“LATA D D’AGUA NA CABEÇA!....LÁ VAI MARIA...LÁ VAI MARIA!...SOBE O MORRO E NÃO SE CANSA...”
 
Não é o que você está pensando, não é a marchinha de carnaval de 1952. É um acontecimento inacreditável, quando naquela região de Minas Gerais, no Vale do Mucuri, ficava meses sem chover. Aí, aquele povo humilde de um pequeno povoado clamava pelo poder divino,pedindo chuva.
Lá na colina, no ponto mais alto do povoado, uma área, do tamanho de um campo de futebol, cercada de arame e um portão único de entrada. Neste espaço, uma igrejinha, atrás, um pequeno cemitério, uma casa paroquial, aonde o padre vinha da cidade próxima, uma vez por mês, celebrar a missa. Na entrada, um cruzeiro de madeira braúna, fincado no chão, rodeado de pedras roliças. Não sei exatamente o porquê das pedras. Acho que era para sustentar a aquele crucifixo que já estava apodrecendo de tanto ser molhado.
Lá na parte mais baixa, há uns 500 metros, um córrego; local das lavadeiras de roupa. Também lugar de pegar a água de uso doméstico.
A chuva não vinha. O povo já preocupado com a seca, reunia na igreja a fim de começar uma novena e pedir a Deus e todos santos um milagre para que a chuva caísse. E assim, após aquela reunião, onde resaram o terço; mulheres, crianças e alguns homens portando latas de querosene vazias, desciam o morro até o córrego, enchiam suas latas e subiam na mesma direção cantando: Ave, Ave Maria!...Ave, Ave Maria!...E no pé do cruzeiro, derramavam a água abençoada, que lhe custara o suor, de um sol escaldante, ao subir a ladeira. E assim acontecia durante nove dias, e, no final,o milagre: o céu escurecia, trovoadas, relâmpagos e logo a chuva caia torrencialmente, para alegria dos agricultores que salvariam suas roças. Aí, o mineiro sentia-se abençoado por aquele fenômeno miraculoso que daria inicio ao inverno, ou seja, o período das chuvas daquela região.