Colecionadora de palavras
Gostava de colecionar palavras. Quando pequena, tal como uma criança que acaba de receber seu presente, adorava ouvir a conversa dos pais, o modo como as palavras fluíam das suas bocas. Anotava as partes desconhecidas num papel e as guardava em um bauzinho.
Ela ainda tem esse baú, mas ao invés de armazenar as palavras que desconhece, coloca as que têm um significado especial. Seu fascínio aumentou desde a infância, agora que pode entendê-las. Ela as temia, mas percebeu que as palavras devem ser usadas a seu favor. Então as usa. Escreve todo tipo de texto: contos, poemas... E às vezes não escreve nada. Só a sensação de que pode utilizar as palavras a qualquer momento já a deixa feliz e leve.
Elas são seu sangue. Pulsam nas suas veias, são parte dela. E a menina as recebe de braços abertos, pois sabe que não seria nada sem elas. Uma dúvida agradável perdura em sua mente: ela não sabe se tem as palavras ou se elas a têm.