* UMA CERTA FLOR *
- Ué! Onde está aquela flor que estava aqui neste canto? Será que algum cachorro a destruiu ou foram as malditas lagartas? Justo hoje, dia de um mês de namoro? - perguntava o rapaz a vasculhar o canto do jardim.
Sim, naquele canto havia nascido uma bonita flor. Acontece que ela não se sentia muito feliz. Tanta beleza escondida! Puxa! No meio de tanto mato! Que jardim mais mal cuidado, a custo ela havia brotado! A flor não gostava de ali estar. Considerava-se superior a outras poucas flores esparsas pelo meio do jardim. Ela mereceria estar num lugar mais vistoso, mais arrumado, pensou. Tomou então uma decisão: fugiria, iria embora dali onde reinava solitária, mesmo sendo admirada pelas pessoas que da rua a viam.
À noitinha, escapuliu pela cerca de arame farpado, e ganhou a rua. Caminhou muito, dobrou esquinas, até que vislumbrou, pela fresta de um muro, um belísssimo jardim, com vários canteiros, repleto de arbustos floridos, e grande variedade de cores e flores. Sim, seria ali. Esgueirou-se, entrou e escolheu o canteiro central para instalar-se. Ah, ali era o seu lugar, refletiu, digno de sua majestade!
Amanheceu. Ela logo abriu suas vistosas pétalas, exibindo-se por inteira. Estranhou que as outras flores, tão ou mais belas que ela, não notaram sua presença, tamanha era a profusão de espécies. Mesmo assim, sentiu-se bem; afinal, estava onde sempre achou que deveria estar.
Passava o tempo. Todas as manhãs, uma jovem colhia algumas flores e as levava para dentro da grande casa. Certamente, as colocaria em um vaso para ornamentar a sala. Acontece que aquela flor nunca era escolhida. Que injustiça! Aos poucos,ia perdendo algumas pétalas.
Certo dia, a campainha tocou. Que surpresa! Tratava-se do mesmo jovem da casa onde a flor nascera. A jovem foi ao portão recebê-lo. Ele trazia nas mãos um belo ramalhete, que entregou a ela. Abraçou-a com ternura, pois era o dia dos namorados!
-Vou já colocá-las na jarra! Que lindas!
A flor ouviu estas palavras. Caiu-lhe mais uma pétala, e, nos dias que se seguiram, ia ficando cada vez mais murcha e pálida.
Certa manhã, o jardineiro aproximou-se do canteiro e lançou-lhe um olhar estranho, dizendo:
- Esta planta está feia, quase morta. Vou substituí-la por outra.
E assim dizendo, arrancou a planta, colocando-a no carrinho de mão, junto a galhos e folhas secas, levando tudo para o lixo...
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Moral da história? Cada leitor tire sua própria conclusão...
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