AQUELA LUZ!

De repente... Ou talvez não tão de repente assim... Nem mesmo ele sabe como chegou ali... Viu-se na imensidão... Tudo escuro... Nem frio nem calor... Não se ouve nada, não se sente nada... Não consegue tocar em nada, nem mesmo sentir uma leve brisa... Nada... Ele ali, sem sustentação, suspenso, sem sentido de orientação sobre o que é pra cima ou pra baixo. Sozinho na imensidão e de novo ele pensa: “Como cheguei aqui?... Onde estou?” De novo ele sente a imensidão a seu redor. “Será que estou mesmo aqui?” Dirige o olhar cautelosamente em direção ao corpo... Nada... Escuridão total. Pensa em levar a mão ao corpo, mas por um instante tem receio de não encontrar nada... Acha melhor não arriscar... Quanto tempo estava ali? Não sabe dizer; o tempo ali parecia não fazer sentido... Parecia não existir. O que faria ele agora? Como sair dali? Estava completamente perdido, aturdido... Não consegue sequer formar um raciocínio lógico.

Olha ao redor, procurando algo para que possa se orientar. “Que lugar é esse?... Estou perdido”... Ou será que morri?...” Morte. De repente essa palavra lhe traz recordações de tempos passados, os quais já nem lembrava mais. Morte... Morte traz a idéia de vida após morte. Lembra de religião... De oração... Oração... Ele tenta fazer uma oração que lhe ensinaram há muito tempo. Já não se lembra mais como era. Ora então com seu próprio pensamento. Percebe neste momento que não sente medo, aliás, não sene nada. Apenas o vazio. Mas mesmo assim pense Nele em oração. Neste momento percebe movimento à sua frente. Começa a ouvir algo, como a deslocação de objetos no espaço. Sente ar tocando seu rosto e começa a se situar na imensidão. Parado ali, suspenso no espaço, ele percebe, sem nenhum espanto e como se elas já estivessem ali há mito tempo, que à sua frente se encontra numerosos pontos de luz. Aos poucos começa notar que essas luzes estão em todas as direções. Sente uma passar bem perto. Consegue se voltar e acompanhá-la com o olhar. “Como será que elas se movimentam? E o que elas representam?”

Está absorto em seus pensamentos quando algumas luzes à sua frente começam a se juntar, formando uma só, bem maior que as demais. Aproxima-se dele. Ouve algo que seria incompreensível, mas que sem saber explicar como, consegue entender.

- Siga-me!

A Luz começa a se movimentar, e ele, pela simples vontade sua, consegue segui-la. Chegam a uma plataforma, também suspenso no ar, com a borda amarelada, piso vermelho e arestas com traços em preto. Ao chegar sobre ela, sente seu corpo puxado pra baixo. Pela primeira vez, desde que se encontrava ali, sente a força da gravidade, que de início acha desagradável. À frente desta plataforma, uma escada de aproximadamente três metros de largura, descendo, formando uma leve curva à esquerda, sendo ladeada, à medida que desce, por paredes no mesmo tom da escada, vermelho, com faixas negras na vertical, retas, a cada espaço de dez degraus.

A Luz à sua frente e ele a seguindo, sem se cansar. De repente, sente que as paredes estão se afastando, à medida que desce, e ele chega ao que poderia dizer ser um largo. Escuro. Chão negro, sem cor. Consegue enxergar a pouca distância à sua frente, e isso graças à Luz que o conduzia.

Caminham um pouco para o interior deste lugar. Ele começa a ouvir sons agonizantes vindo do interior. Não consegue enxergar nada. Está muito longe e escuro. A poucos metros à sua frente consegue vislumbrar algo. Aproxima-se e percebe ser uma ponte. Só então percebe que ela está sobre um rio verde, meio borbulhante, algo que parecia ser muito ácido.

Novamente os sons agonizantes. Sentiu medo. Olha para o interior do lugar, olha a redor, não vê nada. Em seguida olha para a Luz. Diz sem pensar, quase que pra si mesmo:

- Onde estou?

- Está comigo.

Ele ouve sem esboçar interesse pela resposta, ao mesmo tempo em que divisa à sua frente uma outra luz vindo em sua direção. Passa rapidamente por eles e segue em frente. Ele nota que essa luz é acompanhada por outra muito fraca. Volta-se para o interior. Pensa em atravessar a ponte e seguir pro seu interior.

- Você é muito fraco pra ir lá.

Ele vai dar um passo à frente quando sente algo agarrar sua perna esquerda. Meio na penumbra, consegue perceber que é uma pessoa. Sente a agonia e a agitação dela. Ele coloca uma das mãos sobre a cabeça dela e, como antes, sente vontade de rezar. Desta vez a oração lhe vem à mente sem erros. Sente-se sereno, ao mesmo tempo que a pessoa aos seus pés se acalma e o solta. A Luz que o acompanha começa a se deslocar para a esquerda. De repente ele não sente mais nada sob seus pés. Voltam a flutuar e a subir.

Alcançam uma plataforma. Esta em cor amarelada, bem clara, ladeada por um muro trabalhado com curvas suaves. Atravessam por uma passagem no muro e aparecem num lugar calmo, espaçoso, bem iluminado, cheio de paz.

À medida que caminham, ele consegue ver pessoas reunidas aqui e ali. Outras correm por ali. Um lugar como tantos outros que ele já vira. Consegue sentir a paz, a tranqüilidade. Continuam caminhando. À medida que caminham, o ambiente fica cada vez mais iluminado. Chegam a uma imensa escada de mármore, que sobe. Ele tenta enxergar aonde ela vai dar. Não consegue ver nada. A luz é muito intensa. Ele pensa então em subir a escada.

- Você não está preparado.

- Preparado para o que? O que tem ali?

- Algo além da sua compreensão.

Sem insistir ele se vira pra trás, de onde ele tinha vindo. Vê apenas o espaço vazio e pontos luminosos se movimentando. Olha ao seu redor... A Luz havia se dividido nos pontos luminosos que eram antes. Não viu mais a escada. Novamente estava sem sustentação. Sentia-se mais seguro agora. Não sabia explicar o porquê. Ele ali naquela imensidão, solto, livre. Aprendera a se movimentar. Olhando todas aquelas luzes, novamente sentiu vontade de rezar. Sente-se cansado e fecha os olhos. Vira-se pr’um lado e outro. Entreabre os olhos, consegue sentir o colchão sob seu corpo. Leva a mão pro lado e sente o corpo de sua companheira. Percebe meio inconsciente que o sol demorará ainda a aparecer, vira-se pro lado, e volta ao seu sono ao mesmo tempo que seus lábios se arqueiam, sem que ele se de conta, em um leve sorriso de satisfação.

Walter Peixoto
Enviado por Walter Peixoto em 07/12/2011
Código do texto: T3377319
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