ANTICONCEPCIONAIS

É, né? Merda, eu sabia que não dava pra ser feliz com um carinha de 24 que vem logo falando em amor e querendo lavar meus pratos e decidir com que eu posso ou não falar, foder ou beber. Eu sabia, não sabia? Sabia sim, sabia, caralho.

Mas o fato é que nós só transamos uma vez e ele estava se separando da esposa-menina de 18 anos e estava a fim de se engatar num outro relacionamento e fez de conta que me amava por que alguém deve ter posto na cabeça dele que é legal amar uma coroa festeira e tatuada como eu. Assim, sacomé, acho que tem gente que acha que as tatuagens dizem tudo sobre uma pessoa, mas não dizem, menino, não dizem tudo não, de jeito nenhum, principalmente se forem tatuagens fodidas que se fez dez anos atrás.

Elas são parte de mim e do que sou e do que digo sem falar, mas não são tudo, é claro.

Vocês sacam aquele julgamento que todo mundo faz involuntariamente no exato instante em que conhece um novo alguém?

Pois é.

Geralmente é um perfil incompleto repleto de ideias preconcebidas que trazemos sobre determinados tipo de roupa ou de atitudes ou de bijouterias ou de jeito de dançar e de sentar e de segurar o copo com um cigarro na mesma mão e de tragar ainda assim sem derramar uma gota e segurar a fumaça e expeli-la enquanto se respira e se engole o Campari ao mesmo tempo. Sacomé?

Tudo isso que você imaginou lendo isto sobre esta personagem é um perfil incompleto.

Incompletíssimo, cara.

E eu realmente não sei em que parte da única noite que passamos juntos foi que ele resolveu que eu seria 'a' coroa que o salvaria de sua fossa de ex-marido largado por outro muito mais bonito, forte, sarado e endinheirado que foi o tipo de cara com quem a mulher dele se meteu antes de lhe avisar que o amor havia acabado. Puta.

É claro que não seria simplesmente mais uma foda, percebi isso quando ele falou assim:

_Vamos dizer que tu se apaixonasse por mim e eu fosse o teu boy...

Eu:

_Sério, cara, deixa rolar, vai...

_E daí que se eu fosse o teu boy eu poderia trazer meus amigos aqui na tua casa, tá ligada? Tua casa dá uma festa massa...

Eu:

_Ei, caalho, não vai acontecer ok? Não estou apaixonada e odeio que tragam visitas aqui.

Ele simplesmente não ouve.

_Vamos dizer, que, numa hipótese, tu comprasse um carro...

Eu:

_Kkkkkkkkkkkkkkkkkk! Certo, digamos que eu comprasse um carro, e dái?

_E vamos dizer que um dia tu me desse o carro pra eu dar uma volta, qual seria o problema de eu chamar uns caras pra tirar uma onda no carro?

Eu:

_Entedna, brotinho, eu não me apaixonei por você, faz tempo que deixei de me apaixonar, sacomé? E o carro estaria comigo, ué. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkk!

Eu deveria saber:

coroa + boyzinho = vantagens.

Eu deveria saber?

Deveria, é claro que deveria.

Mas, merda, caralho, puta que me pariu! Assim, sacomé, dava, velho, dava pra rolar, se apenas ele não tivesse aventado a hipótese.

Eu daria tudo, tudo, tudo que ele quisesse, 'se' ele tivesse me dado o que eu mais preciso, exijo e espero: Tempo.

Tempo era o que ele não tinha.

Ele precisava se apaixonar, ele queria substituir o vazio da outra, ele precisava se sentir macho valorizado que conseguiu alguém muito melhor do que ela, como ela fez com ele e com o outro.

Por que as emoções humanas são estas?

Por que precisam ser estas?

Não precisam, foi o que me demonstrou o outro carinha que eu conheci logo depois de completar 1 mês rejeitando as ligações do Paulo.

O outro cara, o broto mais nem aí que eu conheci depois dos meus 35 anos (e desde lá já rolaram zilhões de brotos) veio me olhando e perguntando com os olhos o que era aquilo e se aquilo queria alguma coisa mais do que comer caranguejos na beira-mar ao som do Fábio Rangel e de Marcelo Pantera e os Bruxos da Noite.

'Aquilo', ele me disse depois que lhe tasquei um beijo de fumaça e espuma, era eu: Aquela coroa que bate ponto aqui de tempos em tempos e que ninguém comeu.

Eu perguntei por que isso era importante e ele disse que não era mas que eu era legal e que me sacava e que sabia que eu não estava nem aí e se eu quisesse nós poderíamos ficar nem aí juntos naquele fim de tarde em que nem eu nem ele estávamos bêbados.

Olha, eu tenho que dizer uma coisa: Eu realmente não sei no que estou errando nos sinais que passo quando me sento na mesa do meu bar e peço uma cerveja e rio e danço e converso com meus garçons e bato palmas e pago minha conta e vou embora me despedindo alegremente bêbada...

Não sei mesmo.

Mas o fato é que no domingo nos encontramos de novo, e, como era imprensado do feriado da República ou sei lá que merda parecida, nos encontramos novamente na segunda-feira e, apesar de tanto tempo sem trepar, não dei pra ele nem ele pediu.

Por quê?

Por que ele não está nem aí.

Nem eu.

Amanhã, recomeço meus anticoncepcionais.

Iama K
Enviado por Iama K em 25/11/2011
Reeditado em 25/11/2011
Código do texto: T3356607
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