Descobrindo o amor a beira da lagoa

Finalmente o esperado final de semana. Amanhecera com um sol radiante, céu azul, temperatura amena e uma brisa suave. O sábado parecia dar inicio a um final de semana propício para passeios e atividades em áreas externas.

O destino de Virginia e Joel era conhecer a lagoa dos patos, (referida por alguns especialistas como Laguna dos Patos) a maior lagoa do Brasil e a segunda da América Latina, situada no Estado do Rio Grande do Sul. Tem 265 km de comprimento e uma superfície de 10000 km.

As passagens foram adquiridas com antecedência, porque queriam viajar confortavelmente no ônibus que levaria aproximadamente duas horas até a cidade de São Lourenço do sul, situada a beira da lagoa.

Exatamente duas horas depois do embarque, Joel desembaraçava as bagagens e Virginia procurava informações para chegar à lagoa. Em seguida, resolveram caminhar as dez quadras até a cabana que havia reservado à beira da lagoa. Após se instalarem confortavelmente, ainda antes do almoço, saíram para reconhecer a vizinhança.

A lagoa refletia o sol como um grande e recortado espelho na paisagem, um pequeno mirante localizado no local onde o rio se encontra com a lagoa, era um local privilegiado para observar a paisagem. A pequena faixa de areia era cercada por muitas árvores, como: coqueiros, cinamomos e plátanos, diferenciando a paisagem de qualquer outra praia que haviam conhecido. As árvores servem como um grande guarda sol natural. Os inúmeros bancos dispostos sob as árvores, atraem às famílias, jovens e casais de namorados que apreciavam o chimarrão (bebida típica do sul).

O Almoço foi na tradicional churrascaria próxima à lagoa, programa preferido entre moradores do local e freqüentadores eventuais. E, antes que voltassem à cabana para um pequeno descanso, resolveram dar uma pequena caminhada à beira da lagoa para aproveitar a sombra das árvores.

Valeram-se da tarde para conhecer o lado norte da lagoa que era a parte menos urbanizada da praia, embora, de grande beleza natural. Aproveitaram para um breve e refrescante banho, antes que retornassem ao mirante para observar o pôr do sol. Encantados com a beleza do final de tarde, decidiram tomar um sorvete e retornar a cabana para preparar um jantar especial.

O jantar foi salvo pelo amor, e quanto ao sabor, tinha a esperança que futuramente poderia ser aprimorado. Já o vinho que além de ter ajudado digerir o jantar, também contribuiu para esquentar o relacionamento e para que os sentimentos aflorassem com mais intensidade.

Virginia mais tarde resolveu tomar um banho morno pra cortar o efeito do vinho, enquanto Joel procurava distrair-se com a TV ficou pensando o quanto Virginia o encantava. Esse era o primeiro final de semana que passariam a sós, apesar de estarem namorando há mais de um ano.

Ela era tudo para ele, abandonara os amigos e o skate, suas maiores paixões até então, para viver tão somente e todo tempo possível ao lado de Virginia.

Virginia após o banho, exalara um perfume refrescante que invadira a sala, o quarto e todos os cantos da cabana, fazendo com que Joel se sentisse ainda mais embriagado, porém, resolveu escovar os dentes para tentar dormir, pois estava cansado com a viajem e de todas as atividades que haviam feitos no dia.

Ao entrar no quarto, Joel encontra Virginia sentada na cama à meia luz, com a pele levemente corada pelo sol que tomara na praia, escovava seus cabelos sedosos e dourados com movimentos suaves e delicados, parecia estar ainda mais linda. Quando percebeu Joel se aproximando, ela abriu aquele sorriso de encantamento fazendo sinal para que se sentasse ao seu lado. Ao sentar-se, sentiu novamente aquele perfume que fez beijar seus lábios suavemente e em alguns segundos os lábios se separaram lentamente, enquanto que os olhos se encontravam em um olhar penetrante.

Ele acariciou-lhe o ombro e deixou a mão escorrer pelas costas, sentindo sua pele macia por alguns instantes e em seguida a leveza e o frescor do tecido da camisola prateada que deixava à vista, seus sinuosos seios, bem como três quartos das fortes e roliças coxas. Beijaram-se novamente, porém agora, com toda a força dos seus pulmões, pareciam estar se devorando, e, quase sem respiração e entrelaçados, reclinaram-se transversalmente na cama.

Na intensidade do momento, deixaram-se conduzir pelas emoções e toda a pressão interna rompeu como uma grande explosão fizesse que o amor contido emergisse com toda intensidade.

E, foi nesse momento que os cinco sentidos ficaram totalmente despertos, o tato transmitia as mais intensas sensações já vividas, a gustação jamais sentira um sabor tão gostoso como daqueles lábios, o olfato conhecera finalmente o embriagante cheiro do amor, a visão tentava identificar algo que se assemelhasse a aquelas formas e conteúdo até então escondidos pelas vestes, enquanto a audição parecia ouvir o mais belo dos concertos musicais já executados.

Era a primeira vez que aquele casal apaixonado experimentara todos sentidos vibrassem numa só vez, era o amor se manifestando na forma mais intensa que jamais haviam experimentado. Imediatamente descobriram que haviam rompido o curso de suas vidas, agora a vida tomara outro sentido, o amor se manifestara de forma mais concreta, inabalável, robusta, assanhada e agreste, era um imensidão de sentimentos puros e que não poderiam mais viver sem eles.

Não encontravam palavras para descrever o que estavam sentindo, era uma alternância de “eu te amo”, com ”eu também muito e muito” as únicas palavras que conseguiam pronunciar. O cansaço e calor da noite davam lugar a uma incrível disposição para manifestarem seus mais íntimos sonhos, transformando-os em planos conjuntos, enquanto trocavam incansáveis carícias e constantes declarações de amor.

O tempo avançou madrugada adentro as aves canoras, que habitam a lagoa nesta época do ano, anunciavam que o alvorecer estava próximo. Sabiam que precisavam descansar, mas estavam envoltos de uma gostosa e inesgotável energia, queriam viver cada minuto daquele momento que certamente marcaria as suas vidas.

Apesar da pouca idade, já sabiam que o amor tem que ser vivido com a máxima intensidade, o maior tempo possível, que sempre é tempo de amar, contudo, deixaram-se levar totalmente por aquele sentimento.

Não havia outra coisa a fazer, pois corpo e alma estavam extasiados de amor. Deixaram o amor se revelar na medida e intensidade que se almejasse, não restando nada a fazer a não ser viver aquele amor.

O estômago e o sol convidavam para um café e um passeio na praia, antes que retornassem a Porto Alegre. Passearam na praia, ora abraçados, ora de mão dadas, mas sempre com um sorriso apaixonado, altivo e feliz.

Aquela cabana na beira da lagoa foi um marco em suas vidas, que anos depois foi adquirida para lazer da família.

Quarenta anos após aquela noite inesquecível, Joel e Virginia discutem qual a melhor forma de dispor os livros na prateleira da sala que estar na velha cabana, recém restaurada.