pequeno marujo

Para terra firme.