AH, À NOITE, criada pela energia colorida de um cata-vento de arco-iris

Sopram-se ventos de violinos pelos ares, que arrastavam tambores, aviões de papel e balões. As carpas emergiam da superfície do rio ao pedir por clemência ao pescado: “Oh, criatura do inferno, não faça de nossa tarde seu jantar”. Diziam em coro, harmoniosamente – vê-se que andam praticando. Cata-ventos enormes em forma de arco-íris coloriam o céu que era branco. Pequenas casas foram construídas para dar a impressão de haverem moradores, ninguém morava e nem dormia nas casas, todos viviam ao relento e dormiam sub um céu que de noite lhes era negro, cheio de vaga-lumes longínquos imóveis no céu, assim conseguiam se imaginar como as pessoas que moravam em uma cidade normal. Mas logo o dia chega e o céu se torna branco novamente. Faltava cor em metade do que era visto; pássaros meninos, flores, bois, lunetas, cana, maquinas, o chão, a água, enfim, tudo era branco com algumas pinceladas de cores mal pensadas. Mas à noite, ah, a noite. Ela é linda, tudo é lindo nessa escuridão iluminada por aqueles vaga-lumes longínquos dispersos numa imensidão negra: a única cor que não possuíam. Tudo a vota era em tons e pigmentações incríveis, sim, como se fossem moradores normais. A vaca vem prestativa, atravessa os trilhos do trem e passeia entre os pálidos colhedores de cana – eles entendem o mugido das vacas. São alucinados pela noite, todos na cidade são. Não sei se mencione, mas a noite aqui dura pouco, isso quando vem. Dona Gêspar, é a regadora mor da cidade e em seu jardim certa tarde a regar suas marigaitas, após seu chá rotineiro, observa os gigantes cata-ventos de arco-íris, pôde compreender, após já varias vezes, observando que quando as nuvens gentis sopram seus ventos de violino, giram as hélice do cata-vento, produzindo o que ela chamou de: energia colorida. Toda vez que certa quantidade de vento produzia tal quantidade de energia colorida, havia a noite, mas quando o vento não era suficiente para levantar um menino pálido em um avião de papel, o vento não será suficiente para criar a noite, mas será acumulado para os ventos seguintes. Deduziu que quanto mais energia acumulada, mais tempo a noite poderia raiar, como numa cidade normal. Tudo a volta como se fosse real, criava formas reais com cores e cores certas. As gentis nuvens sopraram com tanta força seus violinos, que nunca mais permitiu a cidade a se silenciar. Viveriam num eterno violinar. A energia colorida era vista correr pelas entranhas desta estranha cidade, onde até hoje, o dia nunca mais foi visto.

Ana Júlia Marcato
Enviado por Ana Júlia Marcato em 05/12/2011
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