Para o abismo
Ariel está caminhando pelas montanhas calmamente, sentindo aquela leve brisa no rosto.
Olha ao redor e percebe que, sob nossa perspectica, o sol quase completa seu ciclo, abaixa-se pouco a pouco na linha do horizonte.
Vira-se para o lado direito, onde uma rocha termina em um precipício, e avista o que lhe parece uma silhueta humana.
Detém o passo e arregala os olhos.
Esforça-se para ver de onde está, pois a proximidade com as extremidades altas lhe causa náuseas.
O mesmo poente que lhe traz uma bela vista, é o mesmo que não lhe permite saber o que é.
Ele contrariado aproxima-se do que tenta ver.
Confome se aproxima, os contornos tornam-se formas sólidas.
É uma pessoa. Com os braços abertos.
Ele aperta o passo e uma mistura de surpresa e medo tomam-lhe a mente.
"Quer morrer?!"
O pensamento foi tão firme que a pessoa na beira do abismo vira levemente a cabeça para a diagonal de onde vem Ariel.
_ Não se aproxime.
Ariel próximo o suficiente para ouvir a voz sem que haja a necessidade de gritar.
_ Quer morrer?
_ Já estou morta. O que aqui vê é só um corpo.
_ Um belo corpo por sinal, um belo rosto, porém olhos assustados.
_ Pff, homens. Não conseguem ser sensíveis nem com uma defunta.
_ Você não é uma defunta, ao menos que pule daí _ Ariel faz uma pausa e volta a falar _ Aliás, como a vida te trouxe para cá?
_ A morte estava montada em um belo cavalo preto, com crinas sedosas e uma sela com detalhes de prata. Ela me ofereceu carona e eu aceitei.
_ E porque aceitou?
_ Estudei em um colégio interno desde que era criança. Falo sete idiomas e não conheço sequer um estrangeiro. Toco cinco instrumentos e nunca tive uma banda. Tenho três computadores, quinhentos contatos na rede social e não converso com ninguém, além daqueles meninos predadores que só querem saber de fazer sexo comigo. Tenho uma família relativamente grande e nenhum deles sabe minhas notas no colégio, quando foi meu primeiro beijo e qual a minha cor preferida. Eles rezam por pessoas que não conhecem e nunca sequer se importaram com o que eu sinto. Eles fizeram festa porque a crise no mundo fez com que eles ficassem ainda mais ricos, mas nem se importaram quando eu fui promovida para gerente do meu setor no banco, onde eles tem conta.
_ Isso é triste...
_ Aposto com você que após eu pular deste vale é que eles irão sentir minha falta.
_ Pelo menos isso.
_ Sim. Sou eu quem agendo as viagens do meu pai para o exterior. Quando ele ver que não tem nada agendado é que ele irá se lembrar de mim.
Ela vira-se para frente, contempla o horizonte, o sol que está quase para morrer, assim como ela.
_ Moço, a diferença deste sol e eu, é que amanhã ele volta. Eu não...
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