Medo de Morrer
E ninguém entendia a esquisitice de Antunes. Tinha várias manias, e a principal delas era o medo de sair de casa.
- Posso morrer na rua – dizia ele.
Essas manias ou esquisitices, como dizem alguns, começaram a se manifestar na sua juventude, “Ele é muito supersticioso”, diziam alguns, “Ele é esquizofrênico, isso sim”, diziam outros.
- Antunes, vamos almoçar fora hoje? – convidava um amigo.
- Só vou se puder levar meus próprios talheres – respondia.
Na volta só entrava em casa se o passo de entrada coincidisse com o pé direito. Caso contrário, dava a volta no quarteirão até que o último passo fosse com o pé esquerdo e o primeiro pra dentro fosse com o pé direito.
Numa dessas saídas, foi com um amigo a uma cartomante.
- Rapaz, não consigo ver muito de seu futuro. Só sei que você vai morrei em um acidente.
Apavorado, saiu dali direto pra casa. Começou assim sua fobia de sair de casa. Medo de algum acidente.
E os anos foram se passando. Antunes saia de casa somente se fosse realmente necessário.
- Antunes, isso é besteira, você fica levando isso muito a sério – insistiam os amigos. A vida é pra ser vivida. Deixe essa superstição de lado.
Certo dia...
-Antunes, hoje se comemora o aniversário da cidade, vamos assistir a uma corrida de kart?
- Não. Posso morrer atropelado, respondia.
- Está bem. Não quer assistir a corrida de kart, então vamos ver as acrobacias aéreas da esquadrilha da fumaça. Eles estão na cidade e você não pode perder essa oportunidade.
- Não. Pra ir até lá preciso ir de carro e posso me acidentar.
Desistiram. Foram assistir ao espetáculo aéreo e o deixaram em casa.
Pouco depois...
Dizem que ele nem viu o que o atingiu. O barulho foi ouvido a centenas de metros, seguido de uma explosão. O ponto de impacto daquele pequeno avião de acrobacias, foi exatamente a sala da casa de Antunes, onde ele assistia seu programa preferido na TV.