Maturidade

Um fio branco, camuflado entre tantos outros fios, quase lhe passa despercebido. Um único fio. É tudo o que Julia consegue enxergar refletido no espelho. Ali está a marca que a faz compreender definitivamente que a tal maturidade chegou.

-Ah! Um sussurro morre na garganta antes de chegar aos lábios entreabertos de espanto. Parece que foi ontem. A memória livre, volta ao passado e encontra a menina no espelho, tão miudinha, os cabelos escorridos emolduram as faces sardentas, os olhos redondos, inquietos e sonhadores, brilham de contentamento, as pernas finas, em desacordo com os sapatos de salto da mãe, o vestido novo, com estampa de flores cor de rosa.

Seu maior sonho é arrumar os cabelos, passar laquê, verdadeira obra de arte, última moda sobre as cabeças das moças em dia de festa. Maquiagem não conhece. Com certeza preferiria as cores vibrantes de tonalidades fortes, o que combinaria com sua personalidade alegre. Neste momento de devaneio em frente o espelho, a imaginação avança alguns anos. Já é moça feita, a estatura é baixa, o corpo ganha formas arredondadas, os olhos são ligeiros e um sorriso fácil ilumina seu rosto. Ao seu lado está um rapaz alto e magro, cabelos pretos, olhos negros profundos, contrastando com a pele branca. Para Julia, um verdadeiro príncipe encantado.

A juventude se foi, o príncipe virou sapo e também se foi. Resta apenas sua imagem no espelho e o primeiro fio de cabelo branco que a faz suspirar, enquanto as lembranças se diluem diante da constatação de que o tempo inexorável passa, mas como um bom amigo, deixa sempre um baú repleto de boas lembranças.

EdaSilva
Enviado por EdaSilva em 07/12/2011
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