Brisa Marinha Em Pote de Mel
Desci do ônibus e cruzei a estrada rumo ao ancoradouro. Ao lado de um velho tronco de árvore caído à beira do asfalto parei por um instante e revi o Hotel Angra Inn todo iluminado, ao fundo, na extremidade da praia: A areia ainda estava molhada; somente uma estreita faixa de areia, junto ao muro das casas, permanecia seca, formando uma trilha sinuosa que se estendia de uma ponta a outra, como um atalho para um lugar qualquer...
Estava escuro, silencioso, e não havia nenhuma pegada na areia para seguir. O perfume da noite que a brisa soprava era, como sempre, o perfume de uma menina que conheci. Ela estava de costas para a estrada e seus olhos perdiam-se no mar. Aproximei-me, agarrei-a pela cintura e cheirei seus cabelos. Depois, apertei-a em meu corpo, enfiei minha mão em seu decote e acariciei os seios. A menina apertou minha mão em seu seio esquerdo e, murmurando, disse o meu nome sem virar-se para trás.
Acendi um cigarro. A chama do isqueiro iluminou a palma da mão quando a fiz em forma de concha para proteger a chama da brisa. E a menina desapareceu. Restou o seu perfume ao meu redor. Sempre voltei a sentir o seu perfume em todos os lugares em que estive depois...
Na ponta oposta da praia, a lanterna vermelha do píer do Hotel Angra Inn estava acesa. Voltei a ver Hermano, Clair de Lune, Lua Rosa, Pão de mel, Piriquito e Cambuza Twist vagando pela praia, bêbados. Mais ao longe, voltei a ver a menina, cabelos ao vento, apanhando conchas. Ela saiu da praia e aproximou-se. Desta vez não disse o meu nome, apenas sorriu e desapareceu.
Acendi novamente o cigarro que havia se apagado e voltei para a estrada. Sentia o cheiro da terra molhada, da folhagem úmida a beira da estrada, do pêlo dos animais do mato e da fumaça do meu cigarro. Ouvia ruídos vindos da mata, o som do salto das minhas botas tocando no asfalto e uma cantoria de sapos no brejo cada vez mais alta. De repente, uma jaca rolou do morro, atravessou a estrada e se espatifou no barranco da margem oposta. Dobrei a curva e um gato preto cruzou o meu caminho. Não muito longe, o letreiro do Restaurante Sereia da Praia ainda estava aceso...